P. Fulvio Cristoforetti (03.02.1931 – 19.09.2008)
O P. Fulvio Cristoforetti nasceu em Avio (Trento) a 3 de Fevereiro de 1931 numa família profundamente cristã. «Esta é a base da minha vocação. Sou um presente de Deus aos meus pais, juntamente com os outros cinco irmãos e irmãs». Aos doze anos entrou no Seminário de Trento mas, por causa da guerra e dos bombardeamentos, os seminaristas foram mandados para casas paroquiais de província. Durante o Liceu os superiores mandaram-no para Muralta, para a Escola Apostólica dos Combonianos. A partir daí começou a crescer o desejo de se tornar missionário, desejo que pôde satisfazer nos últimos tempos da teologia.
Entrado no noviciado de Gozzano, fez os primeiros votos a 21 de Junho de 1958. A 14 de Setembro de 1958 foi ordenado sacerdote na paróquia da sua terra, com grande alegria dos familiares e paroquianos. Foi mandado para Carraia para preparar o ambiente em vista do novo ano escolar. Passou os primeiros três anos de ministério com os alunos de Liceu de Carraia que à sua chegada eram 96 e, no terceiro ano, tinham subido para 127.
Em 1961 foi mandado para os Estados Unidos para aprender inglês, na paróquia de St. Anthony em Cincinnati, como ajudante do P. Alfredo Paolucci. «Comecei a estudar o inglês e a empenhar-me em várias actividades. Ajudava particularmente as famílias de origem africana, os mais pobres e os doentes».
Partindo para o Uganda em 1963, foi destinado a Kasaala, diocese de Kampala, onde permaneceu durante 27 anos. «Fui recebido pela comunidade com muita alegria e procurei de imediato aprender a língua e conhecer os costumes daquele povo. O segredo de um bom sucesso é amar sinceramente a gente que Deus põe no nosso caminho. Amá-los a todos como se fossem a nossa família. Para mim aqueles anos foram um tempo de alegria indescritível, e também um período para solidificar a minha fé». Aqui o P. Fulvio preparava os cristãos e os catequistas para se tornarem responsáveis das comunidades cristãs.
A 28 de Setembro de 1983 deu-se o acidente que mudou o curso da sua vida. Enquanto, acompanhado pelo P. Guglielmo Maffeis, conduzia o carro em direcção a Magoma e Butiikwa, foi atacado por alguns rebeldes que começaram a disparar contra o condutor e com o golpe de bazooka destruíram o motor. O P. Fulvio, ferido em diversas partes do corpo, viu os rebeldes aproximarem-se e, chegados perto de si, puseram-se a cochichar. Depois um deles exclamou: “Lamentamos, padre, não era a ti que queríamos matar” e desapareceram. À chegada dos soldados, o ferido foi trnasportado para a missão e depois, de Kasaala, com um meio de transporte um pouco mais confortável para tentar atenuar as fortes dores que os ferimentos lhe causavam, para o Kampala-Nsambya Hospital.
Dadas as graves condições, foram-lhe feitas transfusões de sangue e foi operado de urgência. “Também neste caso vi a vontade de Deus e agradeci várias vezes a quem me deu o sangue salvando-me, embora me tenha sido transmitido o vírus VIH. Durante a primeira semana de hospital, era conduzido diariamente à sala de operações onde um médico ugandês me anestesiava e o Sr. Miriam me operava as feridas e as fracturas. Diariamente havia também os tratamentos a cargo de duas enfermeiras: eram duas horas de calvário devido às dores que tinha de suportar, especialmente quando desinfectavam as feridas e tocavam algum nervo.
Segundo as melhores previsões dos médicos, podia sobreviver mas ficaria paralisado. Ao contrário, depois de um período com as canadianas, consegui progressivamente movimentar-me e agora consigo caminhar normalmente. Tendo recuperado bastante a saúde, voltei para Itália para a operação ao ouvido direito, danificado durante o tiroteio.
O Senhor concedeu-me voltar para o Uganda, ao seio da minha gente em Kasaala, onde continuei a partilhar as suas dificuldades na difícil situação de guerra. Em Setembro de 1985 um grupo de soldados, apoiantes de Amin, viera ao nosso distrito de Luweero com ordens precisas de exterminar a população. Só com a fuga nocturna, escapámos à sua fúria. Deus protegeu-nos. Primeiro pede a nossa colaboração e depois, Ele realiza os milagres e a nós cabe apenas anunciar as suas maravilhas.
De 1990 a 1996 o P. Fulvio trabalhou na paróquia de Kampala. Em 1997 foi transferido para o CAA de Milão, onde esteve durante um ano, e depois para a casa de Arco, onde passou o resto dos seus anos (1999-
-2007). «Desde há anos vivo na nossa comunidade de Arco, periodicamente faço exames clínicos e revejo como numa visão todo o passado, recordando o Uganda que permanecerá para sempre no meu coração como minha segunda pátria».
Devido ao agravar-se da doença, o P. Fulvio voltou para Milão no início de 2008. O P. Antonio La Salandra, que o visitou dois dias antes de ele falecer, escreve: «Aquele leito foi o seu altar, sobre o qual ofereceu o seu sacrifício juntamente com o de Cristo no calvário. O P. Fulvio identificou-
-se com Cristo na Cruz como oferta agradável a Deus. O Instituto e todos os Combonianos sentem-se orgulhosos de tal exemplo nestes momentos em que são importantes os testemunhos autênticos do Evangelho».
O P. Fulvio expirou a 19 de Setembro de 2008. O funeral foi celebrado na nossa igreja de Milão e no dia seguinte na sua terra natal de Avio.