Comboni, neste dia

In questo giorno (1871) invia lettera a von Beust ministro degli Esteri a Vienna.
Al conte Guido di Carpegna, 1865
Io ho una fiducia straordinaria in Dio e pongo in pratica il sapientissimo audaces fortuna iuvat, che in linguaggio cristiano è la Provvidenza

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N° Escrito
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Remetente
Data
331
Autógrafo em foto
1
Cairo
13.11.1869
N.o 331 (312) - AUTÓGRAFO NUMA FOTO

ACR, Sez. Fotografie



Cairo, 13 de Novembro de 1869





332
Mons. Luis de Canossa
0
Cairo
26.11.1869

N.o 332 (313) - A MONS. LUÍS DE CANOSSA

ACR, A, c. 14/71

V. J. M. J.

Cairo, 26 de Novembro de 1869

Excelência rev.ma,

[1983]
Estou pesaroso pela morte da superiora das canossianas de Hong Kong. Escrevem-me de lá a dizer que aquela santa mulher foi levada à última morada acompanhada de muitas lágrimas.

O nosso estimado delegado apostólico parte amanhã para Roma. Leva consigo o coração de todos; porém, sou eu quem mais lamenta a sua separação, porque sinto o mais profundo agradecimento para com ele. Se ao seu amor à verdade e à justiça este digno e venerável prelado não tivesse acrescentado uma grande bondade e caridade para connosco, os nossos institutos teriam dado em nada. Se agora existem e prosperam, devemo-lo ao Céu e à caridade de mons. Ciurcia, em quem tivemos e temos, apesar de estar sobrecarregado com uma missão importante e dificílima e ser muito delicada a sua situação no Egipto, um pai e protector muito solícito. O nosso estimado P.e Pedro pediu-lhe para nós a casa de Schellal e ele vai fazer em Roma as diligências necessárias. Sobre este assunto mandar-lhe-ei carta para Roma no próximo vapor, dirigindo as minhas cartas à princesa Maria Assunção, até saber com certeza a sua residência na Cidade Eterna.


[1984]
Com respeito à minha viagem a Roma para acertar assuntos e pela colecta na América, escrever-lhe-ei com o próximo vapor o que me parece conveniente fazer. Entretanto, saiba V. E. que, para me mover do Egipto, preciso não só da autorização de mons. o delegado como também do da Propaganda, por eu ser superior de estabelecimentos, como me escreveu o ano passado o cardeal Barnabó.


[1985]
His positis, é preciso que V. E. tome a iniciativa como coisa e ideia sua, e demonstre sobretudo que para a obra da África e de Verona se necessita de dinheiro, que hic et nunc nos fazem falta pelo menos cinquenta mil escudos; que é absolutamente imprescindível encontrá-los e consegui-los e que para isso o senhor precisa de P.e Comboni (ainda que ele seja um inútil e só arme confusões). Além disso, eu tenho que reclamar em Roma roupa branca, camas, etc. do convento suprimido, que Vimercati deu às negras e que à força as freiras de mons. o vice-gerente retiveram.


[1986]
Logo que V. E. tenha obtido isso da Propaganda, irei a Roma e concertaremos tudo. E vamos conseguir também cem mil táleres, apesar dos tempos difíceis e de choverem estocadas, porque Deus quer a obra.

Quanto a Mr. Girard, não se exceda demasiado, nem em elogios nem em prestar-lhe atenção. É conhecido em Roma e mons. o delegado, mons. o patriarca de Jerusalém e muitos bispos franceses poderiam falar longamente sobre ele. Ainda o ano passado mandou circulares a todos os bispos da França a favor do B. Pastor, mas não recolheu nem um centavo, porque na França o nome de Mr. Girard tem pouco peso e nós temos as provas. Em todo o caso creio ser prudente que V. E. esteja de acordo com mons. o delegado. Ontem baptizei duas negras adultas; foram acompanhadas à pia baptismal por duas negras e por Atílio Miniscalchi e Bajit, que chorava de emoção.

Coragem, monsenhor; apresente os meus respeitos e os de todos ao Santo Padre e dê-nos a sua bênção.



