Domingo, 12 de Outubro de 2025
Ajudar a perceber que a missão é constitutiva do cristianismo e, por isso, é um dos pilares centrais da sinodalidade; e que as dinâmicas de comunhão e participação que a Igreja é convidada a concretizar devem levá-la a abrir-se à universalidade e a propor a mensagem libertadora do Evangelho e a comunhão com Jesus a todos os povos – foram os objectivos fundamentais das Jornadas Missionárias sobre “Sinodalidade e Missão” que decorreram em Fátima, nos passados dias 20 e 21 de Setembro.

“A sinodalidade é a maneira de ser da Igreja de Jesus, que é uma comunidade de irmãos e não uma estrutura monárquica”, diz ao 7MARGENS o padre José Rebelo, director das Obras Missionárias Pontifícias (OMP) e missionário comboniano. “Essa maneira de ser fraternal requer que se envolvam as pessoas não só na execução dos programas, mas desde logo na sua discussão, concepção e elaboração. Ouvi-las e respeitá-las é um sinal de respeito pelo trabalho do Espírito Santo que sopra onde e como quer.”

Recordando que o próprio documento final do recente sínodo diz que a sinodalidade “não é um fim em si mesma, mas visa a missão que Cristo confiou à Igreja no Espírito”, e que “evangelizar é a missão essencial da Igreja” e a “sua identidade profunda”, aquele responsável diz que “uma Igreja sinodal é, por natureza, missionária: mesmo a comunhão entre os fiéis e a sua participação tem como finalidade a missão. A melhor definição da Igreja é ‘Igreja sinodal missionária’”, acrescenta.

Essa é a justificação para que um dos temas importantes das jornadas seja “perceber como a acção missionária é o paradigma de toda a obra da Igreja”, na linha do que dizia o Papa Francisco. “Trata-se de uma afirmação ousada”, diz o padre Rebelo, “com a qual o Papa quis dizer que para passar de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária é preciso olhar para o que é feito no campo da primeira evangelização e deixar-se inspirar pelo trabalho dos missionários na dinâmica pastoral das comunidades”.

Também por essas razões as jornadas incluem vários testemunhos. “O mais impactante será certamente” o da irmã Maria de Fátima Magalhães, autora do livro Encontros de graça, uma bulldozer pastoral e missionária, em Elvas, sugere José Rebelo. Na sessão dedicada aos testemunhos intervirão ainda Catarina António e Gabriel de Deus. A primeira fez várias experiências de voluntariado missionário desde 2005 (Moçambique, Timor, Brasil) e trabalha na Fundação Fé e Cooperação há 11 anos. Gabriel é enfermeiro e fez um mês de voluntariado, em Moçambique, em 2024, com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus.

Nas jornadas são esperadas cerca de 100 participantes. Um número reduzido? “Sendo a dimensão missionária constitutiva da Igreja e transversal a todas as áreas, esperar-se-ia que tivesse o acolhimento e participação da parte das dioceses e paróquias deste país, pelo menos igual ao que têm as iniciativas da liturgia e da catequese, mas infelizmente ainda não há essa sensibilidade missionária”, lamenta o director das OMP.

Arquivo dos cortes da Censura fascista à revista Além-Mar, dos Missionários Combonianos em Portugal, 
durante o Estado Novo: nem sempre a intervenção dos missionários era bem vista.

Quatro obras numa só, vindas dos séculos XIX e XX

As jornadas começam às 10h00 da manhã de sábado com duas intervenções do padre César Silva, dos Missionários do Verbo Divino, sobre a sinodalidade nas Escrituras e sobre a dimensão sinodal missionária da Igreja. À tarde, será o padre Pedro Fernandes, dos Missionários Espiritanos, a aprofundar a acção missionária como paradigma de toda a Igreja. Um debate por grupos e os testemunhos já referidos completam os trabalhos do dia. No domingo, a irmã Fátima Magalhães fará a sua intervenção sobre “Formar um povo de discípulos missionários”.

As Obras Missionárias Pontifícias (OMP) são uma instituição da Igreja Católica de âmbito universal, que tem como finalidade “desenvolver a consciência missionária da missão universal, promovendo as vocações missionárias, favorecendo entre as Igrejas o intercâmbio de valores espirituais e de recursos materiais. Incluem quatro obras distintas, dirigidas por um único conselho geral, com sede em Roma.

Uma delas é a Obra da Propagação da Fé, fundada em 1818 por Paulina Maria Jaricot em Lyon (França), depois de uma campanha de oração que se alargou à criação de um fundo de ajuda às missões e ao desenvolvimento da formação. A Obra da Infância Missionária foi criada em 1843 por Carlos Forbin-Janson, bispo de Nancy (França), depois de ter conhecido a realidade descrita pelos missionários que evangelizavam a China e com os quais possuía estreita ligação desde a adolescência. Com Paulina Jaricot, lançou a iniciativa de cada criança de França rezar uma oração por dia e dar uma moeda por mês para ajudar as crianças da China. Também em França, em 1889, surgiu com Joana Bigard e a sua mãe a Obra de São Pedro Apóstolo, para apoiar a formação do clero católico do Japão, através do bispo de Nagasaki com quem se correspondiam.

A Obra União Missionária, fundada por Paulo Manna, missionário do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras em processo de canonização, pretende animar e formar todos os batizados na sua responsabilidade missionária. Manna percebeu que havia pouca consciência missionária por parte do clero e quis despertar os padres para a missão além-fronteiras, a partir da vocação missionária de cada baptizado. A obra foi aprovada em 1916 pelo Papa Bento XV.

António Marujo – 7Margens