Sábado, 17 de Novembro de 2018
Há catorze meses, o ex-ministro da Defesa, João Lourenço [na foto], sucedeu a José Eduardo dos Santos ao fim de trinta e oito anos na presidência de Angola. E com palavras novas, logo na tomada de posse: «A corrupção e a impunidade têm um impacto negativo directo na capacidade de o Estado e os seus agentes executarem qualquer programa de governação. Exorto, por isso, todo o nosso povo a trabalhar em conjunto para extirpar esse mal que ameaça seriamente os alicerces da nossa sociedade.»

Há catorze meses, o ex-ministro da Defesa, João Lourenço, sucedeu a José Eduardo dos Santos ao fim de trinta e oito anos na presidência de Angola. E com palavras novas, logo na tomada de posse: «A corrupção e a impunidade têm um impacto negativo directo na capacidade de o Estado e os seus agentes executarem qualquer programa de governação. Exorto, por isso, todo o nosso povo a trabalhar em conjunto para extirpar esse mal que ameaça seriamente os alicerces da nossa sociedade.»

Não foi um discurso de circunstância! Um ano depois, o presidente Lourenço libertou a economia angolana das garras da família dos Santos: exonerou Isabel da presidência da Sonangol, a petrolífera estatal, e o irmão José Filomeno da presidência do fundo soberano do país e desfez alguns contratos lucrativos que o seu antecessor tinha assinado a favor da sua prole. Entretanto, em fins de Setembro, dá-se o inimaginável: Filomeno é detido preventivamente, acusado pelo Ministério Público de associação criminosa, falsificação, tráfico de influências, burla, peculato e branqueamento de capitais.

Pepetela, o escritor angolano recentemente homenageado na Escritaria, o festival literário de Penafiel, disse que o presidente Lourenço surpreendeu, «porque fez mais do que muita gente esperava».

Também na Etiópia sopram ventos de mudança. Em Fevereiro de 2018, o primeiro-ministro, Hailemariam Desalegn, demitiu-se depois de uma onda sangrenta de protestos de oromos e amaras ateada pelos planos de expansão da capital para terrenos agrícolas oromos. A coligação que detém o poder desde 1991 chamou, em Abril, Abiy Ahmed, ex-militar doutorado em paz e segurança, para chefiar o Governo.

Ahmed é o primeiro oromo – o maior grupo étnico etíope com cerca de 40 milhões de membros – a chefiar o Governo do país. Houve alguns oromos na presidência da República, mas o cargo é cerimonial.

O novo primeiro-ministro, filho de mãe copta e pai muçulmano, levantou o estado de emergência, soltou os presos políticos, permitiu o regresso dos exilados, desbloqueou a Internet e prometeu abrir o negócio das telecomunicações à iniciativa privada.

Mais, fez as pazes com a Eritreia – Asmara e Adis-Abeba envolveram-se numa guerra fronteiriça entre 1998 e 2000 –, visitou Asmara e celebrou o novo ano copto (a 11 de Setembro) com o dirigente eritreu Isaias Afwerki na fronteira reaberta. A Eritreia, por seu turno, refez as relações com a Somália e o Jibuti.

A emergência de Ahmed na cena política etíope foi saudada como «milagre de Deus» pela população cansada dos desgovernos em Adis-Abeba e nos nove Estados da federação.

Omar al-Bashir, o presidente sudanês com mandado de captura do Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e contra a humanidade no Darfur, trocou as penas de falcão pelas de pomba da paz ao apadrinhar acordos de cessação de hostilidades entre Salva Kiir e Riek Machar, no Sudão do Sul, e as milícias anti-Balaka e Seleka que se gladiam na República Centro-Africana.

Ventos novos que geram expectativas de mudanças maiores sobretudo na Eritreia, que o regime de Afwerki transformou em campo de concentração. Sem inimigos, já não pode justificar o serviço militar obrigatório até aos 50 anos e manter o país a ferro e fogo.
José Vieira, missionário comboniano
Além-Mar, Novembro 2018