In Pace Christi

Febo Gabriele Chiodi nascera em Gavardo na província de Brescia (Itália) a 6 de Março de 1914 de Giovanni Chiodi e Antonia Martin. A mãe era uma católica fervorosa, ao passo que o pai era ateu mas nunca se opôs à devoção cristã da mulher.

Em 1928, Gabriele deu entrada no Seminário Comboniano de Brescia frequentando o Ciclo e o Liceu. Após o noviciado em Venegono (1933-1935) e os votos temporários, estudou filosofia em Verona e teologia no Atneu Pontifício Urbaniano de Propaganda Fide em Roma, onde foi ordenado sacerdote a 23 de Março de 1940 na Basílica de São João de Latrão. Celebrou a sua Primeira Missa em Gavardo e no mesmo dia recebeu de Deus uma graça muito especial: o seu pai, convertido já ao catolicismo, recebeu das mãos do filho neo-sacerdote a primeira comunhão. Foi um momento de grande emoção e alegria para ambos.

O Instituto encontrava-se em expansão naqueles anos e ao P. Gabriele coube muitas vezes ser destinado a comunidades e casas de primeira fundação ou de reabertura. Durante os anos 1941-1947 o P. Gabriele trabalhou em Itália. O seu primeiro empenho foi em Villa Pisa de Florença que em 1940 tinha sido aberta como noviciado. Depois foi mandado para Carraia, na província de Lucca, com o P. Egidio Ramponi, para reabrir o Seminário Menor. Em Julho de 1943 o P. Gabriele foi mandado como superior para Bolonha para a casa recentemente adquirida. Eram os anos da Guerra e houve vários momentos desagradáveis, como encontros próximos com os alemães, bombardeamentos, explosão do depósito de munições perto de casa e escassez de alimentos. O P. Gabriele mandou construir na cave do Seminário um refúgio antiaéreo onde conseguiram salvar-se muitas pessoas.

Em 1947 os superiores mandaram-no para os Estados Unidos, onde os Combonianos se tinham instalado recentemente. Em Cincinati, o P. Gabriele tornou-se director espiritual do escolasticado. Dois anos mais tarde foi nomeado padre mestre do primeiro noviciado comboniano, no Estado da Indiana, depois transferido para Forestville e sucessivamente para a nova casa de Monroe, Michigan (1952). Após onze anos de empenhado trabalho como padre mestre dos noviços, foi enviado a abrir uma casa para Irmãos em Yorkville, Ilinóis. Mal tinha acabado de organizar a casa, foi mandado para a nova e ainda não terminada casa de San Diego, Califórnia, para onde tinha sido transferido o noviciado de Cincinati. O P. Gabriele é nomeado superior. Aqui permaneceu durante sete anos (1961-1968). Em 1968 o P. Gabriele é mandado para Saint Jean de Quebeque no Canadá, mas cerca de oito meses depois foi destinado ao México onde desenvolveu o seu serviço missionário até 2003, isto é, até quando a saúde lho permitiu.

O P. Gabriele chegou ao México em 1969, e mais precisamente a Guerrero Negro, na Baixa Califórnia, onde permaneceu até 1973 como pároco e superior local. A maior parte dos homens trabalhava nas salinas. Durante o ano escolar introduziu o Cursillo de Cristianidad no qual homens e mulheres participavam com interesse, mas começaram também os contrastes, inevitáveis em toda a boa obra. As Testemunhas de Jeová começaram a hostilizá-lo e queriam expulsá-lo porque muitos dos seus fiéis desertavam para participar nestes cursos. Assim, queixaram-se ao governo, acusando o P. Gabriele não se sabe bem de que culpas. O bispo, Dom Juan Jesús Posadas Ocampo, advertiu-o de um mandado do governo a seu respeito e ajudou-o a refugiar-se no Seminário de Tijuana, a pequena cidade da Baixa Califórnia confinante com os Estados Unidos. Entretanto o governo da Baixa Califórnia revogou o mandado contra ele, e até o convidou a regressar quando lhe fizeram notar o trabalho humanitário que o P. Gabriele tinha desenvolvido para ajudar a gente, sobretudo os mais pobres e necessitados da paróquia, como por exemplo a construção de cinquenta pequenas casas de madeira para aqueles que tinham ficado sem tecto por causa de um terrível furacão. Tinha também construído uma igreja e boa parte da escola local.