Seu hum.mo e de votmo. filho

P.e Daniel Comboni



O conde Miniscalchi com seu filho e Bajit vão partir para o Alto Egipto e Assuão.






333
Card. Alexandre Barnabó
0
Cairo
3.12.1869

N.o 333 (314) - AO CARD. ALEXANDRE BARNABÓ

AP SC Egipto, v. 21, ff. 183-184v

V. J. M. J.

Cairo, 3 de Dezembro de 1869

Em.mo Príncipe,

[1987]
Depois de um ano de respeitoso silêncio, apresento-me de novo perante V. Em.a Rev.ma, neste dia consagrado à glória do nosso ínclito protector S. Francisco Xavier, na certeza de encontrar o magnânimo coração de pai que o senhor guarda para com o mais insignificante dos obreiros que trabalham para as santas missões.


[1988]
Perante certos acontecimentos da vida, convém-nos muitas vezes adorar e calar: a Providência divina sabe cumprir até à última sílaba o diligentibus Deum omnia cooperantur in bonum. Ainda que desde o meu começo na vida apostólica estivesse preparado com absoluta resignação para suportar tudo pela glória de Deus e pela salvação dos povos negros, nunca pude imaginar que, depois da famosa tormenta que levantou contra mim Mons. C..., ex-V. G., teria de surpreender-me pouco depois na missão a borrasca provocada contra a minha pessoa por quem edebat panes meos, quique magnificavit super me supplantationem. Ambas as tempestades pretendiam atingir a nascente obra da regeneração dos negros.


[1989]
Porém, como antes na de Roma, também na do Egipto me lancei nos braços amorosos da Providência, disposto a fazer e a sofrer o que mais fosse do agrado do Senhor, com a certeza total de que se cumpriria à letra a vontade de Deus; porque se o primeiro conflito devia resolver-se mediante o infalível magistério da Sagrada Congregação do Santo Ofício, no segundo deviam emitir o seu juízo V. Em.a e o meu estimadíssimo vigário apostólico, que com a sua sabedoria e prudência poderiam dispersar as trevas e fazer brilhar e triunfar a verdade dos factos.


[1990]
Alegre pelo que eu mesmo, os meus solícitos companheiros camilianos e a nascente obra suportámos e sofremos, bendizendo sempre o Senhor, e disposto a suportar e a sofrer cem vezes mais no futuro pela salvação dos pobres negros, depois de tão longo silêncio, ponho-me nestes dias tão solenes e sagrados para o catolicismo a escrever-lhe estas breves linhas para lhe recomendar fervorosa e encarecidamente a parte da humanidade mais pobre, mais necessitada e mais abandonada do mundo, a infeliz Nigrícia, e suplicar-lhe que favoreça na sua sabedoria todos os razoáveis esforços dos que se dedicam a cooperar no apostolado da mesma.


[1991]
Em que ponto se encontra a minha obra nascente, qual a sua importância, quais a suas dificuldades e esperanças, sabê-lo-á V. Em.a pelo nosso incomparável e veneradíssimo vigário apostólico mons. Ciurcia, a cuja sabedoria e protecção é devido tudo o que, através de tantos obstáculos e dolorosas vicissitudes, se fez com a graça divina. Eu acrescento que esta obra, apesar da oposição que encontra em toda a parte, lançará firmes raízes e progredirá enormemente se a Providência nos conservar muito tempo este eminente prelado, que mais que ninguém compreendeu na sua extensão e variedade de elementos a importante e delicada missão do Egipto, onde goza do respeito e da consideração não só de todas as autoridades governativas e consulares, mas até do próprio vice-rei, apesar do espírito anticatólico e maçónico que reina por aqui.


[1992]
Serão precisas uma grande abnegação, prudência e longanimidade para vencer os seculares preconceitos e todas as dificuldades que no Egipto se opõem à redenção dos pobres negros; porém, com a graça de Deus, há-de conseguir-se. E tanto mais se a Propaganda dedicar especial atenção tanto às missões da África Central como à tristíssima situação dos negros no Egipto, para os quais veríamos totalmente oportuna a criação de um apostolado especial, que, a seu tempo, daria frutos muito consideráveis.

