Às três parábolas do Reino dos três últimos domingos, se seguem, para as próximas duas semanas, duas controvérsias entre Jesus e seus adversários, os fariseus: a primeira (deste domingo) sobre o imposto pago a César e a segunda (domingo próximo) sobre o maior mandamento. Em Jerusalém, onde se aproxima a condenação e a morte de Jesus, vemos que os fariseus estão indispostos e procuram um meio para prender Jesus.

A quem é que eu pertenço?

Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus!
Mateus 22,15-21

Hoje a Igreja celebra o Dia Mundial das Missões. A mensagem do Papa para este Dia, convida-nos a reflectir sobre a narração evangélica dos dois discípulos de Emaús, a partir de três imagens sugestivas: “corações ardentes pelas Escrituras explicadas por Jesus, olhos abertos para O reconhecer e, como ponto culminante, pés ao caminho. Meditando sobre estes três aspetos, que traçam o itinerário dos discípulos missionários, podemos renovar o nosso zelo pela evangelização no mundo de hoje”.

Recordamos certamente que, nos três últimos domingos, Jesus contou três parábolas aos chefes dos sacerdotes e aos fariseus: a dos dois filhos enviados para trabalhar na vinha, depois a dos vinhateiros assassinos e, por fim, a dos convidados para as bodas. As três parábolas eram dirigidas contra os líderes religiosos e políticos de Israel. A tensão foi crescendo e o destino de Jesus foi selado. Todos se tinham virado contra ele e os chefes tinham decidido matá-lo. Só faltava o pretexto. Então, “os fariseus reuniram-se para deliberar sobre a maneira de surpreender Jesus no que dissesse”.

1. Uma armadilha bem montada!

“Enviaram-Lhe alguns dos seus discípulos, juntamente com os herodianos”.
Herodianos e fariseus eram adversários, mas unem-se contra Jesus. Os herodianos queriam unificar o país sob a égide de Herodes, vassalo de Roma. Os fariseus, pelo contrário, embora moderados em relação aos zelotas, independentistas radicais, aspiravam à autonomia em relação a Roma.

Os fariseus, porém, não se atrevem a ir ter eles próprios com Jesus e enviam os seus discípulos. Porquê? Para esconder a sua jogada? Para a fazer passar por uma questão de debate de escola? Estes discípulos começam por tecer um longo elogio ao “Mestre”, reconhecendo a sua veracidade e imparcialidade, antes de apresentarem a pergunta combinada com os herodianos: “Diz-nos o teu parecer: É lícito ou não pagar tributo a César?”. A armadilha estava bem montada. Se Jesus respondesse “sim”, antagonizaria o povo, que odiava os romanos. Se respondesse “não”, poderiam acusá-lo de subversão (o que, de qualquer modo, fariam perante Pilatos: cf. Lucas 23,2).

2. Jesus, mestre do discernimento

Na resposta de Jesus, vislumbro, apesar da sua brevidade, uma grande lição de discernimento e, concretamente, quatro indicações preciosas para nós.

1) “Hipócritas!”
Primeiro passo: Jesus mostra-se uma pessoa livre, como aliás os seus adversários já tinham reconhecido. Não se deixa cooptar pela adulação farisaica e desmascara a hipocrisia deles. O “incenso” pode turvar os olhos e a mente! E é aqui que nós tropeçamos muitas vezes. Deixamo-nos condicionar pelo elogio ou pela opinião dos outros, o que limita a nossa liberdade e clarividência. Jesus discerne porque é livre e é livre porque discerne!

2) “Porque Me tentais?”
Muitas vezes, Jesus responde a uma pergunta com outra pergunta. Fazer perguntas a quem as faz é uma forma de envolver a própria pessoa e de a fazer refletir. Uma abordagem passiva dos problemas tem sido uma das grandes deficiências dos leigos católicos, fruto de um clericalismo que prevaleceu durante séculos. O padre tinha-se tornado uma espécie de atendedor automático. O leigo cristão introduzia a moeda da “pergunta” e recebia a resposta pronta, pré-embalada. E nós prestávamo-nos a esse jogo! Infelizmente, esta era também a atitude da Igreja perante a sociedade até há algumas décadas atrás. Esta pretensão de ser a “mestra”, sempre e em qualquer assunto, parece-me ser uma das principais causas do atual descrédito da Igreja no contexto da cultura ocidental.
Parece-me, pelo contrário, que é urgente aprender a saber dizer: “Não sei!”, reconhecendo a nossa incompetência perante a complexidade e a novidade de tantas situações problemáticas do mundo atual e colocando-nos numa atitude humilde de procura.

