Nós hoje entramos na Semana Maior, na mais santa das semanas do ano. É uma semana para nós muito significativa porque temos oportunidade na liturgia de reviver o mistério pascal do Senhor, sentindo que este relato é a nossa coluna dorsal, que este relato é a nossa arquitetura íntima, que nós somos moldados por este relato, que ele é confiado a cada um de nós como se Jesus viesse bater à nossa porta. (...)

A Lei do Burro
Domingo de Ramos e a Paixão do Senhor

Mateus 21,1-11 (bênção das palmas)
Mateus 26,14-27,66 (paixão do Senhor)

Com o Domingo de Ramos e a Paixão do Senhor iniciamos a Semana Santa, também chamada a Semana Maior. Após os quarenta dias de preparação, entramos na celebração do mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus (Tríduo da Páscoa). Um mistério tremendo e inefável, sombrio e luminoso, perante o qual ficamos espantados, atónitos e incrédulos: "Quem teria acreditado na nossa revelação?" (Isaías 53:1). A Igreja e os seus filhos vivem esta semana como um retiro espiritual, em comunhão íntima com o seu Senhor. A forma como vivemos estes dias é um dos sinais da profundidade ou não da nossa fé.

Domingo de Ramos, o burro e o seu potro

Este domingo tem duas faces, duas partes distintas. A primeira: o rito das palmas, seguido da procissão, caracterizada pela alegria e entusiasmo, sinal profético do triunfo da vida. A segunda: a Eucaristia, com a proclamação da Paixão, marcada pela tristeza, fracasso e morte.

Do evangelho da bênção das palmas (Mateus 21,1-11) gostaria de chamar a atenção para dois dos seus protagonistas: a multidão e o jumento.

Em primeiro lugar, a multidão que acompanha Jesus na sua entrada 'triunfal' em Jerusalém, aclamando-o como o Messias e causando alvoroço na cidade: "Toda a cidade estava agitada e perguntava: "Quem é este homem? E a multidão respondia: 'Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia'". Geralmente identificamos esta multidão, presumivelmente constituída principalmente por galileus, com a multidão que dias mais tarde exigiria a crucificação de Jesus. Pessoalmente, considero esta identificação incorrecta e improvável. Numa cidade que, com os seus subúrbios, tinha cerca de 100.000 habitantes e podia acolher até 200.000 peregrinos na Páscoa, esta multidão de galileus, aliás considerada exaltada, acabaria naturalmente por se dispersar, talvez mesmo desapontada com as suas expectativas messiânicas em relação a Jesus. A multidão que apelava à morte de Jesus, por outro lado, era manipulada pelas autoridades religiosas da cidade e era certamente constituída por habitantes da Judeia. Em qualquer caso, uma "fé" alimentada por um entusiasmo fácil e ambíguo acaba sempre por ser efémera e fundada nas areias do sentimento.

O messianismo de Jesus exige uma profunda mudança de mentalidade. É por isso que Jesus retoma uma profecia messiânica esquecida, que apresenta um humilde e manso messias que ao cavalo prefere o burro, um animal de carga (que carrega o peso dos outros) e de grandes orelhas (que escuta): "Eis que a vós vem o vosso rei, manso, sentado num burro e num jumentinho, filho de uma besta de carga" (Zacarias 9:9; ver também Génesis 49:11). Jesus é o Messias que carrega os nossos fardos na cruz: "tomou sobre si os nossos sofrimentos, suportou as nossas dores" (Isaías 53,4). Consequentemente, o cristão deve também fazer o mesmo: "Carregai os fardos uns dos outros: assim cumprireis a lei de Cristo" (Gálatas 6,2). "Porque toda a lei de Cristo é a lei do jumento" (Silvano Fausti).

"Quando o cristianismo, a Igreja, cada um de nós, sabendo que o único modo de existência é viver como o jumento, começará a piscar o olho ao 'mundo', aos reis e aos poderosos da terra, desejando viver e ser como eles através do poder, riqueza e sucesso, então uma espécie de trágica hibridização terá lugar. Nós, feitos para viver como jumentos, vamos unir-nos ao cavalo, desde sempre símbolo do poder mundano, e o resultado será encontrarmo-nos como mulas, animais estúpidos, mas acima de tudo "animais estéreis". (Paolo Scquizzato).

Memórias pessoais...