V. Em.a compreende bem quão importante é o êxito e o desenvolvimento da obra nascente, a qual, organizada segundo o projecto estabelecido, deve produzir um feliz resultado tanto pelo seu fim essencial e primário, isto é, a evangelização das imensas tribos da África Central, como pelo seu fim acessório e secundário, ou seja, o apostolado dos negros no Egipto. Até este fim, nada mais que acessório e secundário, do qual actualmente se ocupa a obra, dentro dos limites da mais prudente discrição, constitui por si só uma missão importante.


[1993]
Não creio ser inútil chamar a atenção de V. Em.a para algo que está para suceder e que pode ter sérias consequências para o futuro interesse do catolicismo na África Central. Sir Samuel Baker, anglicano, descobridor de uma parte das nascentes do Nilo, recebeu o encargo do vice-rei do Egipto (e crê-se que também do sultão) de organizar uma expedição ao Nilo Branco e às tribos do interior da Nigrícia para submeter esses povos ao Egipto. O quedive quer fazer crer à Europa que empreende tal conquista para abolir a escravatura(?!!) naqueles lugares. Este célebre viajante partiu anteontem do Cairo, depois de me ter assegurado que tinha à sua disposição sete grandes vapores, muitíssimos barcos pequenos, armas, canhões e 3600 soldados e dinheiro em abundância. Foi nomeado paxá e governador das tribos negras conquistadas e a conquistar.


[1994]
Termino esta carta com uma súplica. Dado que a obra nascente é muito pobre em objectos de culto, imploro de V. Em.a a graça de me conceder algo da Obra Apostólica de Roma e especialmente das generosas ofertas de tal género que na próxima abertura do concílio oferecerão para as missões ao Santo Padre algumas sociedades de damas da Bélgica, Holanda, Irlanda, Canadá, etc., como anunciaram bastantes jornais católicos. Confio que, a tornar-se isso realidade, V. Em.a atenderá a minha humilde petição.

Nós fazemos os mais ardentes votos pela feliz abertura do concílio ecuménico e pela sua venturosa realização. Será fecundo em imensos benefícios e trará um salutar remédio para esta lacerada sociedade moderna. As nossas filiais preces elevam-se de modo especial por V. Em.a, que tão importante papel terá neste santo sínodo.

Aceite entretanto V. Em.a os respeitos que, com toda a humildade e deferência, lhe apresento com os meus caros companheiros Carcereri, Rolleri e Franceschini, enquanto, beijando-lhe a sagrada púrpura, tenho a honra de me subscrever nos Sagdos. Corações de J. e M.



De V. Em.a Rev.ma

Hum.mo, obed.mo e indig.mo filho

P.e Daniel Comboni, miss. ap.






334
Abadessa M. Michaela Muller
0
Cairo
8.12.1869

N.o 334 (315) - À ABADESSA MARIA MICAELA MÜLLER

AMN, Salzburgo

Cairo, 8 de Dezembro de 1869

Minha rev.ma madre,

[1995]
Deverá mostrar-me grande indulgência para me poder conceder perdão novamente. A madre teve a grande bondade de me enviar de Salzburgo, por meio de Josefina Condé, tantas prendas e uma carta tão bonita e eu... sem lhe ter escrito uma palavra sobre o assunto. Peço-lhe insistentemente que me perdoe.

Estive sobrecarregado de ocupações e, além disso, doente; porém, devo acrescentar que, embora não lhe tenha escrito, tenho rezado muito, tanto por si como pelo seu santo mosteiro. Ainda estou muito ocupado e este é o único motivo pelo qual ainda não escrevi em alemão: deveria empregar várias horas para o fazer, dado que essa formosa língua ainda me é difícil.