3) “Mostrai-Me a moeda do tributo. Eles apresentaram-Lhe um denário, e Jesus perguntou: De quem é esta imagem e esta inscrição? Eles responderam: De César”.
Eis o terceiro passo de Jesus para discernir esta questão espinhosa, aparentemente sem saída: ir à situação concreta! Este gesto de Jesus desconcerta os seus interlocutores. Porquê? O denário, a moeda de prata mais comum, trazia a efígie do imperador romano, Tibério (14-27 d.C.), representado como um deus, com a inscrição: “Tibério César Augusto, filho do divino Augusto”; e no reverso: “Pontífice Máximo”. A utilização da moeda era um reconhecimento implícito da soberania romana. Mas havia algo muito mais grave. A discussão tinha lugar no interior do Templo de Jerusalém, onde era proibida a introdução de qualquer imagem, quanto mais a do César, representado sob a forma de um deus! No Templo circulava uma moeda especial e, para isso, havia cambistas à entrada. Os discípulos dos fariseus transgrediram esta regra, introduzindo uma moeda pagã no espaço sagrado do Templo. Assim, aqueles que queriam tecer uma armadilha a Jesus, são eles próprios apanhados em flagrante.

4) “Então, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus!”
O quarto momento de discernimento é um convite a sair do âmbito estreito da situação concreta para a ver de uma forma mais ampla e com um horizonte mais alargado. Uma “questão” isolada e absolutizada torna-se uma verdade falaz ou parcial. Só uma luz exterior mais ampla a coloca na devida perspetiva.

“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” é uma das frases mais famosas do Evangelho, mas também uma das mais enigmáticas. É frequentemente interpretada como se houvesse duas esferas autónomas de responsabilidade. O “César” ocupa-se das “coisas terrenas” e Deus das “coisas espirituais”! Mas o que é que “pertence” a César? Pertence a responsabilidade pela ordem e pela paz social e de garantir a liberdade e a justiça! E o que é que pertence a Deus? Tudo! “Eu sou o Senhor e não há outro; fora de Mim não há Deus… Eu sou o Senhor e mais ninguém!” (ver primeira leitura, Isaías 45,1.4-6). Toda a autoridade terá de responder perante Deus pelo bem do homem que lhe é confiado: “Eu te cingi, quando ainda não Me conhecias!” (primeira Leitura). É por isso que o cristão nunca pode abdicar do seu livre arbítrio, do respeito pela sua consciência e da sua capacidade crítica. “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens” (Actos dos Apóstolos 5,29).

Uma pergunta que todos devemos fazer a nós próprios é precisamente esta: a quem é que eu pertenço? A uma família, a uma profissão, a um grupo social, a um povo, a uma nação? Sem dúvida! Mas Jesus recorda-nos a nossa pertença fundamental: Tu pertences a Deus!

3. O denário de César e a moeda de Pedro

O denário de César trazia a sua imagem como marca da sua propriedade. O homem, criado “à imagem e semelhança de Deus” (Génesis 1,26-27), traz no seu espírito a marca da sua pertença ao Senhor. De aí a afirmação de Jesus: “Dai a Deus o que é de Deus!”

Permiti-me uma imagem ousada. O denário do imposto a César leva-me a pensar na moeda que Pedro, por instrução de Jesus, extrai da boca do peixe para pagar o tributo do Templo (Mateus 17,24-27). Uma única moeda para Jesus e para Pedro, ambos associados nessa moeda. Que imagem simbólica trazia essa moeda? A imagem de Cristo na frente, a de Pedro no seu reverso! A imagem de Cristo de um lado da moeda e a tua ou a minha do outro lado! Tu pertences a Cristo e Cristo pertence-te a ti. “Tudo vos pertence, mas vós pertenceis a Cristo e Cristo pertence a Deus” (1 Coríntios 3,22-23).

