Quinta-feira, 18 de Maio de 2017
Foi o que aconteceu no domingo passado, dia 14 de Maio de 2017. O bispo de Bangassou, o espanhol Juan José Aguirre Muñoz [na foto], saiu da mesquita do bairro muçulmano de Tokoyo, onde tinha negociado a libertação de mais de mil pessoas aterrorizadas que se refugiaram no interior da missão católica. De repente, vários guerrilheiros, que atacaram a cidade no dia anterior, abriram fogo. Dom Aguirre, missionário comboniano, saiu ileso, mas uma pessoa – fala-se do Imam da mesquita –, que estava ao seu lado, caiu morto ainda antes de cessar o tiroteio.

O inferno desceu sobre Bangassou, uma cidade localizada a 700 quilómetros a leste de Bangui, durante as primeiras horas de sábado, dia 13, quando cerca de 600 jovens guerrilheiros bem armados atacaram a base da ONU perto do aeroporto, e os bairros habitados por muçulmanos.

Até este momento o número total de mortes é desconhecido, porque a Cruz Vermelha não tem sido capaz de mover-se livremente, mas é muito provável que estejamos falando de dezenas de mortos . Há pouco mais de 3.000 habitantes de Bangassou ter cruzado o rio para se refugiar na vizinha República Democrática do Congo. Um soldado da ONU marroquino foi morto e outro gravemente ferido.

Comandos portugueses participaram no resgate do bispo
na República Centro-Africana

Os Comandos portugueses, que estão na República Centro-Africana ao serviço das Nações Unidas, participaram no salvamento do bispo de Bangassou, Juan José Aguirre Muñoz, informa o jornal espanhol “Religión Digital”. Dezenas de pessoas foram mortas durante um ataque no domingo passado, quando o clérigo espanhol ajudava milhares de muçulmanos a refugiarem-se na catedral e no seminário local. O monsenhor Aguirre, missionário comboniano, saiu ileso do ataque, mas a pessoa que ia ao seu lado foi atingida por disparos e morreu.

O clérigo espanhol tem feito a protecção de milhares de muçulmanos perseguidos pelas milícias locais naquela região do país, a cerca de 700 quilómetros da capital Bangui. Contactado pela Radio Renascença, o Estado Maior General das Forças Armadas não confirma nem desmente a intervenção da força portuguesa nesta operação em concreto, mas admite que a força nacional destacada na República Centro-Africana tem tido uma actividade operacional intensa naquele teatro de operações.

Confirma ainda que os comandos portugueses, por serem uma força de reacção rápida, são os primeiros a serem projectados para resolver uma situação de crise. Nesta altura, os comandos portugueses já estão de regresso à base de Bangui para fazer o reabastecimento e ficar em “stand by” para nova projecção.

A força destacada na República Centro-Africana é composta por 160 militares, dos quais 90 comandos, esteve envolvida num intenso combate contra um grupo de rebeldes armados, conseguindo travar o seu deslocamento em direcção a uma importante cidade, Bambari. Foi a primeira vez que a força portuguesa esteve numa situação de combate directo desde a sua chegada àquele país, em Janeiro.

O processo de paz na República Centro-Africana está a ser controlado pela força das Nações Unidas, a Minusca, onde os comandos estão integrados. Este trabalho da força portuguesa mereceu um louvor pelo comandante da Minusca.

Ainda em declarações à Radio Renascença, Ana Franco Sousa, uma voluntária portuguesa dos Médicos Sem Fronteiras, confirma o ataque em Bangassou.

“A informação que eu tive foi que o bispo foi à mesquita, tentou salvar e salvou bastantes pessoas, levou alguns feridos para um hospital dos Médicos Sem Fronteiras. Depois começaram tiroteios e eu não tenho informação do que aconteceu a seguir. As comunicações com Bangassou não estão muito fáceis.”

Ana Franco Sousa saiu da cidade antes da chegada dos militares portugueses e esta é a última informação que recebeu: “No dia 5 de Maio, eles ainda estavam em Bambari. A Minusca tinha informado que ia reforçar o batalhão deles, porque ele estavam com um batalhão só de 150 pessoas, e queriam reforçar para cerca de 700, mas o reforço não foi feito até eu me ir embora”.

A voluntária portuguesa da organização Médicos Sem Fronteiras diz que, depois de três anos de paz, Bangassou está agora completamente destruída. “Queimaram casas, destruíram lojas. Não sei se isto se deve à Minusca ter intervindo, mas ontem os tiroteios foram mais suaves e conseguimos pôr uma clínica móvel na missão católica, onde estão cerca de 200 refugiados, e outros 250 na mesquita”, conta Ana Franco Sousa. A voluntária explica que o maior problema são os feridos que não conseguem aceder a cuidados médicos, devido às condições de segurança.