[1996]
Não tenho palavras bastantes para lhe agradecer pela enorme generosidade e bondade com que recolheu esmolas para nós, ajudando-nos ainda por cima com os seus próprios meios. Com isto tornou-se colaboradora e co-redentora dos povos negros. Estou-lhe infinitamente agradecido por tudo o que me escreveu na sua preciosa carta. Oh, que bem que compreendeu a participação missionária da mulher católica e da verdadeira esposa de Jesus Cristo! Por isso, uma vez mais, lhe expresso a minha gratidão!...

Tudo o que a madre puder dar ou conseguir obter de outros em favor da divina obra da conversão dos negros, peço-lhe que o faça chegar directamente ao rev.mo pároco de Santiago, em Colónia, presidente da Sociedade para o Socorro dos Pobres Meninos Negros, para que ele mo envie todo fielmente para o Cairo.


[1997]
Receba também o agradecimento de todas as minhas pequenas casas. Todos nós rezamos muito não só por si com também por suas filhas, que nos educaram tão bem a nossa cara Petronila e que continuamente fazem o que fazia Moisés, enquanto Josué travava as batalhas do Senhor. No aniversário da morte de Petronila, dia 31 de Janeiro, faremos uns ofícios fúnebres com missa cantada. Ela já se encontra no Céu e por isso deve interceder por nós e pelos negros.

Sentimo-nos muito edificados pelo comportamento no Egipto de sua majestade o imperador. Com o seu bom exemplo levou a cabo uma verdadeira missão entre os turcos. Mostrou-se cristão em todos os aspectos. Tanto em Suez como no Cairo, a sua primeira visita foi à igreja, assistindo à santa missa; em Jerusalém prostrou-se naqueles lugares sagrados e confessou-se precisamente ao P.e Heriberto, franciscano. Além disso, recebeu-nos perante todo o corpo diplomático.

O bom exemplo do nosso insigne senhor foi digno de admiração, enquanto a imperatriz francesa deixou no Egipto uma não muito grata recordação. Ela, de facto, não visitou nenhum dos piedosos estabelecimentos, nunca visitou uma igreja, nem sequer a própria catedral de Alexandria, dedicando ao invés as suas visitas às mesquitas, aos haréns, aos lugares de baile e a todos os outros monumentos profanos.

O coração e o espírito de S. M. o imperador mostram-se dignos do título de majestade apostólica; esperemos que faça valer de novo as leis correspondentes a este título!


[1998]
Desde a chegada de Josefina já baptizei muitas negras, sete das quais são mais velhas que esta bondosa menina. Espero escrever-lhe a propósito disso alguns dados interessantíssimos. Por hoje, limito-me a desejar-lhe que tenha umas Boas Festas de Natal e um feliz Ano Novo.

Expresse a minha veneração também a suas santas filhas e diga-lhes que me tenham presente nas suas preces.

No Sacratíssimo Coração de Jesus fica seu servidor



P.e Daniel Comboni

Missionário apostólico

Original alemão

Tradução do italiano






335
P.e Luis Artini
0
Cairo
10.12.1869

N.o 335 (316) - AO P.e LUÍS ARTINI

APCV, 1458/233

V. J. M. J.

Cairo, 10 de Dezembro de 1869

Meu caro rev.mo P.e provincial,

[1999]
Não pretendo com estas quatro letras dar resposta à sua muito estimada carta, à qual responderei a seu tempo e com calma, mas sim desejar-lhe a si e a todos os seus filhos um Feliz e Santo Natal. À repetida petição dos nossos caros Estanislau e Beppi para fazerem uma peregrinação à Terra Santa, houve por bem responder com um sim, porque os dois merecem esta satisfação: trabalharam, suaram e está bem que agora refresquem o seu espírito no berço e no túmulo de Cristo, para recobrarem novo vigor que os ajude a continuar a sacrificarem-se pela salvação das almas. Eu experimentei isto em 1857 com o falecido P.e Melotto. Jerusalém é um centro de ardor por Cristo. O senhor, que é um bom pai, subscreverá a minha decisão. Concedi-lhes vinte dias.