Para uma reflexão pessoal

Convido-vos a ler a bela e inspiradora mensagem do Papa para o Dia Mundial das Missões.

P. Manuel João Pereira, Comboniano
Verona, Outubro de 2023

Mateus 22,15-21

Um Messias como não se esperava
Marcel Domergue

Deus e César

Não seria correto acreditar que a passagem do evangelho que lemos hoje seja por si mesma evidente e sem nenhum problema. Pois ela, de fato, reúne algumas das questões mais embaraçosas que atualmente se põem aos cristãos: tem a nossa fé alguma coisa a dizer com respeito ao funcionamento das nossas sociedades laicas? Não será a «religião» um assunto totalmente privado? À primeira vista, Jesus parece manifestar-se neste sentido. Problemas de impostos, de legislação social etc. não dizem respeito à fé. Certa vez não disse ele que ninguém o estabelecera para ser juiz ou árbitro de nossas heranças (Lucas 12,13)? Digamos que, nas coisas e no desenrolar dos acontecimentos, há uma lógica que, para ser exercida, não carece de nenhuma referência a Deus. Logo adiante veremos o sentido que é preciso dar a esta afirmação. Mas devemos admitir que pessoas que nunca ouviram falar de Deus nem do Evangelho podem tomar decisões e levar toda uma vida conforme a justiça e a verdade. Assim, pois, sem que o saibam, são autênticos filhos de Deus. Não há necessidade de vivermos com o nariz sempre para cima, esperando que Deus nos venha inspirar em decisões sempre conformes à sua vontade, vontade que, em tal contexto, se põe como mítica. As coisas falam por si mesmas e submeter-se ao real equivale a submeter-se a Deus. César é o gestor – em princípio, justo – da nossa vida social. No horizonte, podemos ver aí a separação entre Igreja e Estado.

Lei de Deus, lei do que é humano

Percebemos que o que acaba de ser dito é um pouco sumário. Corremos de fato o risco de imaginar dois domínios totalmente separados: de um lado, o universo da fé; e, do outro, um universo totalmente profano. Mas como pensar que seja lá o que for possa escapar de Deus? Seria o mesmo que admitir não ser Deus o criador de tudo o que existe! Não ser Ele a fonte única do real! Ou que existissem coisas que lhe escapassem e que, por consequência, não fossem nem ilustração (imagem) nem revelação do que Ele é. Ora, as coisas todas falam de Deus, conforme nos explica Paulo na Carta aos Romanos 1,20, acompanhando Sabedoria 13. Nada escapa à sua Lei. Numa outra linguagem, digamos que nada pode existir sem se construir segundo o Amor. Muito abstrato tudo isso? Não acreditamos, porque encontramos aí a fonte e a justificação de todo o trabalho dos crentes, tendo em vista uma sociedade mais justa. Mas, para que isso soe verdadeiro, devemos dizer que não há valores especificamente cristãos ou, antes, que estes valores somente são cristãos na medida em que, ao mesmo tempo, são humanos, o que nos põe no mesmo nível de todos os homens de boa vontade. César não teria poder algum se não lhe fosse dado «do alto» (João 19,11), mas deve-se confiar em seu julgamento e decidir com liberdade, para agir segundo Deus. Então, dando a César o que é de César, neste mesmo ato, damos a Deus o que é de Deus.