O Domingo de Ramos evoca em mim memórias nostálgicas da infância. Rapazes e jovens, aos sábados íamos à montanha à procura de um belo ramo de louro, tão alto quanto possível, que depois decoraríamos com flores. Aos domingos, a igreja parecia uma floresta ondulante, com plantas até vários metros de altura, perfumando todo o interior do templo. Hoje em dia, os ramos são frequentemente tão pequenos e estilizados que são reduzidos a um símbolo "insignificante", como tantos outros elementos da nossa liturgia, infelizmente.

Outra memória remonta à Páscoa de 2002, que eu passei em Jerusalém. No Domingo de Ramos, toda a comunidade cristã descia do Monte das Oliveiras brandindo ramos de oliveira e cantando com alegria e entusiasmo. Lembro-me de algumas crianças palestinianas a atirar-nos pedras. Uma memória que me faz pensar em tantos cristãos que não podem professar livremente a sua fé nesta Páscoa. Eles são 360 milhões (um em cada cinco cristãos em África, dois em cada cinco na Ásia e um em cada 15 na América Latina).

Os meus pensamentos vão também para as muitas celebrações da Páscoa em África, caracterizadas pela juventude e entusiasmo, um sinal de uma nova igreja que avança e traz nova vitalidade ao antigo cristianismo. E nós precisamos mesmo dela!

Algumas propostas para interiorizar a Paixão segundo Mateus (26:14-27:66)

A narrativa da paixão é a parte mais antiga dos evangelhos e poderíamos dizer que é a sua espinha dorsal. Os quatro evangelistas seguem a mesma trama, mas cada um tem a sua forma particular de tecer a narrativa da paixão, com diferentes perspectivas teológicas e catequéticas e detalhes particulares. Mateus sublinha o cumprimento das Escrituras, particularmente o "Servo sofredor" do profeta Isaías e o Salmo 21 (22). Jesus antes de ser palavra é ouvido (Isaías 50,5).

Uma forma de abordar a longa narrativa da paixão poderia ser fixar a nossa atenção em cada personagem que intervém neste drama (há tantos: entre grupos e indivíduos há cerca de trinta!) e perguntarmo-nos em quem nos vemos espelhados. Cada um de nós tem a sua parte neste drama. Cada pessoa que intervém desempenha um papel no qual a Escritura é cumprida. Que palavra é cumprida em mim?

"Ide à cidade ter com um tal e dizei-lhe: 'O Mestre diz: O meu tempo está próximo; farei a Páscoa em tua casa com os meus discípulos'". Um tal! Como é que ele não tem nome? Porque esse tal sou eu! O Senhor quer fazer a Páscoa comigo. Ele não vem sozinho, mas com os seus! O que devo fazer para o acolher?

Arranja-te um galo!

Todos nós temos os nossos momentos de fraqueza e infidelidade. Se não tivermos um "galo" que nos acorde, arriscamo-nos a adormecer no nosso pecado. Este 'galo' é a Palavra de Deus e o cruzar dos nossos olhares com Jesus.

Boa entrada na Semana Santa!

P. Manuel João Pereira Correia, mccj
Castel d'Azzano (Verona) 30 de Março de 2023
[comboni2000]

Domingo de Ramos

“É em tua casa que Eu quero celebrar a Páscoa”

Queridos irmãs e irmãos,
Nós acabámos de ler a grande narrativa da Paixão de Jesus. Hoje nós sabemos que a primeira parte dos Evangelhos a ser escrita foi a Paixão de Jesus. Quando olhamos para os quatro evangelhos juntos (Mateus, Marcos, Lucas e João) nós percebemos que aquilo que eles têm de mais próximo, aquilo que é mais comum entre eles é a narrativa da Paixão. Quer dizer que a primeira coisa a ser escrita, aquilo que foi conservado na palavra, no relato, no testemunho, na conversa dos cristãos, aquilo que foi segredado ao ouvido, aquilo que iniciou cada cristão fazendo-o discípulo e discípula de Jesus foi o contacto com esta narrativa da Paixão.

Nós hoje entramos na Semana Maior, na mais santa das semanas do ano. É uma semana para nós muito significativa porque temos oportunidade na liturgia de reviver o mistério pascal do Senhor, sentindo que este relato é a nossa coluna dorsal, que este relato é a nossa arquitetura íntima, que nós somos moldados por este relato, que ele é confiado a cada um de nós como se Jesus viesse bater à nossa porta.

