O P. Tarcisio nasceu a 10 de Janeiro de 1925 na pequena povoação de Pressano, no município de Lavis, província de Trento. Em 1941 entrou na escola apostólica de Trento. Em 1944 passou para o noviciado de Venegono, onde dois anos depois emitiu os primeiros votos. Foi ordenado sacerdote em Milão a 7 de Junho de 1952. Em Setembro desse ano partiu para Cartum e em Outubro seguinte começou a ensinar na Technical School. À sua chegada, o P. B. Agostino Galli, vendo que não sabia nada nem de inglês nem de árabe, dera-lhe um dicionário recomendando-lhe: «dá o teu melhor». O P. Tarcisio aprendeu as duas línguas atingindo um bom nível.
Passou o seu primeiro período sudanês, isto é, até 1966, primeiro na «St Joseph Techical School», e depois nas comunidades de El Nahud, Port Sudan e Atbara, sempre como professor de inglês. Como sabemos, as escolas eram desde sempre a actividade principal no Norte do Sudão (Cartum), ao passo que o trabalho pastoral teve um grande impulso só nos inícios dos anos 1980, depois da chegada em massa dos negros do Sul que fugiam da guerra.
Em 1966 o P. Tarcisio foi destinado ao Uganda, também para que fizesse uma boa experiência pastoral em contacto directo com a gente. Permaneceu aí cerca de seis anos, trabalhando como vice-pároco nas missões de Ngeta, Aboke e Minakulu, todas na diocese de Lira. No Uganda teve ocasião de se encontrar com o seu irmão, P. Germano, também ele comboniano.
Aproximando-se dos cinquenta anos de idade e após vinte anos de África, sentindo necessidade de um período de reflexão, pediu para permanecer um ano fora da comunidade comboniana; mas compreendeu depressa que a sua vida era a missão e pediu para regressar.
Em 1974 foi enviado pela segunda vez para o Sudão, onde passou o resto da sua vida.
O Colégio Comboni foi a missão mais amada do P. Tarcisio: aí ensinou ininterruptamente durante mais de vinte anos, até 1996. Contudo, nos últimos anos, teve de novo ocasião de ensinar inglês e árabe aos seminaristas e aos postulantes combonianos, antes de ser transferido pela segunda vez para Port Sudan, depois para Cartum Bahri e, por fim, para El-Obeid, onde se empenhou segundo as suas forças, até ao fim, em pequenos serviços pastorais. Até ao último mês de vida – tinha já 88 anos – era fácil poder celebrar a Missa para as irmãs da Madre Teresa, durante a semana, e para os detidos, ao domingo. Este último serviço era para ele bastante familiar porque já nos últimos anos em Cartum Bahri ia todos os domingos à grande prisão de Kober para a Missa e as confissões.
O P. Tarcisio tinha uma personalidade muito forte e complexa. A despeito das suas opiniões radicais, quem se manteve próximo dele pôde descobrir também a sua surpreendente capacidade de autocrítica e de saber mudar de atitude quando necessário. Não obstante alguns contrastes com alguns confrades, quando se apercebia de ter errado ou de ter tratado alguém de maneira injusta, apressava-se a pedir desculpa. Na vida quotidiana era muito regular e pontual; o seu dia era organizado e bem repartido entre oração, trabalho e leitura.
Tinha um estilo austero, quase exagerado. Uma vez, em Port Sudan, os refugiados eritreus, que lhe eram gratos pela Missa que todas as sextas-
-feiras celebrava para eles, ao ver as suas pobres roupas, fizeram uma colecta para lhe comprar roupas novas. O P. Tarcisio não queria aceitá-
-las, mas os confrades disseram-lhe que os refugiados se ofenderiam com a sua recusa. Então aceitou o presente, mas só as usava quando ia ao campo dos refugiados para a Missa. Nunca teve relógio, nem televisão, nem telemóvel nem computador. Nunca se queixou da alimentação ou da falta de conforto. Não gostava de viajar nem de tirar férias que qualificava de «passeios turísticos».
Alguns excessos do seu temperamento manifestavam-se também no campo intelectual e espiritual e por vezes surgiam acesas discussões com os confrades. Tendo lido o Alcorão – quer em italiano quer em inglês – punha em questão os missionários que tinham gasto a sua vida entre os muçulmanos sem conhecer aquele texto. Tinha também recolhido num pequeno livro os versos mais importantes do Alcorão, como que para encontrar resposta a uma sua persistente pergunta: de que modo é que os muçulmanos podem viver em paz com os não-muçulmanos?
Acompanhava os acontecimentos internacionais e mantinha-se regularmente informado das notícias relativas ao Sudão, ansioso por ver a chegada de uma nova era, convicto de que os tempos modernos trariam respostas às suas perguntas.
Era seu firme desejo permanecer no Sudão até à morte e Deus concedeu-lhe essa graça. Duas semanas antes de morrer, foi transportado de urgência de El-Obeid para Cartum, onde se descobriu que tinha um cancro no fígado em fase muito avançada. Durante os seus últimos dias, mostrou uma enorme gratidão para com os confrades e as Irmãs Combonianas que o tinham tomado ao seu cuidado para tratamentos em Villa Gilda. Faleceu na manhã de 26 de Outubro de 2013, por volta das 8.00 horas, com grande serenidade.
(P. Angelo Giorgetti, mccj).