In Pace Christi

Vantini Giovanni

Vantini Giovanni
Data de nascimento : 01/01/1923
Local de nascimento : Villafranca/VR/I
Votos temporários : 07/10/1941
Votos perpétuos : 07/10/1946
Data de ordenação : 31/05/1947
Data da morte : 03/05/2010
Local da morte : Verona/I

O P. Giovanni Vantini nascera a 1 de Janeiro de 1923 em Villafranca (VR). Entrou para a escola apostólica de Brescia em 1939, proveniente do seminário episcopal de Verona. Passou para o noviciado em Venegono em Agosto desse ano e emitiu os primeiros votos a 7 de Outubro de 1941. Prosseguiu os estudos em Verona onde, a 7 de Outubro de 1946, fez a profissão perpétua e, a 31 de Maio de 1947, foi ordenado sacerdote.

Logo a seguir à ordenação foi destinado àquela que então se chamava a circunscrição de Cartum, no Norte do Sudão. No mês de Novembro partiu para Zahle (Líbano) para o estudo do árabe.

Falar do P. Giovanni Vantini não é fácil, tão rica era a sua personalidade e diversificada a sua actividade. Chegou à circunscrição de Cartum a 9 de Julho de 1949 e aí passou 58 anos. É de imediato destinado à paróquia da catedral, como encarregado do ministério; entretanto ensinava também na nossa Technical School. Em 1953, no termo do domínio anglo-egípcio, Mons. Agostino Baroni, desejoso de influenciar positivamente o novo curso com princípios sociais cristãos, decidiu abrir um jornal e pensou no P. Giovanni como director. Assim, em 1954, foi para Londres para um curso de jornalismo. Voltou no final do ano seguinte. No 1º de Janeiro de 1956, dia da independência do Sudão, publicou o primeiro número de As-Salaam (“A Paz”), um bimensal que «tirou de imediato 2.500 exemplares». Abuna Hanna, como era chamado por todos, de 1956 a 1958 habitou na Technical School, onde ensinava, e de 1958 a 1984 na sede do seminário menor, agora PALICA (Pastoral Liturgical Catechetical Center). De 1966 em diante foi responsável do «Sudan Catholic Information Office (SCIO)», em particular do sector notícias e estudos.

Em Dezembro de 1967 obteve a licenciatura em línguas e civilizações orientais no Instituto Universitário Oriental de Nápolis, com uma tese sobre as escavações de Faras. Publicou um extracto da tese em inglês (Bolonha 1972). Depois reuniu num único volume todos os testemunhos sobre a Núbia dispersas nas fontes árabes e outras línguas orientais traduzidas em inglês: «Oriental Sources concerning Núbia» (Heidelberg-Warszava 1975). Publicou também uma «Storia del Cristianesimo nella Núbia» em árabe (Cartum 1978) e uma reconstrução do mesmo em italiano «Il Cristianesimo nella Núbia antica» (Bolonha 1985).

Em 1976 tivera um enfarto e recebera a unção dos enfermos, mas após três meses passados no Cairo, restabeleceu-se e retomou o trabalho de sempre. De 1968 a 1980 teve também o encargo de produzir programas de rádio em árabe para o Sul do Sudão. De 1981 em diante ensinou história do mundo árabe e religião na Sisters School, das Irmãs Combonianas, religião no pré-seminário de Santo Agostinho, nos catecumenados e no Club Sergi. Foi docente de História das Religiões na Universidade de Asmara durante três períodos em 1973-1974 e 1977. Em 1978 substituiu o P. Attilio Laner nas visitas mensais à paróquia de Shendi. De 1989 a 2007 permaneceu em Omdurman como vice-pároco. Trabalhou na tradução em árabe e na preparação de catecismos e outros subsídios didácticos e litúrgicos para o Norte e o Sul do Sudão. Deu também cursos de língua árabe para missionários e religiosas.

A propósito das escolas católicas, em Junho de 1982 o P. Giovanni escrevia ao superior geral, P. Salvatore Calvia: «Em Cartum temos, além do CCK (Comboni College Khartoum), outras escolas desde Kindergarten às secundárias: total cerca de 10.000 alunos (media dos últimos cinco anos). Pense na influência que assim se exerce sobre a sociedade. Os alunos são na grande maioria muçulmanos e são os seus próprios pais que os confiam a nós (pagando mesmo) para que os instruamos. Após 8-10 anos quase todos estes alunos conhecem-nos bem a nós e à Igreja e em grande parte tratam-nos como amigos».