[2000]
Não lhe digo mais senão que com toda a minha alma lhe recomendo que colabore na redenção da África. Temos poderosos e furibundos inimigos, mas Cristo é mais forte que eles: caçoamos de todos. Estanislau compreendeu a verdadeira situação. Acaso S. Pedro e S. Paulo quando iam a caminho de Roma encontravam só amigos? Nós seguimos as pegadas dos Apóstolos e converteremos a África. São Camilo, que demonstrou ser um grande homem (apesar do P.e Guardi e do desditoso Zanoni, o estado de cuja alma me provoca muito receio), será um poderoso colaborador; e, enquanto trabalha pela África, conquistar-nos-á também o P.e Guardi, que, por outro lado, tem muitos méritos e a quem professo grande veneração.


[2001]
Parece que agora também se mostra compreensivo o nosso estimado Barnabó, a quem, em seu devido tempo e lugar, expus as minhas justas razões. Passei uns dias na capital do Istmo de Suez, em Ismaília, com o nosso muito estimado P.e Bern. Girelli. Está tão contente que me assegurou que se as coisas se mantiverem assim um pouco mais, vai morrer de satisfação. Os franciscanos estimam-no muito e faz honras à ordem camiliana. Passámos noites muito alegres e dormimos no mesmo quarto.

Agora encomendo-me ao seu coração apostólico. A África é a mais necessitada e abandonada do mundo: merece, pois, todos os sacrifícios. Haverá que trabalhar muito tanto em África como em Paris, Constantinopla e Roma, mas com a assistência divina superaremos todos os obstáculos. Contanto que Deus nos ajude a pati, contemni et mori pro Jesu, tudo está em ordem. Ao P.e Germano, a Regazzini, ao meu caro Bonzanini, a todos e especialmente ao reverendo P.e Fundador, saudações e Festas Felizes. A si todo o afecto do

Seu indig.mo P.e Comboni






336
P.e Afonso M. Ratisbonne
0
Cairo
15.12.1869

N.o 336 (317) - AO P.e AFONSO M. RATISBONNE

ADSP

V. J. M. J.

Cairo, 15 de Dezembro de 1869

Mui reverendo padre,

[2002]
Recordará, meu estimado e venerado padre, as felizes circunstâncias do mês de Outubro de 1857, quando com dois missionários da África Central, os rev.dos padres Soragna e Fene, jesuítas, tive a sorte de viajar consigo até Jerusalém e de visitar as suas santas filhas, as Irmãs de Sião, às quais, revelando eminente caridade, fez sempre elevar fervorosas preces pelo apostolado da África Central. Agora que a divina Providência determinou que dois dos meus missionários vão à Terra Santa a fim de, no Sepulcro do Senhor e no presépio do Menino, obterem a força necessária para sacrificarem toda a sua vida pela conversão e salvação dos desditosos filhos de Cam da África interior, renovo os meus humildes pedidos ao seu coração de apóstolo, na certeza de que as suas santas orações e as das suas dignas filhas serão escutadas.

No Inverno passado tive a honra de visitar mais de uma vez o seu digno e sábio irmão, o rev.do P.e Teodoro, ilustre e piedoso autor da História de S. Bernardo e do Seu Século, bem como as veneráveis Irmãs de Sião.


[2003]
Quanta emoção não sentiu o meu débil coração! Lá encontrei a obra de Deus, o milagre em favor dos pobres filhos de Abraão, neste século de erros. Eu estou convencido da verdade dos factos e de que, por um conjunto de factos que se evidenciam na nossa época, se aproxima o Reino de Deus para os infelizes judeus, bem como estou convencido de que as Obras de Deus levadas a cabo pelos veneráveis irmãos Ratisbonne são os seus mais poderosos instrumentos para isso, sua feliz iniciativa, e de que N. D. de Sião é o apóstolo dos descendentes dos seus antepassados, do povo eleito.

Com a mais viva emoção e a maior felicidade, abro-lhe o coração, meu mui reverendo padre, para lhe dizer que num tempo em que tantos cristãos conspiram contra o Senhor e o seu Cristo me parece que o Sacratíssimo Coração de Jesus se vai derramando com duplo amor naqueles que dão a sua vida para restabelecer o Reino dos Céus entre os nossos pais pervertidos. Uma vez que tantos povos que receberam o santo baptismo e a vida o rejeitam e crucificam de novo, o Senhor volta-se com a abundância das suas graças para os povos ainda mergulhados nas trevas da morte.


