In Pace Christi

Piccinelli Giacomo

Piccinelli Giacomo
Data de nascimento : 09/06/1928
Local de nascimento : Brinzio/Italia
Votos temporários : 09/09/1954
Votos perpétuos : 09/09/1957
Data de ordenação : 31/05/1958
Data da morte : 11/07/2020
Local da morte : San Salvador/El Salvador

É agradável contemplar no bosque as grandes árvores que se elevam projectando a sua sombra para a imensidade do céu. A sua presença encoraja-nos e convida a lançar-nos. A queda de um destes gigantes faz muito ruído e deixa um grande vazio no horizonte. É precisamente o que me aconteceu quando, em Janeiro passado, vi o P. Giacomo Piccinelli numa cadeira de rodas, fisicamente muito afectado mas sempre feliz, sorridente e com a piada pronta.

O P. Giacomo nasceu em Brinzio, na Lombardia (Itália), a 9 de Junho de 1928. Cresceu no meio de gente dinâmica e produtiva, numa terra abençoada, banhada pelas águas do lago de Como e dos cumes nevados dos Alpes. Os pais, vendo as suas atitudes, queriam que fosse professor, mas o plano de Deus era diferente. Para o inquieto Giacomo o ambiente do lago e a sala de uma escola eram demasiado estreitos: seguindo a chamada de Deus bateu à porta dos Combonianos que o aceitaram. Giacomo foi ordenado sacerdote a 31 de Maio de 1958. Não teve de esperar muito para partir em missão porque em 1961 foi destinado ao México, à Baixa Califórnia Sul.

Eu encontrei-o alguns anos depois, para lhe pedir se aceitava trocar de comunidade. A província pedia-lhe que deixasse aquela missão para ir para a capital, onde deveria dedicar-se a um grupo de jovens que, sob o patrocínio da Legião de Maria, precisavam de um sacerdote para a sua formação humana e cristã. Isto significava, para o P. Giacomo, deixar a missão à qual se tinha dedicado com toda a sua energia e esperança. Custou-lhe muito, mas aceitou e durante vários anos trabalhou com estes jovens marginalizados. Com a sua força de carácter e a total confiança em Deus, conseguiu ser aceite e ser ouvido por eles. Como um bom pai ensinou-lhes a ser honestos e produtivos, a ganhar o pão de cada dia trabalhando honestamente e respeitando os outros. E os rapazes acreditaram nele, ao ver que era o primeiro a arregaçar as mangas, e choraram quando os superiores pediram ao P. Giacomo para se transferir para a missão que os Combonianos tinham aberto entre os indígenas de Tuxtepec e arredores, na diocese de Oaxaca.

De facto, nos anos 70, também pela insistência de alguns, a Direcção-Geral deu autorização para que assumisse um cargo missionário entre os indígenas de Chinantla. O P. Giacomo pediu para ser incluído na lista dos afortunados que iam dar apoio às comunidades cristãs da zona. A ele tocou-lhe Ojitlán. Cedo se apercebeu da situação desoladora, sobretudo do ponto de vista religioso. Durante uma festa patronal teve ocasião de dar-se conta que… naquelas festas Cristo e a Palavra de Deus estavam totalmente ausentes! Além do mais, a paróquia de Ojitlán tinha-se tornado um feudo dos tradicionalistas de Lefebvre. O P. Giacomo compreendeu de imediato que condenar não serviria de nada. Por isso, lançou-se com toda a sua energia no anúncio do Evangelho, organizando cursos bíblicos em todas as capelas e estabeleceu que qualquer celebração religiosa fosse precedida e acompanhada pela Palavra de Deus. Não foi fácil, mas em algumas aldeias obteve resultados. Os superiores, contudo, também na sequência de diversos factos, pensaram bem em não atiçar os contrastes que existiam entre os vários grupos e pediram ao P. Giacomo para deixar aquela zona turbulenta e ir para a Costa Rica, para se ocupar dos fiéis leigos do Vicariato de Puerto Limón.

Ali começou a formar pequenas comunidades cristãs reunidas pela Palavra de Deus, sustentadas pela Eucaristia e animadas pelo mandato missionário de Jesus. Formaram-se centros catequéticos onde se faziam retiros periódicos e o P. Giacomo teve modo de exprimir o seu «carisma» de construtor e planificador, mostrando também a sua capacidade de fraternidade e amizade com os colaboradores leigos; muita gente se aproximou de Deus e permaneceu fiel à Igreja. A personalidade do P. Giacomo tinha muitas facetas: não era só construtor e missionário, mas também um grande animador e discípulo de São Bento, do seu «ora et labora». «Se não estás disposto a trabalhar também manualmente, não comas»: não o dizia, mas lia-se-lho na cara. E fazia de ferreiro, carpinteiro, cozinheiro, tratava das galinhas e dos coelhos…

Realizou completamente este programa de vida em El Salvador, quando os superiores o transferiram de Bribrí, Costa Rica, e o mandaram para Cuscatacingo, paróquia de periferia, que mostrava as feridas da guerra civil terminada desde há pouco e onde tinha havido lutas terríveis entre bandos. Em poucos anos a paróquia mudou de aspecto a ponto de os Combonianos a entregaram ao bispo em troca da permissão de iniciar uma nova paróquia numa zona necessitada da periferia.

Giacomo passou os últimos anos da sua vida numa aldeia fora da capital, São Salvador, no caminho para o aeroporto. Mas o seu anjo da guarda tirou-o da cadeira de rodas e levou-o ao encontro com o Deus da vida. O calendário indicava o dia 11 de Julho de 2020.
(P. Gianmaria Piu, mccj)
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