Papa Leão XIV: uma Igreja unida pela paz e contra uma economia que marginaliza pobres

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Segunda-feira, 19 de Maio de 2025
O Papa Leão XIV disse este domingo desejar uma Igreja “unida” para responder aos desafios colocados pelas desigualdades e os conflitos que marcam a humanidade. Perante muitos líderes mundiais, a paz e a crítica a uma economia que faz da depredação dos recursos e da marginalização dos pobres foram importantes sublinhados do Papa, que tem centrado a sua mensagem nestes pontos, desde o dia em que assomou à varanda como novo bispo de Roma.

“No nosso tempo, ainda vemos demasiada discórdia, demasiadas feridas causadas pelo ódio, a violência, os preconceitos, o medo do diferente, por um paradigma económico que explora os recursos da terra e marginaliza os mais pobres” disse, na homilia da missa que marca o início oficial do seu ministério petrino. “Nós queremos ser, dentro desta massa, um pequeno fermento de unidade, comunhão e fraternidade”, acrescentou Leão XIV, eleito a 8 de maio.

O novo Papa chegou à Praça de São Pedro de papamóvel, tendo passado durante largos minutos entre a multidão, que o saudou com aplausos e aclamações de “Papa Leone”. Esta multidão imensa encheu por completo a Praça de São Pedro e os caminhos que lá vão ter. Pelos ecrãs gigantes, foi possível perceber a quantidade de cardeais, bispos e líderes políticos que quiseram participar nesta solene celebração. Também foi marcante a presença de uma religiosa que fez a tradução para linguagem gestual. Antes da eucaristia, o Papa percorreu a praça, abençoando e recebendo o seu primeiro banho de multidão.

A missa do início solene do pontificado de Leão XIV foi cheia de significado. A cerimónia começou junto ao Túmulo de São Pedro, com os patriarcas orientais a rezarem com o Papa pela união deste com Pedro. A seguir à proclamação do Evangelho, na missa, o Papa recebeu, da mão de três cardeais, o pálio, rezando pela proteção e assistência de Deus ao novo líder da Igreja Católica. O pálio é uma espécie de colar tecido com lã de cordeiros que simboliza a missão de Bom Pastor, que cuida e dá a vida pelas suas ovelhas. Este pálio é distribuído a todos os arcebispos do mundo. A seguir, recebeu o anel do pescador (o trabalho que tinha o apóstolo Pedro), uma espécie de selo branco que autentica a fé e confirma os irmãos. Finalmente, 12 representantes da diversidade dos carismas e ministérios da Igreja, prometeram fidelidade ao Papa, através do ‘rito de obediência’. Este momento solene e simbólico concluiu-se coma invocação do Espírito Santo.

Na homilia, Leão XVI prestou homenagem ao seu antecessor, Francisco, e apresentou a missão do Papa como fidelidade à ação do Espírito Santo, “que sabe harmonizar os diferentes instrumentos musicais, fazendo vibrar as cordas do nosso coração numa única melodia”. Lembrou que somos todos “chamados pelo nosso batismo a construir o edifício de Deus na comunhão fraterna, na harmonia do Espírito, na convivência das diversidades”.

O grande desejo do Papa é “uma Igreja unida, sinal de unidade e comunhão, que se torne fermento para um mundo reconciliado”. Por isso, afirmou: “Com a luz e a força do Espírito Santo, construamos uma Igreja fundada no amor de Deus e sinal de unidade, uma Igreja missionária, que abre os braços ao mundo, que anuncia a Palavra, que se deixa inquietar pela história e que se torna fermento de concórdia para a humanidade”, pediu. E deve animar os crentes “o espírito missionário, sem nos fecharmos no nosso pequeno grupo nem nos sentirmos superiores ao mundo; somos chamados a oferecer a todos o amor de Deus, para que se realize aquela unidade que não anula as diferenças, mas valoriza a história pessoal de cada um e a cultura social e religiosa de cada povo”, afirmou.

Após recitação do Regina Coeli (a oração a Nossa Senhora, rezada ao meio-dia, no tempo de Páscoa), Leão XIV voltou a insistir na urgência da paz. Referiu a martirizada Ucrânia, mas falou também das guerras e fome que atingem Gaza, Myanmar e outros países: “Na alegria da fé e da comunhão, não podemos esquecer os nossos irmãos e irmãs que sofrem por causa das guerras. Em Gaza, as crianças, as famílias e os idosos que sobreviveram estão sujeitos à fome. Em Myanmar, novas hostilidades dizimaram jovens vidas inocentes. A martirizada Ucrânia aguarda as negociações para uma paz justa e duradoura”, afirmou.

A ouvir estas palavras estiveram, entre muitos outros dignitários, o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, um católico ultraconservador, o Presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, o primeiro-ministro francês François Bayrou, o primeiro-ministro canadiano Mark Carney, o primeiro-ministro australiano Anthony Albanese, o Presidente israelita Isaac Herzog e a Presidente Dina Boluarte, do Peru, onde o até há dias cardeal Robert Prevost serviu como missionário e bispo por quase 20 anos antes de ser eleito Papa. Também estavam presentes responsáveis de quatro dezenas de Igrejas cristãs e confissões não-cristãs, entre os quais o Patriarca Bartolomeu, líder espiritual dos ortodoxos, o secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas, Jerry Pillay, e líderes da Comunhão Anglicana, Aliança Evangélica Mundial, Aliança Baptista Mundial e Conselho Metodista Mundial, entre outros.

P. Tony Neves – 7Margens