[2004]
Os institutos que estenderam a sua santa obra a França, Inglaterra, Constantinopla e Terra Santa são poderosos instrumentos da caridade divina, porém, o que sobretudo representa um bálsamo para o espírito da fé católica é esse sublime foco ardente de preces e de obras expiatórias que o senhor fundou no santuário do Ecce Homo. Sim, as santas Filhas de Sião obterão perdão e graças para os filhos do antigo povo de Deus, ao levar a cabo o desejo do nosso querido Jesus no mesmo lugar em que os judeus pediram que o seu sangue caísse sobre eles e sobre a cabeça de seus filhos. Elas realizam a grande missão que o divino Salvador atribuiu às santas mulheres do Evangelho no caminho da cruz: «Chorai por vós e pelos filhos do meu povo.» Eu faço votos e rezo sempre para que o senhor veja cumpridos os santos desejos que lhe inspirou a Mãe de Deus. Chegam os tempos.


[2005]
Rogo-lhe que mostre aos meus queridos irmãos, o rev.do P.e Estanislau Carcereri e o P.e Franceschini, os seus institutos de Jerusalém e de S. João da Montanha. Ficarão felizes de admirar estas obras de Deus, que evidenciam uma época gloriosa na Igreja na conversão dos judeus e no apostolado. Ao mesmo tempo suplico-lhe que insista para que as santas religiosas Filhas de Sião, no seu zelo ardente, elevem contínuas orações pela conversão dos infelizes negros da África Central. É escusado falar-lhe desta, pois terão notícias dela pelos meus caros irmãos missionários.

Em Paris visitei mais de uma vez a rainha Isabel, de Espanha, e o seu marido, S. M. Francisco de Assis, que me falaram com grande interesse e entusiasmo de si e da sua obra. El-rei, a primeira vez que me viu, saudou-me dizendo: «Oh, seja bem-vindo, meu reverendo padre! Recordo-me bem tê-lo visto na corte de Madrid. Sou feliz de lhe expressar a minha simpatia por si e pela sua obra; é uma tarefa difícil», etc.


[2006]
Depois de lhe ter confirmado que tive a honra de lhe render homenagem em Madrid, etc., depois de oito ou dez minutos de cumprimentos e de se falar sobre a revolução de Espanha, etc., o rei, em presença da rainha, que chorava, disse-me: «Como seguem as suas boas obras de Jerusalém?» «Majestade, eu não tenho casas em Jerusalém; as minhas obras estão no Cairo», etc. «Porém, meu padre, não é o senhor o muito reverendo Ratisbonne?» ‘Seria muito ditoso, majestade – respondi –, se pudesse ter a milésima parte das grandes virtudes do P.e Ratisbonne. Eu sou um pequeno missionário da África Central e chamo-me Comboni», etc. «Ah, peço-lhe desculpas, meu venerado reverendo Comboni, porém, eu conheço-o». Em duas palavras: como vi em sua majestade uma grande simpatia e um entusiasmo verdadeiramente notável por si e pelas suas santas obras, no dia seguinte corri a visitar o muito reverendo P.e Teodoro para o informar daquilo que o rei me tinha dito e sugerir-lhe que lhe fizesse uma visita, na certeza de que seria bem recebido por ele e pela rainha e com a possibilidade de obter muitos benefícios para as suas obras.


[2007]
Encontrei-o frio a este reverendo padre, o qual, como eu insistisse novamente, me respondeu: «Meu amigo, não tenho muita confiança nas boas disposições desta corte. O meu querido irmão foi a Espanha e recebeu um amável acolhimento, mas até hoje não obteve nenhuma vantagem.» E tinha muita razão, porque estas duas augustas pessoas me acolheram bem também a mim e até me encorajaram muito para a difícil obra da conversão da Nigrícia, contudo, creio que doravante será mais difícil obter deles algo tangível.

