Conheci o P. Valeriano em 1966 quando cheguei àquela que então era a Prefeitura Apostólica de La Paz, na Baixa Califórnia Sul, México. Segundo a práxis missionária daquele tempo, com poucos missionários ocupávamo-nos do maior número possível de aldeias. Por isso, na maior parte das missões havia só um missionário. A primeira experiência de quem acabava de chegar era de solidão, de deserto, de dispersão, tanto em sentido geográfico como humano. Ao P. Valeriano tocou a parte mais dura e desoladora. Foi enviado como pároco para La Puríssima, uma comunidade situada a 300 km a norte de La Paz. A gente era pouca e dispersa por uma vasta zona de catos, com vias de comunicação precárias ou inexistentes.
O P. Valeriano chegou àquelas terras desérticas da Califórnia em finais de 1951, no vigor dos seus 30 anos, acabado de ser ordenado sacerdote, com o perfume do carisma nas suas mãos e nos olhos a verde imagem da sua terra natal, a Toscana, Itália, que o ajudaram a superar o impacto e a dar o salto em frente como missionário: «Deixa a tua terra e vai para a terra que Eu te indicar» (Génesis 12). Valeriano viu aquela terra e aí permaneceu durante muitos anos semeando a Palavra na esperança e aguardando com paciência que florescesse e maturasse a messe.
Trabalhou também em diversas outras missões da Prefeitura, entre as quais Santa Rosalia, onde deixou a marca mais forte, entre os mineiros. Aí pôs a render toda a sua capacidade de veterano militante da segunda guerra mundial, num batalhão do exército italiano, que estendia a loucura hitleriana até à Grécia através dos Balcãs.
O interior da República mexicana conheceu o seu activismo e o seu ímpeto missionário nos seminários e na missão de Chinantla, sobretudo em Tuxtepec, onde as suas linhas pastorais se chocaram com novos ventos que sopravam sob o impulso das gerações conciliares. Mas a sua posição teológica permaneceu firmemente fiel aos ensinamentos da Igreja.
Próximo dos 70 anos e, precisamente, em 1987, foi enviado a trabalhar naquela que hoje é a província do Centro-América. A sua presença foi relevante em S. José, capital da Costa Rica, na paróquia da Sagrada Família, num bairro periférico da zona sul. A sua actividade pastoral permaneceu ligada aos começos de um lar diurno para os idosos.
De S. José passou para S. Salvador com o P. Vincenzo Turri, que tinha iniciado uma presença comboniana em El Salvador, arrendando uma casa na zona Satélite. Além de ajudar na pastoral da paróquia, o P. Valeriano assumiu o cuidado de um bairro abandonado do ponto de vista social e religioso. Lançou-se na organização de uma reitoria pastoral, tirando proveito da experiência adquirida e custou-lhe deixá-la quando o arcebispo D. Rivera y Damas, acolhendo o nosso pedido, nos confiou a paróquia de Cuscatancingo.
O P. Valeriano coroou a sua actividade apostólica com a construção de uma capela ao Sagrado Coração, num bairro da paróquia de Nuestra Señora de los Milagros, na Cidade da Guatemala. Era uma zona marginalizada, de gente afastada e indiferente, onde os grupos protestantes eram muito activos. Aqui, a sua dedicação pastoral chegou ou topo. Onde quer que fosse, patrocinava aquilo que se poderia definir uma geminação entre famílias. Para cada família necessitada na zona, encontrava uma família em Itália disposta a adoptá-la e a ajudá-la economicamente.
O apoio passava de uma família à outra só através dele. Este facto trouxe-lhe também alguns problemas, apesar de resolver muitos outros. Dizia que a caridade deve ser concreta e visível.
O P. Valeriano tinha um temperamento sereno, humilde e jovial. Era um homem bom, e isso tornava-o próximo das pessoas e tolerante face aos limites e defeitos das gentes. Identificado com a sua vocação missionária e com o Instituto Comboniano, mostrava uma espiritualidade vivida na tolerância e na fidelidade. Passou os últimos anos da sua vida na sua terra, a Itália, onde Deus o chamou a si aos 96 anos de idade.
(P. Gianmaria Piu, mccj).