O Ir. Antonio Gasparini nasceu em Carrè, província de Pádua, a 25 de Fevereiro de 1924. Depois do noviciado em Florença, emitiu os primeiros votos em 1943 aos dezanove anos e os votos perpétuos em 1949. De 1943 a 1950 trabalhou em Thiene, como encarregado da oficina mecânica, depois nas comunidades de Florença, Verona e Roma, como encarregado da casa. Sucessivamente, permaneceu alguns meses em Sunningdale para estudar inglês e logo a seguir foi destinado ao Sul do Sudão, ou melhor a Wau, onde permaneceu praticamente sempre, de 1951 a 1964, como encarregado da oficina mecânica. Transferido para o Uganda, permaneceu durante dez anos como responsável da oficina mecânica de Gulu, anexa à paróquia da catedral (1965-1975). Em 1976 passou para Awasa, na Etiópia, onde continuou o seu trabalho de encarregado da oficina mecânica durante 31 anos, isto é, até à morte, ocorrida a 25 de Julho de 2007, com 83 anos de idade, 55 dos quais passados em África. Esta sua longa permanência em três diferentes províncias põe desde logo em evidência o aspecto talvez principal do Ir. Gasparini: a grande disponibilidade de ir para onde quer que os superiores o destinassem.
Em 2005, dois anos antes da sua morte, escrevia ao P. Teresino Serra, Superior Geral: «Sinto que dei pela missão tudo o que pude. Daqui em diante colaborarei com a minha oração e a oferta do sofrimento provocado pela minha doença».
O P. Sisto Agostini conta-nos os últimos dias do Ir. Gasparini: «Estava tudo preparado para a semana de exercícios espirituais orientada pelo P. Teresino Serra. O último fruto do cultivadíssimo abacateiro foi colhido pelas mãos do Ir. António, as mesmas mãos que depois o ofereceram ao bispo, com grande satisfação e com um daqueles sorrisos que ultimamente eram frequentes no rosto apaziguado de um homem que sabia ter dado cumprimento a uma obra a que faltavam apenas alguns pormenores de refinamento que o Ir. Antonio ia acrescentando em cada dia com uma atenção que não era de esperar.
Para os exercícios espirituais não havia qualquer problema, como dizia, a não ser o de poder ouvir suficientemente bem, mas à falta de aparelhos acústicos mais sofisticados, iria colocar-se na primeira fila, mudando um pouco, durante aquela semana, os seus hábitos e deslocando-se de um edifício ao outro com o seu passo pausado e o corpo direito, não obstante o problema de coluna que o tinha já atormentado durante muito tempo no Uganda, até ao momento em que o doutor Corti o pôs de cama sob tracção e lhe deu novamente a frescura de uma coluna juvenil, sem quaisquer dores. Interessantes as suas memórias do Sudão e do Uganda, que contava de bom grado aos confrades após o jantar: não só trabalho constante e metódico, mas também algumas excursões de caça ou de pesca de vez em quando.
Sábado 21 de Julho de 2007, terminados os exercícios espirituais, preparava-se para retomar o seu ritmo normal de actividade na comunidade de Awasa. O domingo era sempre respeitado e honrado: a oração e a santa Missa em primeiro lugar (era sempre o primeiro a chegar à igreja, ou antes, era ele que abria a porta da igreja de manhã); depois, regularmente e rigorosamente, a higiene pessoal e do apartamento, a ordem na correspondência, um passeio no jardim, a leitura de alguma revista preferida e o repouso na cadeira de encosto para rezar o terço e até passar pelo sono. Naquele domingo permitiu-se um bolo que tinha posto de parte desde há muito tempo. Não dormiu bem, mas na manhã de segunda-feira foi o primeiro a chegar à igreja como de costume. Depois, porém, teve de sair porque sentia faltar-lhe a respiração, arrastava os pés a custo. Foi pontual no pequeno-almoço, mas aceitou o conselho de não pensar no trabalho nesse dia. Mas, não aceitou o outro conselho: ser visto por um médico. Não pensava que fosse necessário julgando que o mal-estar se devesse àquele bolo que tinha comido. No dia seguinte, terça-feira, estava melhor e permitiu-se algum trabalhinho. Mas continuava a não ter muita vontade de comer, embora preparando o prato com comida. Na manhã seguinte não participou na oração, mas depois deixou-se acompanhar à mesa para o pequeno-almoço. Tinha mais dificuldade em respirar do que o costume e voltou para a cama. Desta vez aceitou ser levado ao pequeno hospital onde trabalhavam as Franciscanas Missionárias de Maria.
Teria preferido vestir-se e calçar-se sozinho, mas os confrades cuidaram dele, até porque dizia que quase já não via. Depois, a entrega das chaves e dos pequenos segredos do seu pequeno apartamento, uma última olhadela à volta e via para o hospital. A oração que recitou comigo no carro foi a última recitada em voz alta: ‘Rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte’. Reanimou-se à chegada ao hospital à vista do Sr. Keko que o esperava. Deixou-se acompanhar ao quarto já preparado para ele, mas também aqueles poucos passos eram demasiados: sentimos as suas pernas vacilar sob o peso do corpo. Estendido em cima da cama, queria ainda dizer alguma coisa, talvez pedir a absolvição, que lhe foi dada precisamente enquanto a respiração se enfraquecia; uma oração simples dos presentes acompanhava-o para além desta vida, à vida eterna.
Tudo aconteceu rapidamente. De nada serviram as atenções dos médicos, a injecção e o oxigénio. O Ir. Antonio partiu sem dar o mínimo incómodo, como sempre. Eram as 11.40 de quarta-feira 25 de Julho, cinco meses exactos após o seu 83º aniversário. Morreu oferecendo o seu serviço até ao último suspiro e dando um exemplo de fé, dedicação e diligência».