Peço-lhe que reze ao Senhor para que conceda ao apostolado da África Central santos e activos obreiros evangélicos, tanto europeus como indígenas e permanecemos sempre unidos no eterno amor de Jesus e de Maria.



Seu devot.mo e ind. irmão

P.e Daniel Comboni

Original francês

Tradução do italiano






337
Societade de Colónia
1
Cairo
17.12.1869
N.o 337 - À SOCIEDADE DE COLÓNIA

«Jahresbericht...» 18 (1870), p. 12



Cairo, 17 de Dezembro de 1869



Breves notícias.





338
Madre Emilie Julien
0
Cairo
23.12.1869

N.o 338 - À MADRE EMILIE JULIEN

ASSGM, Afrique Central Dossier

V. J. M. J.

Cairo, 23 de Dezembro de 1869

Minha caríssima e reverenda madre,

[2008]
A sua carta de 29 de Novembro foi-me entregue esta manhã. Tinha nutrido a esperança de que a senhora me concedesse a Irmã Josefina de Tiberíades e, ao invés, a madre, afinal, estaria disposta a tirar-me a Irmã Maria Bertholon.

A senhora é uma irmã muito bondosa; ajudou-me nos momentos difíceis para a minha obra; sem si, um bom número de almas não teria entrado na Igreja nem no Céu por meio da minha obra; foi uma verdadeira mãe para Daniel Comboni e para a Nigrícia e o agradecimento que sinto por isso durará toda a vida; mas, por amor de Deus, seja nossa mãe e nossa protectora hoje e no futuro. A obra vai admiravelmente. Mons Ciurcia, o delegado apostólico, levou a Roma todo o interesse por ela. Conseguiu tornar o cardeal amável e é preciso que a casa principal da minha obra, confiada às Irmãs de S. José, adquira uma solidez notável.


[2009]
É por isso que preciso de irmãs e sobretudo uma boa e capaz irmã árabe. A Ir. Maria Bertholon suportou com uma abnegação admirável os trabalhos mais fadigosos da fundação. Cheia de zelo, de entrega e de paciência; muito devota, muito activa, muito caridosa, trabalhou maravilhosamente e ganhou o coração das jovens negras, que lhe têm muito afecto, apreciando muito os seus desvelos. Como poderia eu suportar que fosse substituída por outra e afastada de uma obra tão útil e tão difícil na qual colaborou tão bem? Minha boa madre, eu não lhe falei a ela das suas intenções, nem lhe disse que lhe escrevi. Ao contrário, peço-lhe encarecidamente que lhe dirija uma boa carta de encorajamento, a fim de que continue a entregar-se à salvação das almas mais abandonadas. Anda muito triste, porque a senhora nunca lhe escreve. A boa irmã sofre, ainda que raramente o seu espírito reflicta algum pequeno desalento. Nunca o Sol se põe sem que o bom Deus a console. Graças a Ele, todas as nossas negras são devotas e de bons costumes. Nós poderíamos deixá-las num quartel à mercê dos soldados: morreriam mártires. Mas há uma ou outra que de vez em quando perde a cabeça e durante esse tempo mostra-se ingrata. É então que a Irmã Maria e eu sentimos menos coragem e ela diz: «É triste ser pagos com a ingratidão!» Mas isso passa depressa.


[2010]
Em mais de cem cartas, que as negras escreveram para Verona às suas antigas directoras, fazem mil elogios das Irmãs e especialmente da Ir. Maria e da Ir. Madalena e declaram expressamente que nas freiras encontraram verdadeiras mães. Rev.da madre, sabe bem que isto acontece nas missões e nas comunidades. De resto a Ir. Maria está muito bem. É difícil poder encontrar duas irmãs tão bondosas, tão devotas e tão pacientes como as irmãs Maria e Madalena. Esta última é um anjo: muito piedosa, muito dócil, muito sacrificada e sempre alegre e satisfeita. Sem ela saber, adoram-na a superiora e as negras. A Ir. Madalena é o retrato de S.to Estanislau Koska. Portanto permita-me rogar-lhe que não sonhe jamais retirar-me estas duas dignas irmãs. Acompanharam a obra nos momentos mais difíceis e estou muito interessado em conservá-las para sempre. Escreva, por favor, às duas uma bonita carta: consideram-na a si como a Jesus Cristo.