É muito interessante que logo no início do relato aparece-nos uma figura anónima. Os discípulos vêm perguntar a Jesus “Senhor, onde é que queres celebrar a Páscoa este ano?” e Jesus diz “Ide dizer a casa de tal pessoa: o Senhor mandou dizer «Este ano é em tua casa que Eu quero celebrar a Páscoa.»” Nós não sabemos que pessoa é essa, é um anónimo. Seria com certeza conhecido de Jesus e dos outros discípulos. Mas o facto de na narrativa permanecer anónimo permite hoje que cada um de nós, leitores auscultadores desta narrativa, sintamos, porque é mesmo assim, que o Senhor diz ”Olha, este ano é em tua casa que Eu quero celebrar a Páscoa.”

Cada um de nós sinta esta Palavra como uma palavra a si dirigida e, por isso, procuremos viver o mistério desta semana em intimidade com Jesus, em união espiritual com Ele. Tentando perceber o que é esta narrativa, tentando perceber como é que ela pode ser nossa, que mistério extraordinário é este da solidariedade de Jesus que desce ao fundo do abismo, da solidão, do silêncio de Deus, do abandono, do sofrimento de uma vítima, de um justo inocente. Ele desce até aos fundos abissais do sofrimento humano para me abraçar, para me resgatar, para dizer a cada momento da nossa vida: “Tu não estás só. Eu já estive aí, eu já estive aí.” No lugar da nossa dor, do nosso dilema, do nosso impasse, da nossa miséria, do nosso sofrimento, do que nós não conseguimos aceitar nem compreender. Jesus pode dizer com verdade ao nosso coração: “Eu já estive aí, Eu já estive aí.” Ele esteve em todos os lugares onde o homem é vítima, onde a nossa humanidade é crucificada. “Eu já estive aí. Por isso, eu posso estar contigo a cada momento da tua vida.” Sintamos que este relato hoje nos é confiado, confiado a cada um de nós. E o que vamos fazer com isto? O que vamos fazer com esta história?

Dois mil anos depois, num ponto do Ocidente distante da Palestina mas marcado de uma forma indelével por esta história, são os nossos ouvidos que escutam esta história, são os nossos ouvidos que ouvem esta notícia, somos nós que recebemos este apelo e somos nós que temos de sair destas portas e anunciar ao mundo que há um homem crucificado que diz que é o Salvador.

Pe. José Tolentino Mendonça, Domingo de Ramos

José Tolentino Mendonça
http://www.capeladorato.org

QUINTA-FEIRA SANTA 
Nesta tarde/noite a Igreja celebra a Ceia do Senhor fazendo memória daquela noite em que nosso Senhor Mestre e Salvador, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. Foi então que Nosso Senhor Jesus Cristo, celebrando com os seus discípulos o rito da Páscoa da antiga aliança, instituiu o memorial da nova Páscoa como sacrifício de aliança eterna. Fê-lo quando lhes deu a comer como pão o Seu Corpo entregue, e a beber o cálice do Seu Sangue derramado, confiando-lhes o encargo de perpetuar em Sua memória o que Ele mesmo então fazia. 
Com esse gesto tão denso e íntimo, Jesus exprimiu com antecedência o sentido salvador da Sua Paixão e Cruz, e instituiu o Sacramento que perpetuaria este gesto verdadeiramente singular e definitivo. Ao celebrar hoje a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, inauguramos de modo mais significativo o Sacratíssimo Tríduo Pascal de Cristo morto, sepultado e ressuscitado. Viveremos assim a Páscoa do Senhor iluminados pelo Santíssimo Sacramento com que Ele mesmo antecipou. 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (13,1-15) 
Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. No decorrer da ceia, tendo já o Demónio metido no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, a ideia de O entregar, Jesus, sabendo que o Pai Lhe tinha dado toda a autoridade, sabendo que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-Se da mesa, tirou o manto e tomou uma toalha, que pôs à cintura. Depois, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que pusera à cintura. Quando chegou a Simão Pedro, este disse-Lhe: «Senhor, Tu vais lavar-me os pés?» Jesus respondeu: 
«O que estou a fazer, não o podes entender agora, mas compreendê-lo-ás mais tarde.» Pedro insistiu: «Nunca consentirei que me laves os pés.» Jesus respondeu-lhe: «Se não tos lavar, não terás parte comigo.» Simão Pedro replicou: «Senhor, então não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça.» Jesus respondeu-lhe: «Aquele que já tomou banho está limpo e não precisa de lavar senão os pés. Vós estais limpos, mas não todos.» Jesus bem sabia quem O havia de entregar. Foi por isso que acrescentou: «Nem todos estais limpos.» Depois de lhes lavar os pés, Jesus tomou o manto e pôs-Se de novo à mesa. Então disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também.» 
Palavra da salvação. 
R/ Glória a Vós, Senhor. 