Deus nos vem também por César

Podemos concluir de tudo isso que devemos trabalhar para que as nossas sociedades se construam sobre o amor, assim como nos foi revelado em Cristo, mas sem que usemos argumentos de fé, de religião ou, resumindo, de qualquer vontade de Deus. Estamos a serviço de Deus servindo os outros, mas não podemos nos servir de Deus para nos justificar e impor as nossas escolhas. Isto seria fazer de Deus o instrumento da nossa dominação: não temos sabido sempre evitar esta perversão e muitas vezes temos confundido soberania de Deus com soberania da Igreja. O anticlericalismo é fruto direto do clericalismo. Deus pode muito bem cumprir a sua obra de amor pela ação dos não crentes. É o que nos revela a primeira leitura. Vemos aí que Ciro, rei dos Persas, ignorando tudo da fé de Israel, foi quem cumpriu o desígnio de Deus, restabelecendo o povo escolhido em sua soberania. O texto o chama de «consagrado», ou seja, «ungido», palavra que pode ser traduzida por «cristo». Deus tomou-o pela mão direita e o chamou por seu nome. Podemos dizer que Ciro, o pagão, é uma figura de Cristo. Por certo, este homem acredita simplesmente fazer o que é o bem. Eis porque Deus passou por ele. Deus revela assim que está ativo até mesmo aonde não se esperava. «Embora não me conheças, eu te cinjo, a fim de que se saiba desde o nascente do sol até o poente que, fora de mim, não há ninguém» (Isaías 45,5).

Nós somos imagens de Deus!
Raymond Gravel

Às três parábolas do Reino dos três últimos domingos, se seguem, para as próximas duas semanas, duas controvérsias entre Jesus e seus adversários, os fariseus: a primeira (deste domingo) sobre o imposto pago a César e a segunda (domingo próximo) sobre o maior mandamento. Em Jerusalém, onde se aproxima a condenação e a morte de Jesus, vemos que os fariseus estão indispostos e procuram um meio para prender Jesus. Mas Jesus não permite e podemos dizer hoje que ele lhes devolve na mesma moeda: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21). Não devemos esquecer que este texto de Mateus, assim como todos os outros, foi escrito depois da Páscoa, à luz da fé pascal, para uma comunidade cristã que certamente vivia em conflito com os romanos, mas especialmente com os judeus que consideravam o cristianismo uma seita temível e perigosa.

1. A controvérsia. Para compreender a controvérsia de hoje, temos que explicar o que é o imposto pago ao imperador, o tributo a César… Estamos na Judeia, uma província de Roma, no primeiro século da era cristã. As pessoas estavam sobrecarregadas com impostos. Havia um imposto que era cobrado para o rei Herodes, outro para o Templo de Jerusalém e os sacerdotes e um outro para o imperador de Roma, além de alfândegas, impostos e pedágios que todos os judeus tinham que pagar… E pior ainda, quando o imperador de Roma, César Augusto se divinizou a si mesmo, ele mandou inscrever na moeda: “O Divino César’, o que chocou alguns líderes judeus que se recusaram não apenas a pagar o tributo a César, mas até mesmo de usar sua moeda. No tempo de Jesus, havia os herodianos e os saduceus que mantinham boas relações com Roma; portanto, a moeda do império circulava pela Judeia. Por outro lado, os fariseus e os zelotes se opunham firmemente a isso… O que envenenava as relações entre Roma e a Judeia.

Esta situação nos permite compreender a cena do evangelista Mateus, onde vemos Jesus sendo questionado pelos discípulos dos fariseus, juntamente com os herodianos: “É permitido pagar o tributo a César, sim ou não?” (Mt 22, 17). A pergunta é realmente uma armadilha: quer Jesus responda sim ou não, ele se enrosca de uma ou de outra maneira. A fórmula: “É permitido…’, é a fórmula clássica para a observância da Lei de Moisés. Se Jesus responde que sim, isso significa que ele está em conluio com os romanos, que idolatram o imperador; mas se ele responde que não, isso significa que ele convida à desobediência e incentiva movimentos extremistas como os zelotes à revolta contra a ocupação romana.

Portanto, a resposta de Jesus é uma inversão da situação: ao pedir para ver uma moeda, ele arma uma armadilha, por sua vez, para os fariseus e os herodianos; ele desmascara sua hipocrisia, já que eles utilizam a moeda do imperador que eles carregam consigo, contra eles. Ele lhes disse: “De quem são esta efígie e esta inscrição?” (Mt 22, 20). Eles devem, portanto, responder à sua própria pergunta… E para mostrar que a política, o poder e o imperador não tinham nada a ver com Deus, Jesus acrescenta: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21).

