Missionários combonianos do Brasil reflectem sobre a sinodalidade na Igreja

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Sábado, 19 de Fevereiro de 2022
Por ocasião da abertura do Sínodo, os presidentes das duas uniões dos superiores gerais, masculina (USG) e feminina (UISG), dirigiram uma carta a todos os superiores gerais, convidando-os a participar activamente no processo sinodal e a criar uma Comissão, composta por duas religiosas e dois religiosos, para fazer uma síntese dos contributos recebidos e apresentá-la aos Conselhos Executivos da UISG-USG.

Os membros desta Comissão elaboraram duas perguntas, com o objectivo de guiar esta reflexão sobre a sinodalidade. Numa Igreja sinodal, que proclama o Evangelho, todos «caminham juntos»: como é que este «caminhar juntos» se realiza, hoje, na vossa Igreja/Congregação local? Quais passos é que o Espírito nos convida a dar para crescermos no nosso «caminhar juntos»?

Alguns membros da Província dos Missionários Combonianos do Brasil reuniram-se para procurar dar uma resposta a estas perguntas. A seguir, publicamos uma breve síntese das reflexões feitas pelos missionários.

Diálogos sobre a Sinodalidade

O tema começa a ser bastante debatido em nossas dioceses locais. Vem sendo apresentado nas assembleias diocesanas de pastoral, nos encontros regionais dos bispos, nos conselhos diocesanos de pastoral. Estão chegando em algumas das paróquias que acompanhamos questionários e convites ao debate. Em alguns casos, estes questionários estão sendo inculturados, a partir da realidade concreta e da situação da Igreja nos territórios particulares.

Conhecemos outras igrejas cristãs, como a Anglicana, que têm experiência de sinodalidade bem mais avançada que a nossa, com uma participação significativa dos leigos-as. Vemos que, pouco a pouco, está crescendo uma nova sensibilidade em nossa igreja também, tentando passar a uma compreensão e atuação mais “circular”. Porém, ainda se fazem necessários passos importantes de conversão, pessoal e comunitária. Um dos riscos principais é que a reflexão sobre sinodalidade se limite aos grupos de lideranças já de por si mais próximos aos quadros de coordenação da Igreja, sem envolver efetivamente “as bases”, para diminuir essa distância.

Todas as vezes que abrimos diálogo com os cristãos leigos-as, a visão de igreja e da realidade se enriquece, se complementa e aprofunda. Para nós é sempre importante compreender a fé a partir da realidade, dos desafios e das esperanças que a vida concreta nos propõe.

A VRC também corre o perigo de entrar no clericalismo, enquanto nosso desafio é viver radicalmente as promessas batismais, fugindo da tentação do poder.

Nossa Regra de Vida recorda que evangelizamos como comunidade. Porém, frequentemente trabalhamos mais individualmente que como comunidade. O comboniano que formalmente é nomeado “pároco” (exigência das dioceses em que atuamos) acaba assumindo essa representação institucional de modo individual e às vezes até individualista. Custa confrontar-se com o resto da comunidade comboniana e com as lideranças leigas. Isto acontece às vezes pela carga de responsabilidade, às vezes pela pressa de tomar decisões, outras vezes até pela busca mais ou menos explícita do poder. Assim, em alguns casos, o papel de pároco nos distancia do resto da comunidade comboniana.

Mesmo compreendendo o valor da sinodalidade numa paróquia, temos a tentação de “passar por cima” deste princípio, porque uma decisão sinodal exige tempo, reflexão, partilha e paciência. Em nossa cultura, sobretudo europeia, temos mais pressa de decidir e fazer as coisas acontecerem.

A experiência intercultural em comunidade nos desafia e frequentemente nos ajuda, porque requer e estimula mais diálogo para chegar a um entendimento comum. Por outro lado, o desafio das diferenças culturais e intergeracionais é grande e às vezes causa de conflito. Para salvar a comunhão e união entre nós, ficamos em silêncio, engolindo, ou privatizando algumas decisões.

Sinodalidade não significa simplesmente buscar harmonia e paz no grupo, mas permanecer fiéis a um projeto, a uma identidade missionária, a decisões amadurecidas e constantemente reavaliadas coletivamente. Mesmo se isso às vezes custe tempo e alguns conflitos.

Em nível provincial, há tempo dialogamos sobre mecanismos de gestão e distribuição do poder. O tema foi objeto de entrevistas individuais e coletivas, foi sistematizado na Análise Institucional e voltou a ser comentado em significativos debates nos e-mails coletivos. Houve reflexões e propostas sobre os processos de consulta, a descentralização das decisões, a transparência e comunicação do Conselho Provincial, a participação nas decisões do Conselho, etc. Em alguns aspetos avançamos e melhoramos, em outros há ainda passos a serem dados.

No Instituto, há uma dimensão sinodal particular a ser respeitada, que é a valorização dos irmãos. Ainda pervade uma mentalidade clerical, que acaba em várias situações invisibilizando os irmãos e dando destaque aos padres.

As observações acima mostram que, para traduzir em prática a sinodalidade em nossas Igrejas locais e na nossa Província comboniana, ainda se faz necessária uma profunda conversão, seja em nível pessoal, que nas relações comunitárias, na nossa maneira de coordenar a paróquia, em nossa participação na Província, na própria gestão do poder e das decisões na Província.
[Missionários Combonianos]