Depois Dom Giovanni Giordani convidou-o a trabalhar em La Paz (1973-1980) e o P. Gabriele foi nomeado vigário da diocese. Os sacerdotes locais no início não viam com bons olhos esta sua posição, mas depois, tendo constatado o seu empenho no trabalho espiritual e material, aceitaram-no de boa vontade. Quando se abateu sobre La Paz e arredores o ciclone Lisa, que causou destruição e morte entre a população, como sempre, foram os mais pobres que sofreram as consequências mais graves, ficando sem casa. O P. Gabriele, com a ajuda de amigos e benfeitores dos Estados Unidos conseguiu construir também desta vez cinquenta habitações de madeira e uma igreja dedicada à «Divina Providência». Dez anos mais tarde, a catedral de La Paz, de que era pároco, foi confiada ao clero local.

Passaram outros oito anos e o P. Gabriele foi mandado como pároco para a Ciudad Insurgentes, também na Baixa Califórnia. Aqui sentiu-se verdadeiramente missionário e continuou, sempre com a ajuda dos seus amigos e benfeitores dos Estados Unidos, a ajudar os mais pobres e necessitados.

Em 1990 celebrou o 50º aniversário de sacerdócio. Os superiores transferiram-no para a Cidade do México, paróquia dos Mártires do Uganda, em Colónia Moctezuma, no Distrito Federal. Tinha trabalhado muito e intensamente nos seus 75 anos de vida e sentia-se cansado, mas apresentou-se com humildade e obediência ao superior de então, P. Giuseppe Gasparotto. À morte deste último, o P. Gabriele foi nomeado superior e continuou a trabalhar com grande simplicidade juntamente com os sacerdotes locais. Em 2000 celebrou sessenta anos de sacerdócio.

A idade avançada do P. Gabriele e a saúde bastante precária obrigaram-no a deixar o encargo de superior ao P. Manuel Gutiérrez Juárez. Por causa de um agravamento das condições de saúde teve de ser hospitalizado e submetido a diversas intervenções cirúrgicas. Ao aproximar-se o 90° aniversário, os superiores decidiram mandar o P. Gabriele para o Centro Anziani e Ammalati (CAA) de Milão para ser melhor assistido. No domingo da sua última Missa na paróquia, os fiéis, aos quais o P. Gabriele se tinha dedicado durante treze anos, despediram-se dele com grande mágoa.

Em Agosto de 2004 o P. Gabriele passou a fazer parte da comunidade do Centro Anziani e Ammalati de Milão (Itália). Eis as palavras do P. Gerardo Antonio Díaz Jiménez, o provincial do México, antes da sua partida para Itália: «Desejo agradecer-te em nome da província do México e de toda a Igreja missionária pelo testemunho da tua vida ao longo de tantos anos e em tantos lugares. E se é verdade que os anos se podem contar, é impossível para nós saber o bem que o Senhor fez através das tuas mãos, das tuas palavras e da tua vida». O Superior Geral, P. Teresino Serra, escrevia na mesma ocasião: «Caríssimo P. Gabriele, com esta minha carta faço-me um pouco seu companheiro de viagem. Como está? Espero que a sua saúde possa melhorar. Continuo a viver a seu lado e ao lado dos confrades idosos ou com problemas de saúde, como quando era vice-provincial de Itália. Pergunto muitas vezes por si e espero poder encontrá-lo em breve. O senhor é sempre missionário e estou certo de que tudo aquilo que vive e faz o vive e faz com a missão no coração».

O P. Gabriele regressou à casa do Pai a 16 de Março de 2008.