In Pace Christi

Cusini Firmino

Cusini Firmino
Data de nascimento : 22/10/1940
Local de nascimento : Livigno/Italia
Votos temporários : 09/09/1966
Votos perpétuos : 09/09/1969
Data de ordenação : 21/03/1970
Data da morte : 16/03/2020
Local da morte : Milano/Italia

A notícia da morte do P. Firmino apanhou-nos de surpresa. Foi uma morte inesperada para todos nós e também para ele. Estava a restabelecer-se bem de uma intervenção que tinha feito no mês de Novembro e sonhava voltar depressa a Moçambique, onde tinha passado quase cinquenta anos da sua vida. Anos durante os quais atravessou as várias fases da história deste país: a luta do povo pela independência, a guerra civil, o despontar de uma nova era com o acordo de paz e as eleições democráticas, o caminho da reconstrução nacional.

A última vez que o vi foi no fim de semana de 7 e 8 de Dezembro de 2019, em Milão. Quando me viu, ficou feliz e queria saber notícias de Moçambique, dado que tinha visitado a província recentemente. Interessava-se por tudo, queria saber tudo e manifestava um ardente desejo de poder regressar para lá. «Ficar em Milão nem pensar, e tão pouco em Itália. A minha terra é Moçambique. Tenho de aguentar mais um pouco, mas espero estar lá para a Páscoa».

O P. Firmino nasceu em Livigno, na província de Sondrio, a 22 de Outubro de 1940. Entrado nos Missionários Combonianos, fez o noviciado em Gozzano, onde emitiu os votos temporários a 9 de Setembro de 1966, e o escolasticado em Venegono, onde emitiu os votos perpétuos a 9 de Setembro de 1969.

A partir da sua ordenação, a 21 de Março de 1970, depois de alguns meses em Portugal para aprender a língua, o P. Firmino viveu e trabalhou sempre em Moçambique. Conheci-o quando cheguei ali em 1984. Naquele tempo trabalhava em Memba como pároco e superior da comunidade (1982-1993). Alguns anos antes tinha denunciado uma situação de fome na zona, correndo o risco de expulsão ou a prisão. De todos estes anos em Moçambique e do seu extraordinário e diversificado trabalho, poderemos dizer tantas coisas. Limitar-me-ei a alguns traços da sua figura que sempre me impressionaram e me motivaram no meu trabalho missionário.

O P. Firmino era um homem apaixonado pela missão e pelas gentes. Para poder evangelizar melhor, aprendeu a sua língua, o macua, e a cultura. Bem identificado como missionário comboniano, era feliz e sentia-se realizado no trabalho missionário, em companhia das gentes, o povo Macua, na visita às comunidades cristãs, na formação dos seus responsáveis. Era atento aos mais necessitados e procurava dar a todos aqueles que encontrava uma vida mais digna e humana. Era pai, irmão, amigo, companheiro. Era um pastor atento à situação das gentes.

Tinha também uma grande paixão pela Igreja local, pelo clero diocesano e respeito pelo bispo. Durante vários anos foi vigário geral da diocese de Nacala e administrador. Tinha um grande sentido de pertença à Igreja moçambicana. Por ela, o P. Firmino se doou inteiramente e conseguiu obter ajudas materiais imensas para construir capelas, escolas, centros pastorais e catequéticos. Todas as ajudas que recebia dos seus amigos e parentes em Itália, e eram tantas, investia-as a favor da Igreja e das gentes. Não guardava nada para si. Vivia uma vida simples e austera.

O P. Firmino era uma pessoa alegre e feliz. Vivia os acontecimentos difíceis da missão com uma serenidade e uma paz impressionantes. Estou certo de que esta alegria tinha a sua fonte no encontro pessoal com Cristo que ele cuidava quotidianamente. Sentia de modo particular a presença de Deus no seu trabalho e na vida das pessoas.

Também o P. Constantino Bogaio, Superior provincial de Moçambique, no seu testemunho, evidencia a têmpera de «antigo combatente» do P. Firmino, missionário obediente e sempre disponível, grande promotor das vocações e sublinha o seu sorriso e a simplicidade até mesmo através das palavras de quem o conheceu bem: «Padre Nywo atate era o carinhoso pseudónimo que lhe tinha sido dado no período em que trabalhava no Centro Catequético de Anchilo pelo seu estilo sempre generoso e pelo modo de aconselhar. D. Germano Grachane, primeiro bispo da diocese de Nacala, que trabalhou muitos anos com ele, quando recebeu a notícia da sua morte, falou do seu amigo P. Firmino, como de um conselheiro, bom comboniano, amigo do povo moçambicano, missionário de coração de ouro para com ele, para com a diocese e pela obra dos seminaristas e seminários de Nacala, tanto diocesanos como combonianos».

O seu testemunho de vida, a sua alegria e serenidade, mesmo nas situações mais difíceis que teve de enfrentar, a vida abundante que foi infundindo nas várias missões em que esteve têm o sabor do Evangelho vivido com intensidade ao serviço do Reino.
(P. Jeremias dos Santos Martins)