Quinta-feira, 30 de Outubro de 2025
A Paróquia Nossa Senhora das Graças de Murrupula, na província de Nampula, no norte de Moçambique, assistiu no sábado, 25 de Outubro, à ordenação sacerdotal do diácono Samuel Miguel, que, em Janeiro próximo, completará 36 anos de idade. A celebração foi presidida pelo arcebispo de Nampula, Dom Inácio Saúre, que, na homilia, convidou o novo sacerdote “a servir com coração missionário”, inspirando-se no exemplo de São Daniel Comboni, fundador do Instituto comboniano, e “a fazer do serviço aos mais pobres e esquecidos o centro da sua missão”.
“No sábado passado [25 de Outubro], fui a Murrupula para participar na ordenação do nosso confrade Samuel Miguel. Foi uma festa. Foi uma alegria assistir à ordenação de um filho daquela terra. Um grande número de fiéis acorreu ao local. Correu tudo bem”, testemunhou o padre Alberto Vieira, comboniano, pároco da paróquia de Santa Cruz, na cidade de Nampula.
Por sua vez, o padre Sérgio Vilanculo, outro comboniano, reiterou que foi “uma verdadeira manifestação de alegria, de participação e de comunhão eclesial, vivida entre cânticos de alegria, elulu ni makupi” (alaridos e palmas, como se diz em Macua, a língua local).
Na celebração, estiveram presentes um bom número de sacerdotes diocesanos e de confrades das comunidades combonianas e das paróquias da arquidiocese de Nampula e da diocese de Nacala, sobretudo da comunidade de Carapira, onde o Samuel exerceu o ministério de diaconado e o serviço missionário. Fizeram-se representar também as autoridades locais, algumas irmãs combonianas, leigos combonianos, seminaristas de Nampula, amigos e benfeitores.
A ordenação foi presidida pelo arcebispo de Nampula, D. Inácio Saúre, que desafiou o Samuel a não se tornar num padre “faz de conta”, levando vida dupla, mas “a ser autêntico presbítero e missionário à maneira de Comboni”.
Na habitual mensagem final, o padre José Joaquim Luis Pedro, superior provincial de Moçambique, disse ao Samuel: “Não te ordenaste para ti, mas para o povo, para a missão e para o Reino. Sê como Moisés, sobe ao monte e escuta Deus e desce com o rosto iluminado. Sê como Isaías, deixa que o carvão ardente toque os teus lábios. Sê como Jesus, se não fores boa notícia para os pobres, não serás boa notícia para ninguém. Sê como São Paulo, que a tua vida seja urgência e não acomodação. Sê como Comboni, nosso Pai fundador. Sê, portanto, um instrumento e não um protagonista. Celebra cada Missa como se fosse a primeira, a última e a única. Não banalizes o mistério.” E acrescentou: “Escuta o Povo de Deus. Ele deve ser o teu primeiro catecismo. Nunca deixes de estudar. Um padre ignorante é um perigo pastoral.”
Por fim, o padre José Joaquim informou que o Samuel – apesar de ter estudado a Teologia em São Paulo, no Brasil – já pertence à província comboniana do Quénia, para onde irá dar continuidade à obra da evangelização entre os mais necessitados e abandonados, em linha com o grande sonho de Comboni de evangelizar a África com a África. Ao ouvir este anúncio, o povo, manifestando a sua alegria, deu uma grande salva de palmas. Este gesto surpreendeu o superior provincial que acrescentou: “Estou admirado com a vossa reacção, porque, habitualmente, quando eu anuncio que um padre está para partir em missão, as pessoas reagem ao contrário. Vós, porém, soubestes alegrar-vos e apoiar o Samuel. Parabéns pelo vosso espírito missionário.”
Por seu lado, o padre Samuel, visivelmente emocionado, agradeceu a Deus pelo dom da vocação, a todos os fiéis presentes e a todos os que rezaram por ele, o acompanharam e aconselharam até este momento. Agradeceu de modo especial aos Missionários Combonianos pelo apoio recebido ao longo do processo formativo. E, por fim, invocou a protecção de Nossa Senhora das Graças, padroeira da sua paróquia, para que o ajude na sua missão e a viver com fidelidade a sua vocação.
O padre Samuel escolheu para a sua ordenação o lema “Fazei isso em memória de mim” (Lc 22, 19). Este lema recorda-nos o desejo de Jesus de continuar sempre connosco e da necessidade de perpetuar o mistério da Sua presença na Eucaristia.
No dia seguinte, domingo 26, o padre Samuel celebrou a sua primeira Missa (Missa Nova, como se costuma dizer) na pequena comunidade de São Pedro de Cavina, onde ele passou a sua infância e onde vive grande parte dos seus familiares. Comentando o Evangelho do dia (Lc 18, 9-14), referente à parábola sobre os modos de rezar do fariseu e do publicano, no templo, o jovem sacerdote sublinhou a importância da humildade na vida cristã, lembrando as próprias palavras de Jesus: “Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.”
P. Sérgio Vilanculo e P. Alberto Vieira,
Combonianos a trabalhar em Moçambique
Mensagem do superior provincial, padre José Joaquim Luís Pedro,
ao recém-ordenado padre Samuel Miguel
Querido irmão, padre Samuel Miguel
Hoje, ao receberes o dom do sacerdócio, tornaste-te sinal visível de Cristo Pastor, Servo e Esposo da Igreja. Mas és também enviado, como Comboni, para os mais pobres e abandonados, para os que não contam, para os que esperam. Não te ordenaste para ti. Ordenaste-te para o povo, para a missão, para o Reino.
Convido-te a acolher as mensagens de duas histórias que passo a contar:
História 1 — Comboni e o crucifixo partido
Daniel Comboni, ao regressar de África em 1877, trazia consigo um crucifixo partido. Um braço de Cristo estava quebrado. Quando lhe perguntaram por que não o substituía, respondeu: “Este crucifixo é o retrato da missão.” Cristo continua crucificado nos pobres, nos abandonados, nos que não têm quem os defenda. E agora, com a ordenação, tu, Samuel, és o braço que falta. És chamado a ser o braço de Cristo para levantar, abençoar, proteger. Que a tua vida seja esse braço que falta, não para dominar, mas para servir.
História 2 — O padre que salvou uma vocação
Conta-se que um jovem seminarista estava prestes a desistir. Sentia-se indigno, frágil, confuso. Um padre comboniano, aproximou-se e perguntou-lhe: “Sabes o que é ser padre? É ser ponte. E ponte não é lugar de descanso. É lugar de passagem. Muitos vão pisar-te, atravessar-te, esquecer-te. Mas se não houver ponte, não há travessia.” O jovem chorou. Ficou. Foi ordenado. Hoje é formador. E repete aos seus alunos: “Sejam pontes. Mesmo quando ninguém agradece.”
Samuel, meu irmão: ser padre não é ser centro. É ser caminho. É desaparecer para que outros passem. Vai, irmão, com o coração em Deus e os pés no chão. Que a tua vida seja cruz e ressurreição. Que a tua missão seja presença e profecia. Que a tua alegria seja o Evangelho vivido. Abraça a missão com ardor, a exemplo de Comboni: “A missão é um fogo que não se apaga.” (Daniel Comboni). Nada e ninguém te separe do amor aos mais necessitados, como dizia o padre José Ambrosoli, beato comboniano: “O amor não foge.”
Por fim, neste dia de graça, elevamos o coração em acção de graças:
Com gratidão e esperança,
Padre José Joaquim Luís Pedro,
Superior provincial dos Missionários Combonianos, em Moçambique.
Murrupula, 25 de Outubro de 2025