Depois da leitura do evangelho, podem todos ajoelhar-se e procurar adorar a Deus.  
V. Graças e louvores se deem a todo o momento. 
R. Ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento. 
Pai-Nosso... 
Ave-Maria... 
Glória ao Pai... 

ORAÇÃO 
Alma de Cristo, santificai-me. 
Corpo de Cristo, salvai-me. 
Sangue de Cristo, inebriai-me. 
Água do lado de Cristo, lavai-me. 
Paixão de Cristo, confortai-me. 
Ó bom Jesus, ouvi-me. 
Dentro das vossas Chagas, escondei-me. 
Não permitais que de Vós me separe. 
Do espírito maligno, defendei-me. 
Na hora da minha morte, chamai-me. E mandai-me ir para Vós, 
para que Vos louve com os vossos Santos, por todos os séculos. 
Ámen.

SEXTA-FEIRA SANTA 
Hoje, acompanhamos Jesus até à Cruz e até à morte, no nosso coração está semeada desde sempre a certeza da Ressurreição. Por isso, a tristeza deste dia não deve ser um teatro, como se fosse um “faz de conta”, mas uma verdadeira dor e tristeza pelos nossos pecados, que pregaram Jesus na Cruz. Assim sendo, este é um dia especial para aprender a morrer por amor, como Cristo, para aí experimentarmos que na morte nasce a esperança do homem novo. 

Leitura do Evangelho segundo São João (19,23-35) 
Quando crucificaram Jesus, os soldados tomaram as suas vestes, das quais fizeram quatro lotes, um para cada soldado, e ficaram também com a túnica. A túnica não tinha costura: era tecida de alto a baixo como um todo. Disseram uns aos outros: «Não a rasguemos, mas lancemos sortes, para ver de quem será.» Assim se cumpria a Escritura: 
«Repartiram entre si as minhas vestes e deitaram sortes sobre a minha túnica.» Foi o que fizeram os soldados. Estavam junto à cruz de Jesus sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Ao ver sua Mãe e o discípulo predileto, Jesus disse a sua Mãe: «Mulher, eis o teu filho.» Depois disse ao discípulo: «Eis a tua Mãe.» E a partir daquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa. Depois, sabendo que tudo estava consumado e para que se cumprisse a Escritura, Jesus disse: 
«Tenho sede.» Estava ali um vaso cheio de vinagre. Prenderam a uma vara uma esponja embebida em vinagre e levaram-Lha à boca. Quando Jesus tomou o vinagre, exclamou: «Tudo está consumado.» E, inclinando a cabeça, entregou o Espírito. Por ser a Preparação, e para que os corpos não ficassem na cruz durante o sábado, era um grande dia aquele sábado, os judeus pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Os soldados vieram e quebraram as pernas ao primeiro, depois ao outro que tinha sido crucificado com ele. Ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados trespassou-Lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. Aquele que viu é que dá testemunho e o seu testemunho é verdadeiro. Ele sabe que diz a verdade, para que também vós acrediteis. 

Palavra da salvação. 
R/ Glória a Vós, Senhor. 

Este tempo pode terminar com um gesto de adoração à Cruz, em família. A Cruz que preside ao lugar de oração pode ser reverenciada por todos, de algum modo, neste momento. Assim, neste gesto de adoração, expressamos que queremos assumir na nossa vida o estilo da vida de Cristo. 

No final, todos juntos podem rezar a seguinte oração: 

ORAÇÃO
Eis-me aqui, ó bom e dulcíssimo Jesus; prostrado de joelhos diante da vossa Divina presença,  Vos peço e suplico, com o mais ardente fervor, que imprimais no meu coração vivos sentimentos de fé, esperança e caridade, e um verdadeiro arrependimento dos meus pecados,  com vontade firmíssima de os emendar; enquanto eu, com grande afeto e dor de alma,  considero e medito nas vossas Cinco Chagas, tendo diante dos olhos o que já o Santo Profeta David dizia por Vós, ó bom Jesus: «Trespassaram as minhas mãos e os meus pés, e contaram todos os meus ossos.» 

