In Pace Christi

O P. Cadè nasceu a 11 de Janeiro de 1932, em Zanica (Bergamo). Ainda menino entrou no Seminário Menor Comboniano de Brescia para a escola secundária e o ginásio. Em 1949 iniciou o noviciado em Gozzano e terminou-o a 9 de Setembro de 1951 com os votos temporários. Imediatamente a seguir, passou para Verona, na Casa Mãe, para iniciar os cursos de filosofia. Em 1955 estava em Roma para iniciar os estudos de teologia. A 1 de Março de 1958 foi ordenado sacerdote. Permaneceu em Roma durante um ano, durante o qual frequentou um curso de missionologia. Em Julho de 1959 foi professor no noviciado de Gozzano. Permaneceu aí durante um ano e depois foi chamado a Roma, à comunidade de São Pancrácio, para o serviço pastoral entre os jovens.

Em Julho de 1963 o Padre Pierluigi foi destinado às missões do Burundi, na altura em que se iniciavam os trabalhos do Concílio em Roma. Regressou a Itália em Junho de 1965, pouco antes do fim dos trabalhos episcopais em Roma (a 8 de Dezembro desse ano). Durante 12 anos, teve a tarefa extremamente difícil, se não mesmo difícil, de trabalhar com os jovens e de procurar novos caminhos, quer para apresentar a proposta vocacional de uma forma nova, quer para conceber um caminho de formação inspirado nas ideias surgidas do Concílio.

Entre 1970 e 1977, foi secretário provincial da formação, director espiritual no escolasticado de Venegono, formador dos escolásticos em Roma e, por fim, formador dos postulantes em Florença. Eu era um jovem estudante que se juntou aos missionários combonianos precisamente naqueles anos. Recordo-me que foram anos extraordinariamente estimulantes para nós jovens: queríamos mudar o mundo, mas éramos um verdadeiro pesadelo para os nossos formadores de então. Durante o meu noviciado, o Padre Cadè foi convidado pelos superiores a vir ter connosco para mediar uma crise que tinha surgido entre nós, noviços, e os padres mestres, que não nos compreendiam e tinham dificuldade em gerir-nos. No entanto, ele conseguiu restabelecer a serenidade e a paz, porque não veio com autoridade, mas procurou o diálogo e estava verdadeiramente interessado em encontrar respostas para os problemas connosco.

Em Julho de 1978, o Padre Pierluigi foi destinado ao México, como pároco da Paróquia do Imaculado Coração de Maria, diocese de La Pax, até 1988, quando foi destinado como pároco da Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, em Ciudad Constitución, também na diocese de La Paz, até Julho de 2004. Regressou depois à paróquia do Imaculado Coração de Maria, até 2010.

Na base da sua visão da missão estava a paróquia, que, à sua chegada à Baixa Califórnia, encontrou organizada em pequenas comunidades de base (chamava-lhes "capelas"). Desde o início, viu-as como "campos privilegiados" para organizar a vida cristã, que ele considerava como um "caminho de fé", onde se devem juntar duas coisas: um encontro com o Senhor e uma mudança de vida. Certamente, teve de fazer um longo caminho pessoal para entrar no espírito dos documentos seguidos pela Igreja mexicana e, sobretudo, no espírito do Concílio Vaticano II, que na América Latina experimentou "impulsos" particulares não só a nível bíblico, mas também a nível teológico, principalmente nos domínios da eclesiologia e da pastoral.

Com este conhecimento, que é extremamente sólido, o Padre Pierluigi organiza as comunidades cristãs, começando pela formação dos conselhos pastorais, dos quais repete: "Devemos abrir-nos à participação dos leigos e das mulheres, mas também a tudo o resto". Produz uma série de brochuras que utiliza nas suas actividades de formação para responsáveis de comunidades, catequistas, pais e filhos que frequentam a catequese, seminaristas, religiosas e sacerdotes.

No início, as coisas que ele faz são vistas como "novidades a ter em conta", mas depois, pouco a pouco, todos começam a ver os frutos e a copiá-los. Os livros de catecismo que escreve e publica são adoptados em toda a diocese e, muitas vezes, até fora dela. É enviado para pregar retiros a seminaristas, padres e freiras, e depois começa a ser chamado para cursos de exercícios dentro e fora da diocese.

Inaugurou as "Via-Sacras" nas ruas da cidade e representações da Paixão de Jesus, que sempre atraíram grandes multidões. Na paróquia anteriormente dedicada a Nossa Senhora de Guadalupe, construiu o importante santuário, que rapidamente se tornou o centro espiritual de Ciudad Constitución e da região vizinha, onde ainda existe um grupo de fiéis muito próximos dele, que continuaram a segui-lo mesmo depois do seu regresso a Itália em 2013.

Chamava-se a si próprio um "bergamasco mexicano": bergamasco de origem – e tinha muito orgulho nas suas raízes – e mexicano por vocação e escolha; de facto, tinha pedido para ser enterrado no santuário que tinha construído.

Em Outubro de 2013, o Padre Pierluigi – agora com oitenta anos – sentiu que era altura de se "reformar". Regressou a Itália e foi destinado à Reitoria "San Tomio" em Verona, como superior da comunidade. Permanecerá ali apenas até ao fim do ano, dedicando-se ao ministério das confissões e ao acompanhamento espiritual das numerosas pessoas que frequentam a igreja dirigida pelos Combonianos.

Em Janeiro de 2014, foi transferido para o Centro Padre Ambrosoli, em Milão, que acolhe irmãos e irmãs doentes e idosos. Está sempre pronto a correr para a igreja vizinha para encontrar pessoas, ouvir confissões, dar orientação espiritual. Para o manter no quarto, é preciso uma febre alta ou algo de grave, ao ponto de os irmãos serem obrigados a convidá-lo a abrandar o ritmo, mas muitas vezes sem sucesso. As pessoas querem-no, e por duas simples razões: a sua genuína humanidade e a sua profunda sabedoria.

Em Dezembro de 2021, é transferido para o Centro Fratel Alfredo Fiorini, em Castel D'Azzano, porque necessita de cuidados mais específicos. Em julho de 2022, o Padre Franco Noventa chega ao Centro e torna-se seu companheiro de quarto. Com ele, o Padre Pierluigi não só partilha o espaço, mas também muitos momentos em que se aproxima dele, fica com ele, fala com ele, reza com ele enquanto o Padre Franco pode, depois reza por ele e apoia-o com a sua proximidade e afecto. O Padre Franco morreu a 12 de Outubro de 2024. Dois dias depois, na segunda-feira 14, o Padre Pierluigi junta-se a ele na casa do Pai Celestial.

O projecto de o enterrar no santuário mariano de Ciudad Constitución fracassou à última hora. O corpo está sepultado no cemitério da sua cidade natal, Zanica.

O Padre Cadé tinha um correio electrónico com um nome curioso: patriarca58@gmail.com. Era, talvez, como ele realmente se sentia e como queria ser recordado. Muitos dos que o conheceram gostam também de o recordar como um patriarca do Antigo Testamento, carregado de anos, mas sobretudo de sabedoria e de leveza, adquiridas ao longo do caminho da vida. O endereço electrónico contém um número: "58". São os dois últimos algarismos do ano da sua ordenação sacerdotal: 1958. Há sessenta e seis anos! Sim, talvez fosse precisamente a este tipo de pessoas que Jesus se referia quando falou do pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas (cf. Mt 13,52). (Padre Giovanni Munari, mccj).