O P. Gianni Pacher, nascido em Levico (Trento) a 9 de Março de 1954, era filho de uma família de profundas raízes cristãs e empenhada em campo educativo e social. O pai, Alexandre e a mãe, Ana Maria, deram aos seus cinco filhos uma sólida formação religiosa e profissional. O próprio Gianni tinha conseguido título e prática de geómetra. Mas o Senhor tinha traçado para ele um caminho especial: sacerdote missionário. Aos 22 anos entrou no noviciado dos Combonianos em Venegono Superior (Varese), aos 24 anos emitiu a profissão religiosa e iniciou os estudos teológicos na Universidade Urbaniana de Roma; seguiu-se um ano de experiência missionária no Peru e a ordenação sacerdotal em Levico a 13 de Fevereiro de 1982, pela imposição das mãos do bispo comboniano Dom Edoardo Mason. Logo depois, partiu para o Peru onde permaneceu durante mais de cinco lustros, salvo um breve período (pouco mais de um ano, em 2000) como responsável da comunidade de Limone sul Garda, na casa natal do nosso Fundador.
O Peru foi a sua pátria missionária, à qual se dedicou de corpo e alma, coração e inteligência, energias e esperanças. As comunidades missionárias onde trabalhou foram sobre os Andes, em Lima, na selva do Peru em Yanahuanca (a 3.300 m); em Lima na redacção e difusão das revistas combonianas “Misión sin Fronteras” e “Aguiluchos”, onde trabalhámos juntos na mesma comunidade durante alguns anos. Depois, novamente, na missão mais distante de alcançar: Pozuzo, entre os Andes e a selva amazónica (lugar da primeira presença comboniana no Peru e na América, desde 1938). Foram 20 anos de vida dura em zonas de risco pela presença do terrorismo cruel de movimentos como ‘Sendero Luminoso’ e o ‘MRTA’, que dominavam sobre os Andes e na selva amazónica com a cumplicidade dos narcotraficantes. As mortes de campesinos e de autoridades civis e militares eram frequentes. O perigo existia também para os missionários, mas os Combonianos permaneceram mesmo assim no lugar, ao lado da gente.
Depois do período em Limone (em 2000), voltou ao Peru para uma missão que o P. Gianni queria diferente, em zonas mais difíceis, novas, ao menos para os Combonianos. A sua atenção fixou-se numa zona de selva amazónica: S. Martin de Pangoa, no vicariato apostólico de S. Ramón, dirigido pelos missionários franciscanos. Primeiro trabalhou aí sozinho, depois, a pouco e pouco, o grupo comboniano do Peru, mediante a sua insistência e também a do bispo, aceitou aquela missão como um compromisso de todo o grupo. O P. Gianni tinha espalhado aí coração e energias, mas também iniciativas de promoção cultural da gente do lugar, em particular dos jovens, sobretudo com a construção de uma grande escola, graças ao envolvimento económico de muitos amigos e benfeitores italianos, quer pessoas individuais quer instituições.
A 29 de Março de 2009 o bispo confiava aos Combonianos a missão de S. Martin de Pangoa e agora três Combonianos trabalham aí, estáveis no lugar: dois sacerdotes e um irmão. E esta é a actualidade dos últimos dias. Dela nos fala o P. Rogelio Bustos Juárez, provincial dos Combonianos no Peru: «Acabo de regressar de São Martin de Pangoa, onde o P. Gianni trabalhou nos últimos seis anos e que precisamente ontem, 29 de Março, assumimos como comunidade comboniana. Era evidente o afecto da gente para com este nosso confrade por todo o bem que fez. Quando, há alguns dias, o convidara para me acompanhar à tomada de posse da paróquia, respondeu-me que não gostava dessas coisas, que preferia acompanhar-nos a partir de Lima e rezar por todas as pessoas que tinha conhecido e acompanhado durante o seu serviço naquela zona. Há alguns meses, tinham diagnosticado ao P. Gianni um determinado tipo de epilepsia e uma série de problemas de saúde. Estava em tratamento na clínica Tezza de Lima. A proposta de nos ajudar no economato provincial tinha-lhe sido feita precisamente porque, estando em Lima, pudesse fazer mais facilmente os seus controlos médicos, sem ter de se submeter a viagens extenuantes nem a grandes sacrifícios. Estava a ganhar familiaridade com o seu novo serviço. Nada deixava prever este triste desfecho. O seu coração não resistiu e faleceu esta manhã, 30 de Março, devido a um enfarto fulminante».
Reproduzimos algumas frases da carta que o Superior Geral, P. Teresino Serra, enviou à mãe e aos familiares do P. Gianni: «A triste notícia, inesperada e repentina, causou surpresa e dor em todos. Humanamente há dor no nosso coração, mas a fé leva-nos a agradecer a Deus pela vida do P. Gianni e pelo seu amor à missão. Os exemplos de fé do P. Gianni são muitos e dignos de serem seguidos. Recordamos, entre as virtudes, a sua bondade e o seu amor pela gente. A sua fé não era complicada: era a fé típica de quem acredita firmemente na sua vocação».
Uma minha leitura pessoal – diz o P. Romeo Ballan – sobre a morte do P. Gianni é esta: para o P. Gianni a sua morte tem o sentido da «missão cumprida». Ele ofereceu a sua vida por aquela comunidade indígena na selva amazónica de S. Martin de Pangoa! Foi, mais uma vez, o «grão de trigo» que cai na terra e morre para dar vida. Na manhã do dia 7 de Abril a urna partiu de Verona para Levico Terme (Trento), onde foi recebida pela mãe, irmãos, irmãs, familiares e muitíssima gente, que encheu a catedral de Levico, para a missa das 14.30, que foi presidida pelo vigário geral da diocese, Dom Lauro Tisi, acompanhado por mais de 30 sacerdotes, entre os quais uns quinze Combonianos (de Trento, Arco, Limone, Verona, Bressanone, Como).
Na homilia tomaram a palavra Dom Tisi, o P. Romeo Ballan (de Verona) e o P. William Dal Santo (do Peru). No fim ouviram-se os testemunhos dos familiares, do presidente da Câmara de Levico e do director do Gabinete Missionário de Trento. A emoção era proporcional à grande estima que este Comboniano, falecido aos 55 anos, soube suscitar à volta e a favor das distantes terras missionárias nos Andes e na selva amazónica do Peru.
(P. Romeo Ballan)