V/ Deus eterno e omnipotente, cujo Espírito santifica e governa todo o corpo da Igreja, ouvi as súplicas que Vos dirigimos por todos os membros da comunidade cristã, e fazei que, ajudados pela vossa graça, todos Vos sirvam com fidelidade. Por Cristo, Nosso Senhor. 
R/ Ámen. 
V/ Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. 

R/ Para sempre seja louvado e sua Mãe Maria Santíssima 

SÁBADO SANTO 
“Esta é aquela noite” em que o tempo e a eternidade deram as mãos, em que o desígnio do amor de Deus que excede todo o desejo, e toda a expectativa humana se corporizou em salvação e História Santa. Aquela noite é esta: 
A noite da Páscoa cósmica em que a Palavra do Criador das trevas acedeu a luz; 
É a noite da Páscoa Histórica em que se condensa toda a história sagrada: o novo povo é redimido de todas as servidões e a ressurreição de Cristo, cumprindo todas as suas promessas, inaugura o Dia do Senhor; 
É a noite da Páscoa Ritual em que a verdade toma lugar das figuras quando a Igreja, na fração do pão e no cálice da bênção, encontra e reconhece o Ressuscitado, transbordante de Espírito; 
É a noite da Páscoa da Igreja em que a verdadeira árvore floresce em primavera esplendorosa com novos rebentos e alarga os seus ramos, em que o Corpo de Cristo, revestido com a sua túnica de alvura, cresce com novos membros. 
É a noite da Páscoa que há de vir que o senhor celebrará com os seus amigos no Reino dos céus e em que a Igreja, vencendo a noite com a Vigília, entra no Dia sem ocaso que o Senhor fez para a nossa alegria. 

Leitura do Evangelho segundo São Mateus (28,1-10) 
Depois do sábado, ao raiar do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram visitar o sepulcro. De repente, houve um grande terramoto: o Anjo do Senhor desceu do Céu e, aproximando-se, removeu a pedra do sepulcro e sentou-se sobre ela. O seu aspeto era como um relâmpago e a sua túnica branca como a neve. Os guardas começaram a tremer de medo e ficaram como mortos. O Anjo tomou a palavra e disse às mulheres: «Não tenhais medo; sei que procurais Jesus, o Crucificado. Não está aqui: ressuscitou, como tinha dito. Vinde ver o lugar onde jazia. E ide depressa dizer aos discípulos: “Ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós para a Galileia. Lá O vereis.” Era o que tinha para vos dizer.» As mulheres afastaram-se rapidamente do sepulcro, cheias de temor e grande alegria, e correram a levar a notícia aos discípulos.  Jesus saiu ao seu encontro e saudou-as. Elas aproximaram-se, abraçaram-Lhe os pés e prostraram-se diante d’Ele. Disse-lhes então Jesus: «Não temais. Ide avisar os meus irmãos que partam para a Galileia. Lá Me verão.» 
Palavra da salvação. 
R\ Glória a vos Senhor 

Cada um acende a sua vela e todos juntos rezam o Credo, na forma do Símbolo dos Apóstolos: 

Creio em Deus, Pai todo-poderoso, 
Criador do Céu e da Terra, e em Jesus Cristo, seu único Filho,  
nosso Senhor que foi concebido pelo poder do Espírito Santo;  
nasceu da Virgem Maria; padeceu sob Pôncio Pilatos,  
foi crucificado, morto e sepultado; 
desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos Céus; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. 
Creio no Espírito Santo; na santa Igreja Católica; na comunhão dos Santos; na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; e na vida eterna. 
Ámen. 

ORAÇÃO 
V/ Deus todo-poderoso, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos fez renascer pela água e pelo Espírito Santo e nos perdoou todos os pecados, nos guarde com a sua graça, para a vida eterna, em Jesus Cristo, Nosso Senhor. 
R/ Ámen. 
V/ Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. 
R/ Para sempre seja louvado e sua Mãe Maria Santíssima 

DOMINGO DE PÁSCOA 
O Domingo de Páscoa é o grande dia solene para os cristãos. É o dia de encontro com o Senhor Ressuscitado. Com efeito, há uma nova fase da História que começa com a Ressurreição: a realidade humana tem as portas abertas para a eternidade. Vivemos aqui na terra e sabemos que somos frágeis e débeis. As últimas semanas têm-nos ensinado como algo que não conseguimos ver com os nossos olhos nos pode causar tanto medo e destruição. Celebramos a Ressurreição de Jesus como o grande acontecimento pelo qual só podemos louvar a Deus com o canto de alegria: Aleluia! 

