Neste domingo, escutamos o Evangelho de João (6, 41-51), no qual Jesus afirma: “Eu sou o pão vivo descido do céu”. Jesus não se exprime através de raciocínios, mas de imagens concretas e compreensíveis: pão, vivo, descida, céu. Quatro palavras e quatro metáforas, cada uma delas generativa, rica de movimento, de experiência, de sabor e de horizontes. É verdade que não explicam o mistério, mas fazem-no iluminar e seduzem-nos a saboreá-lo e a desfrutá-lo. “Eu sou o pão da vida”, acrescenta Jesus. Pois é, o Pão de que aqui se fala não é apenas aquela pequena porção de farinha passada pela mó do moinho e depois pela água e pelo fogo, mas é a representação de tudo o que é bom para mim e para ti, é Ele mesmo (o Pão vivo) que nos mantém vivos.

João 6, 41-51

Que alimento dou à minha vida?
Generosidade e beleza ou intolerância e insensatez?

Ermes Ronchi

Eu sou o pão vivo descido do céu. O poder da linguagem de Jesus, o seu mistério e a sua história exprimidas não com raciocínios mas por imagens: pão, vivo, descida, céu. Quatro palavras e quatro metáforas, cada uma generativa enquanto rica de movimento, de experiência, de sabor e de horizontes. Não explicam o mistério, mas fazem-no vibrar na tua vida, mistério jubiloso a desfrutar e a saborear. O pão de que se fala não é aquela mão de água e farinha passada pela mó e pelo fogo, mas tem muito mais: é o símbolo de tudo aquilo que é bom para ti e te mantém vivo.

Os judeus puseram-se a murmurar contra Jesus. Mas como? Pretendes ser o pão chovido do céu? Mas vieste como todos da tua mãe e do teu pai. Queres mudar-nos a vida? Fazendo aquilo que faz o pão com o nosso corpo, que se oculta e desaparece no íntimo, e não faz ruído. Não, o Deus omnipotente teria de fazer algo bem diferente: milagres poderosos, definitivos, evidentes, solares. Mas Deus não faz espetáculo. No fundo é a mesma crítica que também nós murmuramos: que pretensões tem sobre a minha vida este homem de há dois mil anos? Pensará Ele realmente que nos faz viver melhor?

Não murmureis entre vós. Não desperdiceis palavras a discutir Deus, podeis fazer melhor: mergulha no seu mistério. Pão que desce do céu. Nota: desce, por mil estradas, de centenas de maneiras, como o pão no corpo; desce para mim, agora, neste momento, e continuamente. Esse pão, posso relegá-lo para o repertório das fantasias, mas ele desce incansavelmente, envolve-me de forças boas. Eu estou imerso nele e ele está imerso em mim, e alimenta a minha parte mais bela.

Não murmureis, comei. O trecho do Evangelho deste domingo articula-se em torno do verbo comer. Um gesto tão simples e quotidiano, e no entanto tão vital e poderoso, que Jesus o escolheu como símbolo do encontro com Deus. Narrou a fronteira avançada do Reino dos Céus com as parábolas do banquete, da convivialidade. O Pão que desce do céu é a auto-apresentação de Deus como uma questão vital para o ser humano. O pão que comes faz-te viver, e então vives de Deus e comes a sua vida, sonhas os seus sonhos, preferes aqueles que Ele preferia. Dentada de céu.

Surge uma pergunta: de que coisa alimento alma e pensamentos? Estou a comer generosidade, beleza, profundidade? Ou nutro-me de egoísmo, intolerância, miopia do espírito, insensatez do viver, medo?

Se acolhermos pensamentos degradados, estes tornam-nos como eles. Se acolhemos pensamentos de Evangelho e de beleza, estes transformar-nos-ão em guardiães da beleza e da ternura, o pão que salvará o mundo.
Ermes Ronchi
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins