Dois milagres compõem a longa história evangélica deste domingo, 27 de Junho, narrada por Marcos (5, 21-43): a cura da mulher que tinha sofrido de hemorragia durante doze anos e a ressurreição da filha de Jairo.

Os pontos de contacto entre estes dois milagres são significativos: são duas mulheres; há o número “doze” que se repete em ambos os casos (a mulher estava doente há doze anos quando a rapariga de doze anos veio ao mundo); o duplo milagre acontece através do contacto físico. Enfim, a multidão é alheia aos dois prodígios e a intervenção de Jesus está sob a bandeira da sua sensibilidade à debilidade humana, sem distinção de pessoas.

Não é magia! É a extraordinária capacidade de Jesus de se aproximar, de amar e de entrar em comunhão com as pessoas na sua situação concreta de vida, mesmo que condenadas pela tradição. É a profunda harmonia afectiva que, levando a realidade das pessoas muito a sério, Jesus conseguiu transmitir a sua experiência da proximidade radical do amor do Pai. Como diz Bento XVI, só o amor salva. Quando alguém se sabe amado, recupera a sua dignidade, torna-se capaz de se levantar e de viver uma vida plena.

Nesta história, vemos como a fé de pessoas humildes, que, ameaçadas pela doença e pela morte, abrem os seus corações e a sua esperança a Deus como a única rocha de refúgio. Na minha vida missionária encontrei muitas pessoas que são como o pai da criança moribunda ou a mulher em desespero de uma doença que a humilha e destrói como mulher e como pessoa.

Perante tal situação, estas pessoas procuram uma saída: na medicina, na oração, nos bons conselhos..., onde quer que haja uma oportunidade de recuperar a sua vida ameaçada ou perdida. Muitos dizem-lhes que não há nada que possam fazer, que devem aceitar a realidade; zombam deles e da sua fé... Mas esta procura deve ser respeitada e levada a sério. E é isto que Jesus faz: a partir da sua extraordinária experiência de comunhão com o Pai da Vida, ele é capaz de entrar em comunhão com os seus filhos e filhas que atravessam momentos de especial dificuldade, ao ponto de arriscar duvidar da sua própria dignidade e de ser amado.

A partir destes encontros com Jesus, ambos os dois geradores de vida, podemos sublinhar três palavras, segundo a reflexão, publicada na Newsletter da Paróquia de Freamunde, comentando este mesmo Evangelho: “A primeira palavra é a de que Deus nos criou para a vida eterna. A segunda palavra é a de que Cristo Se fez pobre para nos enriquecer com a Sua pobreza. A terceira palavra é a de que Jesus nos manda dar de comer a quem precisa de pão para viver. Peçamos então ao Senhor que nos dê fome e sede de Deus, para O procurarmos como alimento de vida eterna! Peçamos ainda ao Senhor que nos dê um coração pobre, para O reconhecermos num bocado de Pão! Peçamos também ao Senhor que a partilha do Pão da Eucaristia faça de nós pão repartido pela vida dos irmãos.”