In Pace Christi

Pazzaglia Tarcisio

Pazzaglia Tarcisio
Data de nascimento : 15/02/1934
Local de nascimento : Apecchio/I
Votos temporários : 01/11/1953
Votos perpétuos : 09/09/1959
Data de ordenação : 02/04/1960
Data da morte : 18/01/2018
Local da morte : Milano/I

O P. Tarcisio Pazzaglia nasceu em Serravalle de Carda, no concelho de Apecchio, a 15 de Fevereiro de 1934, último de seis irmãos. «Na família – escrevia nas suas Memórias – rezava-se o terço todas as noites e eu era menino de coro. Da infância recordo a grande guerra, a linha gótica que passava na minha terra. Os alemães ocupavam duas salas da casa. Os partidários bons e maus saquearam a nossa loja de tecidos. A detenção do meu pai Francesco numa busca».

Em 1964 entrou no seminário dos Combonianos de Pesaro e, seguindo o percurso daqueles tempos, fez o ensino elementar em Pesaro, o básico em Brescia, o noviciado em Florença, o secundário em Verona e a Teologia em Venegono Superior (Milão). Na escola não era brilhante, como conta ele mesmo: «Os meus superiores escreveram nos seus registos
“É um bom rapaz mas mais amigo da chave de parafusos do que da caneta”».

Foi ordenado sacerdote em 1960 na catedral de Milão e a sua primeira destinação foi Pordenone, onde permaneceu até 1964. Foi depois mandado para Inglaterra, para Sunningdale, para um curso de língua inglesa. Destinado ao Uganda, em Setembro de 1965 aportou em Kitgum (norte do Uganda) entre a etnia Acioli onde viveu durante mais de 50 anos.

«Quando penso no P. Tarcisio Pazzaglia não posso deixar de voltar instintivamente atrás no tempo. Embora o tivesse encontrado, pela última vez, há poucos meses numa vigília missionária em Pesaro, as recordações da sua pessoa, impressas no coração e na mente, remontam aos primeiros anos da década de 80, quando eu estudava teologia na capital ugandesa, Campala. E foi precisamente ali que conheci «Loyarmoi» (o «combativo orador»), nome acholi atribuído ao P. Tarcisio. Foi este extraordinário missionário comboniano que me introduziu na cultura dos povos nilóticos. Os idosos daquelas paragens costumam reunir os jovens à volta de uma fogueira para lhes transmitir uma sabedoria ancestral, narrar as histórias do passado e as extraordinárias proezas das aves. Pois bem, eu tive a sorte de fazer mais ou menos o mesmo, passando muito tempo com o P. Tarcisio que me introduziu na árdua e gradual compreensão de culturas distantes anos-luz do nosso imaginário. Com ele tive ocasião de viajar ao longo e ao largo sobre o vasto território do Uganda setentrional; um dia levou-me ao longo de um dos diques do rio Asswa e ali encontrámos, além dos soldados, um número incontável de macacos. Explicou-me que a etnia acholi tem sobre estes primatas uma teoria oposta à darwiniana. Os homens não descendem dos macacos, mas ao contrário estes animais na origem eram jovens que, cansados de trabalhar na aldeia, fugiram para o bosque e passaram a sua vida a vagabundear. Segundo os acholi, os movimentos dos macacos não são senão uma herança que se transmite de geração em geração daqueles jovens vagabundos que preferiram a savana às fadigas dos campos.

O P. Tarcisio foi desde sempre exactamente o contrário: todo ele adrenalina, fervor, entusiasmo e ímpeto em anunciar e testemunhar o Evangelho. Nos seus mais de 50 anos de vida missionária, realizou um número incontável de escolas, dispensários, igrejas e capelas, revelando-se quando necessário, pedreiro, carpinteiro, enfermeiro, além de ser sempre um zelante pastor de almas. Tinha um hobby a que nunca renunciou, o das filmagens, primeiro com o super otto, depois com as telecâmaras. Rodou inúmeros documentários sobre os usos e os costumes dos acholi e subsídios vídeo para a catequese dos jovens e dos adultos.

A partir dos anos ’90 desvelou-se, em particular, na defesa dos direitos humanos contra as aberrações perpetradas pelos «olum» («erva» em língua acholi), os famigerados rebeldes do Exército de Resistência do Senhor. Entre rebeldes e Governo manteve-se durante vinte anos uma guerra absurda e ignorada pelo mundo e quem pagou foram os milhares de rapazes e raparigas obrigados a combater sob pena de mutilação de orelhas, nariz, lábios e dedos. Todas as noites, às paróquias do P. Tarcisio, de Pajule e Kitgum, chegavam centenas de jovens das aldeias vizinhas que procuravam protecção para a noite, momento durante o qual os olum tentavam os raptos.

A nossa amizade aumentou com os anos, sobretudo quando a 28 de Agosto de 2002 fomos sequestrados em Tumangu, não distante de Kitgum, juntamente com Carlos Rodriguez Soto. Naquela circunstância confrontámo-nos, juntos, repetidamente, com a «Irmã morte»… embora depois – como dizia o P. Tarcisio – «não fomos considerados dignos do martírio». Foi precisamente ele a dar-me a absolvição pouco antes de acabarmos perante o pelotão de execução. E se conseguimos salvar-nos, miraculosamente, foi precisamente porque nós os três invocámos a intercessão do P. Raffaele Di Bari, assassinado pelos rebeldes do Exército de Resistências do Senhor (LRA) no dia 1 de Outubro de 2000. O P. Tarcisio foi um autêntico capacete azul de Deus que gastou a sua vida pela causa do Reino.
(P. Giulio Albanese).