In Pace Christi

Martins da Costa António

Martins da Costa António
Data de nascimento : 03/01/1928
Local de nascimento : Cepões (P)
Votos temporários : 09/09/1954
Votos perpétuos : 09/09/1960
Data da morte : 29/07/2024
Local da morte : Viseu (P)

Nascido a 3 de Janeiro de 1928 em Cepões (Viseu), teve uma vida longa e regressou à casa do Pai depois de viver mais de 96 anos, dedicado à sua vocação e missão.

O irmão António foi o primeiro missionário comboniano português. Nasceu numa pequena aldeia a poucos quilómetros de Viseu. Como todos os jovens da altura, frequentou os três primeiros anos da escola primária na sua aldeia e só completou os dois últimos anos alguns anos mais tarde, em Oeiras, em 1960-1961. Já em criança, ajudava os pais nos trabalhos do campo.

No final do serviço militar (1949-1950), encontrou casualmente o padre Ângelo La Salandra, então promotor vocacional, que, olhando para ele durante a recitação do terço, lhe perguntou à queima-roupa: «Queres ser missionário?» António respondeu: «Mas com esta idade, e sem ter estudado, posso ser missionário?» Sem se perturbar, o padre Ângelo respondeu-lhe que era um pouco tarde para ser padre, mas que podia ser irmão missionário: «Nas missões precisamos de padres e irmãos para tornar possível a vinda do Reino de Deus.»

Estas palavras do padre Ângelo ficaram a martelar na cabeça do António até que, em Fevereiro de 1952, iniciou o seu caminho vocacional. Após um breve período de postulantado, parte para o noviciado de Gozzano, em Itália, onde faz a sua primeira profissão religiosa a 9 de Setembro de 1954. De regresso a Portugal, foi destinado à comunidade de Viseu, onde permaneceu até 1960 como ecónomo e administrador da quinta.

Em Setembro de 1954, também eu entrei no Seminário de Viseu, ainda em construção, mas já com capacidade para acolher quase uma centena de seminaristas. Nos cinco anos que passei em Viseu (1954-1959), embora os seminaristas tivessem mais contacto com os prefeitos, o vice-reitor e o reitor, lembro-me bem da figura do Ir. António, com a sua veneranda barba, sempre ocupado com os trabalhos agrícolas, a poda das árvores, a vindima e o fabrico do vinho, ou a tratar dos animais nos galinheiros e nos currais. Foi nesta área que o Ir. António se foi especializando ao longo da sua vida.

Em 1962 foi enviado para Moçambique, diocese de Nampula, onde permaneceu até 1969. Depois de alguns meses, passados em Portugal, regressou a Moçambique em 1970, onde permaneceu durante seis anos, em diferentes missões, trabalhando sempre com grande dedicação, em trabalhos humildes, mas com a preocupação de preparar os seus colaboradores para que pudessem sustentar as suas famílias.

Em 1976 regressou a Portugal, à comunidade de Santarém, onde estava o noviciado. O mestre de noviços era o P. Carmelo Casile, que enviou um testemunho, que caracteriza muito bem a figura do Ir. António. O P. Carmelo descreve-o como um homem de oração, fiel à sua vocação, sério no enfrentar a vida, altruísta, preocupado mais com os outros do que consigo mesmo, um grande trabalhador: «uma pessoa comunitária, humilde e autêntica, que sabia comunicar os valores da vida missionária através da fidelidade ao seu dever e do cuidado com que fazia tudo».

Os anos em que fui Superior Provincial (1978-1984) coincidiram com a permanência do Ir. António no noviciado. Quando chegava a altura de avaliar os noviços para a admissão aos primeiros votos, reunia-me com o mestre de noviços, o seu socius [ajudante do padre mestre, ndr] e a comunidade. Lembro-me que dava muita importância à avaliação do Ir. António, e quando lhe pediam sua opinião, ele respondia com simplicidade e humildade, geralmente depois de uma pequena pausa de reflexão. Por vezes, expressava um parecer negativo, mas quase sempre tinha razão: a sua opinião baseava-se na autenticidade, na alegria e no entusiasmo pela vocação missionária, no amor e no apego à comunidade e aos seus bens, valores que ele conseguia discernir na sua convivência quotidiana com os noviços e que, por vezes, não eram percebidos pelos dois formadores.

Depois dos anos passados em Portugal, abriram-se para o Irmão António duas longas estadias no Brasil (1984-1993 e 1997-2009), sempre na paróquia de Pastos Bons, diocese de Balsas, onde soube granjear profunda admiração e estima das pessoas.

Em 2009, com 85 anos, aceitou regressar a Portugal e passou os últimos anos da sua vida na comunidade de Viseu, onde, apesar da sua idade avançada, continuou a trabalhar para dar à comunidade os legumes que cultivava. Para o fazer feliz, foi construída uma pequena estufa onde, mesmo no Inverno, podíamos obter alguns legumes para pôr na mesa.

Com o passar do tempo, as suas forças começaram a falhar e os últimos anos foram bastante dolorosos para ele. Foi várias vezes hospitalizado. O seu último internamento no hospital de Viseu foi na última semana de Julho de 2024. Ali faleceu na noite de 29 de Julho. O corpo foi trazido para a capela da nossa comunidade.

No dia seguinte, às 11h00, realizou-se uma celebração eucarística presidida pelo bispo da diocese, D. António Luciano, com a presença de numerosos missionários das nossas comunidades, confrades de férias da missão, familiares do irmão António e muitos fiéis. À tarde, o funeral realizou-se em Cepões, a sua terra natal, onde foi sepultado. (Padre Manuel Ferreira Horta, mccj)