In Pace Christi

Garavello Giuseppe

Garavello Giuseppe
Data de nascimento : 24/02/1924
Local de nascimento : Pontecchio Polesine (I)
Votos temporários : 07/10/1943
Votos perpétuos : 24/09/1948
Data de ordenação : 11/06/1949
Data da morte : 04/11/2015
Local da morte : Milano/Italia

O P. Giuseppe nascera em Pontecchio Polesine (Rovigo), diocese de Adria, a 23 de Fevereiro de 1924. Entrou no seminário de Rovigo, mas após o oitavo ano de escolarização, passou para a Escola Apostólica de Pádua, a seguir para Brescia e depois para o Noviciado de Florença, onde emitiu os primeiros votos a 7 de Outubro de 1943. Concluiu o ensino secundário no Escolasticado de Venegono, durante a guerra. Transferiu-se para Verona para a teologia e depois novamente para Venegono, onde emitiu os votos perpétuos a 24 de Setembro de 1948: «voluntarioso, inteligente, dinâmico, de piedade convicta, promete um bom êxito». Foi ordenado sacerdote em Milão a 11 de Junho de 1949 e logo depois é mandado para Inglaterra para o estudo da língua.

Em Janeiro de 1951 foi destinado ao Uganda. Foi mandado primeiro para Lacor como professor, depois como pároco em Kangole e seguidamente em Kaabong, Moroto, Naoi. Para compreender melhor o contexto em que o P. Giuseppe e, como ele, muitos outros missionários, procuravam levar o Evangelho, transcrevemos uma sua breve carta escrita em 1961, a partir de Kangole: «Aqui entre os Karimojong estamos agora em plena estação seca: um vento forte estonteia-nos e levanta uma poeirada capaz de obscurecer a luz do sol. Parece estar-se numa tempestade, só que em vez de frio há calor, em vez de neve derretida há uma poeira que seca a garganta e… a alma. Há fome entre os Karimojong. Dá pena passar pelas aldeias. Não se compreende como podem resistir e nós não podemos ajudá-los porque não temos dinheiro.

Somos impotentes perante tanta miséria. No Natal administrei o Baptismo e a Primeira Comunhão a um bom grupo de Karimojong. Enquanto, voltado para eles, dizia o Ecce Agnus Dei, pensava na festa da Primeira Comunhão em Itália, onde todos competiam pelas melhores roupas. Aqui pelo contrário estavam vestidos de negro, isto é, sem nada, porque não tinham uma moeda nos bolsos. Paciência. Não creio que falhem de modéstia em vir à igreja assim. A igreja está aberta a todos e todos entram assim como são. Talvez algum leitor se escandalize ao ouvir estas notícias. Mas que podemos fazer? A realidade é o que é. Quando penso que se esbanja tanta coisa em certas famílias de Itália…Onde vai acabar tanta coisa que aqui seria uma bênção e nos faria felizes a nós e aos nossos negros? É difícil actualmente para mim escrever uma carta que possa agradar em Itália, porque, talvez por cansaço, vejo as coisas demasiado realisticamente, que, para alguém, poderá significar “pessimamente”. Mas não creio. O pessimismo é o pior inimigo do missionário e eu procuro defender-me. Mas a fome é insuportável de se ver. Os nossos catecúmenos dormem nus no chão de cimento e contentam-se com uma mão de farinha e alguns feijões uma vez por dia. Já deram cabo de todos os ratos do bosque» (Nigrizia, nº 3/1961, p. 6).

Exceptuando um período de cerca de dois anos passados em Limone (Itália) como encarregado das traduções, o P. Giuseppe passou toda a sua vida missionária no Uganda, de onde regressou definitivamente em 2005, por motivos de saúde. Mandado primeiro para a Reitoria de Luca, foi depois transferido para o Centro P. Ambrosoli de Milão, onde faleceu a 4 de Novembro de 2015.

«Foi um dos primeiríssimos missionários que encontrei quando pela primeira vez fui mandado como escolástico para Karamoja para a experiência pastoral». Começa assim o testemunho de D. Damiano Guzzetti, bispo de Moroto. «Era Dezembro de 1986. Era muito hospitaleiro e tinha uma grande capacidade de desdramatizar não obstante a situação tensa pela insegurança das pilhagens de gado em Karamoja e as emboscadas nas estradas. Não sabia dizer que não aos pobres e uma vez vi-o pegar na gaveta da sua secretária e revirá-la diante de um pobre coitado que insistia em bater à porta do seu escritório. Tinha-lhe dado tudo o que tinha e queria que se desse conta disso. Vivia um estilo de vida muito simples e essencial e estava apaixonado pelas gentes e pelo seu precioso trabalho de tradução da Bíblia em Karimojong. Ainda hoje não poucos a apreciam e preferem a sua à tradução interconfessional da Bíblia feita depois. Está-se inclusivamente a organizar uma revisão para corrigir e reeditar o seu trabalho.

Foi um dos primeiros a intuir a importância da difusão de periódicos diocesanos também em Karamoja. Organizou-os durante muitos anos e preocupava-se em enviá-los para todas as paróquias da diocese que então compreendia todo o Karamoja. Conhecia a língua muito bem e através do seu Etoil Yok (A Nossa Voz) pude também eu arranjar maneira de aprender as expressões mais correntes para o diálogo, aquelas que são apreciadas nas conversas e são fundamentais para conquistar a amizade das pessoas.

Para produzir os seus periódicos, o P. Giuseppe tinha conseguido organizar uma tipografia bem apetrechada em Moroto, que sabia administrar e levar por diante não obstante as mil dificuldades para conseguir o material necessário.

Foi o primeiro a levar os computadores a Moroto e sabia usá-los com mestria apesar de nunca ter feito algum curso.

O P. Giuseppe era muito dotado, não só para a tipografia e as línguas, mas saía-se muito bem, por exemplo, também como carpinteiro. Equipou a capela da Comboni House de Moroto usando madeira local e dando livre curso à sua imaginação, tanto que os confrades brincavam com ele porque a imagem de São José tinha as feições de um chinês e a de Nossa Senhora era tipicamente europeia; então, olhando para o crucifixo de mógono, diziam: «mas donde saiu este Jesus?». Brincadeiras à parte, o P. Giuseppe passava muito tempo naquela capelinha que ele tinha apetrechado e que ainda hoje é utilizada, praticamente sem alterações.

Quando relatava as vicissitudes missionárias não falava de si mesmo mas dos sucessos dos confrades e das irmãs, ocorridos naquela região: ele era a memória viva dos pioneiros do Karamoja».