Leitura do Evangelho segundo São João (20,1-9) 
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo que Jesus amava e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram.» Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se, correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro. Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro: viu e acreditou. Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos. 
Palavra da Salvação. 
R/ Glória a Vós, Senhor. 

Este tempo de oração pode terminar com a oração conjunta a partir da Sequência Pascal, rezada nas missas de hoje:

À Vítima pascal, ofereçam os cristãos sacrifícios de louvor 
O Cordeiro resgatou as ovelhas: Cristo, o Inocente,  
reconciliou com o Pai os pecadores. 
A morte e a vida travaram um admirável combate: depois de morto, vive e reina o Autor da vida. Diz-nos, Maria: 
Que viste no caminho? 
Vi o sepulcro de Cristo vivo, e a glória do Ressuscitado. 
Vi as testemunhas dos Anjos, vi o sudário e a mortalha. 
Ressuscitou Cristo, minha esperança: precederá os seus discípulos na Galileia.  Sabemos e acreditamos: Cristo ressuscitou dos mortos:  Ó Rei vitorioso, tende piedade de nós. 

ORAÇÃO 
V/ Rainha do Céu, alegrai-vos, Aleluia! 
R/ Porque Aquele que merecestes trazer em vosso ventre, Aleluia! 
V/ Ressuscitou como disse, Aleluia! 
R/ Rogai por nós a Deus, Aleluia! 
V/ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria, Aleluia! 
R/ Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente, Aleluia! 
V/ Oremos: Ó Deus, que Vos dignastes alegrar o mundo com a Ressurreição do vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, concedei-nos, Vos suplicamos, a graça de alcançarmos pela proteção da Virgem Maria, sua Mãe, a glória da vida eterna. Pelo mesmo Cristo Nosso Senhor. 
R/ Ámen.

Não desças da cruz

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 26,14-27,66 que corresponde ao Domingo de Ramos, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Segundo o relato Evangélico, os que passavam diante de Jesus crucificado zombavam dele e, rindo-se do seu sofrimento, faziam duas sugestões sarcásticas: se és o Filho de Deus, “salva-te a ti mesmo” e “desce da cruz”.

Essa é exatamente a nossa reação perante o sofrimento: salvar-nos a nós mesmos, pensar apenas no nosso bem-estar e, portanto, evitar a cruz, passarmos a vida evitando tudo o que nos pode fazer sofrer. Será também Deus como nós? Alguém que só pensa em si mesmo e na sua felicidade?

Jesus não responde à provocação daqueles que zombam dele. Não pronuncia qualquer palavra. Não é o momento de dar explicações. Sua resposta é o silêncio. Um silêncio que é respeito por quem o despreza e, acima de tudo, compaixão e amor.

Jesus apenas quebra o seu silêncio para dirigir-se a Deus com um grito desgarrador: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”. Não pede que o salve baixando da cruz. Só que não se oculta nem o abandona neste momento de morte e sofrimento extremo. E Deus, seu Pai, permanece em silêncio.

Somente ouvindo a profundidade deste silêncio de Deus, descobrimos algo de seu mistério. Deus não é um ser poderoso e triunfante, calmo e feliz, alheio ao sofrimento humano, mas um Deus calado, indefeso e humilhado, que sofre conosco a dor, a escuridão e até a própria morte.

Por isso, ao contemplar o Crucificado, a nossa reação não pode ser de zombaria ou desprezo, mas de oração confiante e agradecida: “Não desças da cruz. Não nos deixes só na nossa aflição. De que nos serviria um Deus que não conhecesse o nosso sofrimento? Quem nos poderia entender?”.

A quem poderiam esperar os torturados de tantas prisões secretas? Onde poderiam colocar a sua esperança tantas mulheres humilhadas e violentadas sem qualquer defesa? A que se agarrariam tantos doentes crônicos e os moribundos? Quem poderia oferecer conforto às vítimas de tantas guerras, terrorismo, fome e miséria? Não. “Não desças da cruz; pois se não te sentirmos ‘crucificado’ junto de nós, ficaremos mais ‘perdidos’”.
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