A mensagem é esta: se a imagem cunhada na moeda é do próprio César, isso significa que a moeda pertence a César. Mas se nós seres humanos somos à imagem de Deus, isso significa que nós somos de Deus… Somos rostos de Deus. Pela dupla sentença: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é Deus”, Jesus desdiviniza o imperador e dessacraliza a sua moeda, e reconhecendo seu valor e devolvendo-o à sua própria responsabilidade. Ao mesmo tempo, Jesus afirma que o imperador não é contrário a Deus… O que pertence a Deus é de Deus e César não tem nenhum poder sobre isso.

2. Nossa dupla realidade humana. Infelizmente, muitas vezes este texto de Mateus foi usado para justificar a separação entre a Igreja e o Estado, entre a religião e a política, como se se pudesse separar completamente a dimensão espiritual e a dimensão material da nossa realidade humana. É verdade que as religiões não têm de impor seus pontos de vista às sociedades civis em sua visão sobre o mundo e sobre o modo de viver em sociedade. No entanto, as religiões podem dar as suas opiniões, interpelar as pessoas, propor um ideal evangélico… mas se o fizerem devem fazê-lo no respeito a cada um: sem julgamentos, sem condenações, com o cuidado da justiça, da equidade, da igualdade na dignidade em vista da Paz e da harmonia entre nós.

A este respeito, penso que a fé cristã influenciou muito as nossas sociedades ocidentais. É justamente esta influência religiosa que está na origem da Carta dos Direitos e das Liberdades, e que permite às minorias serem reconhecidas e respeitadas pela maioria. Entretanto, se as religiões se opõem à evolução dos povos e das sociedades e se elas julgam e condenam a novidade, isso significa que as religiões são contrárias ao ideal evangélico, proposto por Cristo que os líderes religiosos dizem representar. Neste caso, certamente não deveria surpreender o fato de que os religiosos sejam criticados, abandonados e até mesmo rejeitados pelos cristãos e cristãs de hoje.

Na segunda leitura, São Paulo, em sua primeira carta aos Tessalonicenses (por sinal, é o texto mais antigo do Novo Testamento escrito em Corinto aproximadamente no ano 51 d.C.), nos lembra que a vida cristã repousa sobre três pilares: a fé, a esperança e o amor. Ele diz: “Sem cessar, conservamos a lembrança de vossa fé ativa, de vosso amor sacrificado e de vossa perseverante esperança, que nos vêm de nosso Senhor Jesus Cristo, diante de Deus nosso Pai” (1Ts 1, 3). Se nós nos apoiarmos nestes três pilares da fé cristã, o Evangelho que proclamamos não será uma simples palavra, mas um poder, uma ação do Espírito Santo, uma certeza absoluta (1Ts 1, 5): ela é a Palavra de Deus.

Apoiar-se sobre estes três pilares da fé cristã é ver o mundo de forma diferente; isso dá uma qualidade de ser e de agir que promove a justiça e a paz. Isso humaniza a sociedade e as pessoas que a compõem, e possibilita a universalidade e a pluralidade em nosso mundo. Assim, a Palavra de Deus não é simplesmente um texto bíblico que podemos ler e reler todos os domingos; é uma Palavra que expressa a fé, a esperança e a caridade da Igreja na sua realidade histórica e teológica. O que era verdade para a comunidade de Tessalônica, também é verdade para as comunidades cristãs de hoje.

Concluindo, a laicidade não significa que um cristão não deva exercer uma função política na sociedade civil. Pelo contrário, ele pode fazê-lo, mas deve fazê-lo no respeito pelos outros que não compartilham a sua fé. Ser cristão não é impor uma fé aos outros. Ser cristão é dar testemunho de sua fé e esperança aos outros; é a única maneira de fazê-los querer crer e esperar. Sobre o Evangelho de hoje, Santo Agostinho dizia: “Do mesmo modo como César busca a sua imagem em uma moeda, Deus procura sua imagem na sua alma. Dai a César, diz o Salvador, o que pertence a César. O que César exigiu de ti? Sua imagem. O que o Senhor pede de ti? Sua imagem. Mas a imagem de César está em uma moeda, a imagem de Deus está em ti.”

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