Segunda-feira, 17 de Janeiro de 2022
A Ir. Carla Mora, missionária comboniana, conta-nos as alegrias e desafios do seu serviço missionário dedicado aos mais vulneráveis como enfermeira em Moçambique: “Sou religiosa missionária, mas também sou enfermeira especializada em obstetrícia, o que considero um grande dom que Jesus me deu. Gosto muito do meu trabalho e sou feliz nesta terra. Fico feliz ao ajudar as pessoas, especialmente as pacientes que encontro todos os dias. Nelas vejo a esperança e resiliência deste povo.”

Estou em Moçambique há quase quinze anos, país onde estou a servir como missionária no meio deste povo e desta terra gloriosa. Sou originária da Costa Rica e quando era muito jovem, movida por Deus, decidi seguir Jesus como irmã comboniana, de acordo com o espírito e o carisma de São Daniel Comboni, um homem com uma grande paixão por Deus e pela missão. O seu exemplo de dedicação generosa e total aos africanos é, para mim, uma grande inspiração, que me guia e acompanha até aos dias de hoje.

Abraçar esta vida não foi fácil, porque seguir Jesus implica renúncia, adesão, fidelidade e, acima de tudo, muita fé Naquele que me chamou. Como irmã, vivo a minha vocação em total disponibilidade para Jesus Cristo, não obstante as minhas fragilidades e fraquezas, deixando-me guiar pela sua voz e pelo que Ele quer de mim. É uma força interior difícil de explicar, mas que me ajuda, cada dia, a doar-me generosamente com alegria e amor.

Servir os mais pobres

A realização da minha vocação como missionária comboniana em Moçambique tem sido marcada por vários momentos, alguns bons e outros não tão positivos. Neste momento, trabalho no hospital de Mangunde, no Centro do país, não muito longe da cidade costeira da Beira. Também colaboro na paróquia, acompanhando jovens estudantes no colégio interno.

Sou religiosa missionária, mas também sou enfermeira especializada em obstetrícia, o que considero um grande dom que Jesus me deu. Por meio da minha profissão posso ir onde nunca imaginei ir e fazer coisas que nunca pensei poder fazer. Gosto muito do meu trabalho e sou feliz nesta terra. Fico feliz ao ajudar as pessoas, especialmente as pacientes que encontro todos os dias. Nelas vejo a esperança e resiliência deste povo. Todos os dias descubro como os Moçambicanos são grandes e maravilhosos. Admiro a sua força, capacidade e tenacidade para enfrentar a vida, que nestas terras não é nada fácil, e reconheço neles a presença de Deus. Da minha parte, com as minhas palavras e acções, quero transmitir-lhes o mesmo amor que recebi.

Sinto sempre que a nossa vida está nas mãos de Deus. O trabalho que faço centra-se, na maioria dos casos, no acompanhamento das mulheres durante a gravidez e, sobretudo, no momento do parto, para que os seus bebés possam nascer nas melhores condições possível. Para dizer a verdade, aqui presenciamos realmente milagres! No nosso hospital não temos condições médicas para poder ajudar os bebés e as suas mães e, por vezes, as situações tornam-se dramáticas. Em muitas ocasiões, porém, tocamos a mão auxiliadora de Deus e conseguimos salvar vidas que pareciam perdidas. Os doentes com sida e tuberculose também acodem ao nosso hospital, alguns deles em muito más condições, no entanto, com a nosso cuidado e os medicamentos apropriados conseguimos salvar muitos. Este, sem dúvida, é também outro desses milagres diários que aqui testemunhamos.

A vida é bela

Neste canto de Moçambique vivo e experimento as palavras que Jesus disse aos seus discípulos: «Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos». Estas palavras ressoam no meu coração todos os momentos do dia ou da noite, e dão-me força e motivação para estar sempre disponível, como irmã missionária e enfermeira, para as necessidades das pessoas que Jesus colocou no meu caminho, especialmente os doentes e as mulheres que vêm dar à luz. 

A vida é bela e vale a pena vivê-la ao serviço dos mais pobres e abandonados. Aceitei com alegria, seguindo as pegadas do nosso fundador, São Daniel Comboni, fazer causa comum com o povo de Moçambique.  

Ir. Carla V. Mora, comboniana
Revista “Além-Mar”, Janeiro 2022, pp. 44-45