«São vinte os confrades da nossa comunidade que a covid-19 levou – escreve o P. Manuel João Pereira. O P. Luigi era o mais novo deste grupo (76 anos) e o mais “idoso” em termos de permanência nesta comunidade de acolhimento de Verona (desde 1994); era o mais conhecido e popular e a sua morte suscitou viva comoção, em particular entre os nossos assistentes; mas sobretudo porque esta figura demonstra mais uma vez como Deus leva por diante a sua obra com os pequenos, servindo-se das nossas qualidades, mas também dos nossos limites e da nossa pobreza.
O P. Luigi não era uma pessoa de “grandes” dotes, mas distinguiu-se pela sua jovialidade, que se manifestava no bom humor, na simpatia, na vontade de viver, no espírito infantil brincalhão e aventureiro, na espontaneidade e na simplicidade, uma alma cordial, generosa, pacífica e de boa companhia. Era um verdadeiro artista da vida, que sabia dar uma coloração particular a cada um dos seus momentos. Deus deu-no-lo para a alegria de todos».
O P. Eugenio Petrogalli, que conviveu longamente com o P. Luigi na missão diz: «Passei anos belos, alegres, por vezes um pouco extravagantes, com ele em Abor e em Liati (Gana)… Recordo que no primeiro dia em Liati, entrámos numa igreja juntos. Ele ajoelhou-se diante do Sacrário e, abrindo os braços, disse em alta voz: «Jesus, aceita-me como sou e faz-me como Tu queres, mas devagar... blewuuuu!». Depois de eu ver que estávamos sós na igreja, ajoelhei-me ao seu lado e disse: “Luigi, queria confessar-me”. E ele: “Que fazes? Levanta-te, por acaso queres ser mais pecador que eu!?”».
Seguimos agora o relato do P. Girolamo Miante: «Conheci o P. Luigi em Issy les Moulineaux, na sede do escolasticado. Tinha vindo para França para o estudo do Francês. Já tinha passado um grande período em Londres para o Inglês: estava destinado à província do Togo-Gana-Benim e o conhecimento das duas línguas mostrava-se importante para o trabalho missionário. Estamos em 1976, o P. Luigo era um homem alegre, feliz com a sua vocação e, realmente, passar do inglês para o francês não era uma coisa simples. Além do Curso na Alliance Française, uma gentil senhora idosa ajudava-o nos deveres de casa e todos os dias lhe repetia “mon père, les accents!” (padre, os acentos!): tinha dificuldade com todas aquelas palavras com acentos, até que um dia, no fim dos deveres, acrescentou toda uma linha de acentos convidando a senhora a colocá-los ela onde era necessário!
Luigi fez o noviciado em Gozzano, onde emitiu os primeiros votos a 9 de Setembro de 1966 e o escolasticado em Venegono Superior e em Rebbio onde fez a profissão perpétua a 9 de Setembro de 1969.
Depois da ordenação sacerdotal, a 19 de Março de 1970, passou alguns anos na promoção vocacional em Itália, em Asti e Thiene, seminários menores que acolhiam rapazes disponíveis para um caminho vocacional. Eram anos ainda fecundos e com o seu temperamento alegre e brincalhão conseguia transmitir este mesmo entusiasmo aos rapazes que encontrava.
Destinado ao Togo-Gana-Benim, o seu serviço desenvolveu-se sempre no Gana entre 1977 e 1993. O tempo mais belo para o P. Luigi. Estava-se ainda nos inícios com duas comunidades em Abor, a 40 quilómetros da fronteira de Aflao com o Togo, e em Liati, na montanha: foram as duas missões que viram o P. Luigi como zeloso missionário, sempre entre as gentes, nas aldeias e nas capelas para acompanhar o caminho das pequenas comunidades, o catecumenato, os rapazes, os idosos. Desenrascava-se com a língua local, o ewe, uma língua tónica com um monte de acentos (os amigos do P. Luigi!), com o seu Toyota percorria as estradas lamacentas ou poeirentas, com muitos buracos, sempre feliz na companhia de uma amiga inseparável: a espingarda!
O P. Luigi era amante da caça e quando avistava alguma ave ou animal não perdia a oportunidade de parar e disparar! No seu quarto não havia muitos livros, mas muitos cartuchos! Entre nós confrades, era conhecido como “padre bife”. Em 1993 a sua saúde começou a piorar e foi necessário regressar para Itália. A vida missionária continuava, mas num modo completamente diferente entre Verona Casa Mãe, Rebbio, novamente Verona para terminar em Castel d’Azzano. Sereno, mas necessitado de atenção e de tratamentos, viveu estes longos anos numa oferta de si «gratuita», conhecida só do Senhor. Encontrando-o nos corredores do centro de doentes de Verona ou de Castel d’Azzano, era sempre acolhedor com um belo sorriso. Olá Bife! Recordas-te do Gana, da tua missão? E o seu refrão de resposta “j’ai perdu la mémoire!” (perdi a memória) repetia-se como sempre, mas algumas palavras em ewe e algumas pequenas recordações refloresciam na mente».