Escreve o P. Salvatore Pacifico, provincial de Cartum: «O P. Giovanni era um grande trabalhador. Quem faz por si faz por três, era o seu mote. Fazia esforço em se adaptar aos ritmos lentos do trabalho em equipa, ou melhor, ao ritmo do trabalho dos outros em geral. Era bastante reticente em comunicar aos outros os seus numerosos empenhos. De facto, muitas vezes os confrades vinham a saber por acaso que tinha estado na Polónia ou na Alemanha para uma conferência importante. Era incapaz de dizer não, sobretudo se se tratava de ensinar ou de acompanhar um grupo de catecúmenos, de dar uma conferência, de acompanhar um grupo de confrades ao museu nacional, de dar conselhos a um estudante sobre uma pesquisa para a licenciatura. Chegou a ter 32 horas de aulas por semana, quando normalmente um professor tem apenas uma vintena. E depois das horas de aula, havia as horas extra. A seu pedido, durante anos, ensinou religião cristã aos indianos hindus, para que pudessem obter o Sudan Certificate. Nas horas vagas ensinava árabe a muitos missionários acabados de chegar. Era disponível para os doentes e as visitas às famílias. Durante alguns anos foi professor semestral na universidade aberta das combonianas em Asmara. Mas não desdenhava ensinar religião nas escolas do ensino básico, e fê-lo durante décadas. Era muito claro na exposição: fazia-se compreender tanto pelo intelectual como pelo catecúmeno analfabeta. Dominava tão bem o árabe que conseguia adaptar-se a todas as situações.

A sua verdadeira vocação foi a de evangelizador. Tinha vindo para África como missionário e assim se manteve. Tinha a paixão do anúncio, embora nem todos se apercebessem disso. O Irmão Michele Sergi pôde de imediato contar com ele quando abriu aquilo que depois, popularmente, foi chamado o Club Sergi: um lugar de encontro no centro de Cartum, onde os sudistas que chegavam, precisamente do Sul, podiam reencontrar-se, aprender a ler e a escrever, e assimilar o catecismo.

Também quando participou nas escavações na Núbia, em colaboração com uma missão arqueológica polaca (1960-1964), fê-lo no contexto da sua vocação de evangelizador: considerava importante que os Sudaneses reencontrassem as suas origens cristãs e fossem conscientes de que o Sudão tinha sido grande muito antes de ser islamizado, ao contrário do que quereriam fazer crer alguns livros de história.

Foi testemunha do nascimento e do crescimento da Igreja no Norte do Sudão, dia após dia. Quando chegara a Cartum, em 1949, os católicos eram cerca de 50.000, quase todos de origem estrangeira, na maioria sírios e libaneses. Cinquenta anos depois, tinham-se tornado quase um milhão: muitos estrangeiros tinham-se ido embora e tinha nascido uma Igreja sudanesa de sudaneses sudistas e Nuba. Nos anos cinquenta, a diocese abriu um centro de acolhimento perto do mercado de Cartum, o «Welfare Center». Era aberto aos que vinham de fora, Nuba inicialmente, mas depois também aos sudistas, gente que chegava a Cartum e não sabia a que porta bater. Aí trabalhavam também o P. Carlo Muratori, P. Elio Soriani, P. Igino Benini e outros. O Welfare Center tornou-se, a partir de 1958, a residência do P. Giovanni que aí permaneceu durante 26 anos. Foi aí que deu vida ao SCIO (Sudan Catholic Information Office). Com meios rudimentares preparava programas cristãos dominicais que transmitia pela Rádio Omdurman. Continuou a publicar o jornal católico As-Salaam, iniciado dois anos antes na escola técnica. Entretanto continuava a manter os contactos com a missão arqueológica polaca da qual tinha feito parte. Em 1967 licenciou-se no Instituto Oriental de Nápolis, no Departamento de Línguas e Civilizações Orientais. Entretanto continuava a ensinar na Sisters School, no pré-seminário St. Augustine que tinha sido aberto no mesmo estabelecimento do Welfare Center, no Club Sergi; e a dar aulas de árabe em pelo menos dois conventos de religiosas.

E tudo o que fazia, fazia-o com meticulosidade e competência. E sempre com o espírito de evangelizador. Nunca foi um intelectual abstracto. Em 1989, quando foi destinado a Omdurman como vice-pároco, na carta de destinação, o provincial pedia-lhe para «colaborar em particular no catecumenato, pondo a render a sua experiência na catequese bíblica e o conhecimento do árabe, e para tomar a peito a formação dos catequistas». Durante muitos anos foi também pároco de Shendi (150 km de Cartum) onde se estava a formar uma comunidade cristã. Ia aí regularmente dois fins-de-semana por mês, de sábado a segunda. Não podendo residir no local, conseguira que o catequista levasse por diante o trabalho com responsabilidade. Teve a sorte de poder contar com um grande catequista, o Anselmo.

Lia e estudava muito e, entre os muitos livros, sabia encontrar os adequados. Na casa provincial de Cartum há ainda seis armários onde se conservam livros seus. Tinha uma memória formidável, lúcida até ao fim: era uma verdadeira biblioteca ambulante».

O seu último esforço foi La Missione del Cuore – I comboniani in Sudan nel ventesimo secolo, publicado em Maio de 2005 (Emi, Bolonha). Em 92 páginas, o P. Giovanni repercorre toda a história comboniana no Sudão, fruto do seu conhecimento directo da situação eclesial e civil. Uma mina de informações. No fim deste seu imenso trabalho de pesquisa, o P. Giovanni expressou lapidariamente a sua impressão: Digitus Dei est hic (aqui está o dedo de Deus).

Em 2007 teve de voltar para Itália devido a doença e foi para o Centro de Doentes de Verona, onde passou os seus últimos anos, ainda empenhado em pesquisas históricas. Faleceu em Verona a 3 de Maio de 2010. O funeral foi celebrado no Catedral de Villafranca e foi sepultado no túmulo de família.