[2011]
Posto como princípio que estas duas irmãs, sóror Maria e sóror Madalena, permanecem no meu instituto, porque me é impossível encontrar duas religiosas mais generosas, encomendo-me à sua maternal caridade para obter uma irmã árabe, que seja altruísta e esteja bem preparada para ler e escrever árabe. Precisa-se de uma professora indígena que seja religiosa. Será útil para as negras e também para sóror Maria e sóror Madalena. Além disso falta uma irmã para a limpeza. A Ir. Maria faz muito. É muito organizada e asseguro-lhe que nas condições em que nos encontrámos até fez de mais; porém, não pode estar em toda a parte. Se a madre pensasse que a Ir. Verónica serviria bem, eu ficaria feliz em recebê-la em nossa casa. Somente faço a seguinte observação: sóror Maria é muito humilde, não tem interesse em ser superiora. Contudo penso que não convém tirar-lhe o cargo de superiora, salvo quando a madre puder conceder-nos uma superiora entre as de mais idade do instituto, como, por exemplo, a superiora do Hospital de Jerusalém, a madre assistente, etc. Enfim, deixo isso ao seu critério. Pense, minha madre, seria adequada para o nosso instituto essa santa religiosa, a superiora actual do Hospital de Jerusalém? Ela é bastante idosa e está cansada. No Cairo Velho há uns ares magníficos e para ela seria um descanso. Sóror Maria e as jovens negras têm-lhe grande veneração. A sua presença far-nos-ia imenso bem. O instituto do Cairo Velho está a tornar-se muito importante. Sob a sua direcção, sóror Madalena chegaria a ser uma superiora muito capacitada para dirigir as outras casas para negras que penso fundar.


[2012]
Tudo considerado, com as minhas receitas fixas actuais, posso assegurar-lhe para sempre: 1) casa paga e mobilada; 2) quatro mil francos por ano. Com um pouco de esforço poderia aumentar muito esta soma. A senhora sabe que as negras trabalham. Pois bem, se aceitar por agora estas modestas condições, nós alegrar-nos-íamos por interferirmos apenas na direcção espiritual, desinteressando-nos de outras coisas, sobretudo da administração que nos tira tempo. Se lhe parecer bem que nós acertemos isso, eu encarrego-me de levar a cabo em pouco tempo todas as diligências perante monsenhor o delegado. Naturalmente há que dirigir as negras para que cheguem a ser apóstolas na sua nação com base no meu Plano, que é reconhecido por mons. o delegado e por todos como o sistema mais adequado para evangelizar a África Central. Enfim, minha madre, venha em minha ajuda. A Ir. Isabel está em nossa casa. Sóror Maria não tem nenhuma observação a fazer; fica com muito prazer com as jovens negras. Sobre esta irmã (que quanto ao demais é boa) só falaremos depois de termos acertado o assunto da freira árabe e do que acabo de dizer. A superiora actual do hospital parece-me muito bondosa, prudente e religiosa. Lamento muito a partida da Irmã Eufrásia, a assistente. A nossa madre Catarina Valério, de Verona, franciscana, está em Jerusalém. Não posso dizer-lhe nada acerca do que fará. Naturalmente, não me é possível contar com uma só religiosa. Não posso prever no momento presente o que decidirão dela, porque não conheço as suas intenções. Também o P.e Estanislau e o P.e José estão em Jerusalém.

Aceite as felicitações para estas festas e os melhores votos para o ano novo, que todos nós lhe mandamos. Faça-os chegar da nossa parte também à Ir. Celeste, à Ir. Rafaela e a todas.



Seu devot.mo filho

P.e Daniel Comboni

Original francês

Tradução do italiano






339
P.e Joaquim Tomba
0
Cairo
25.12.1869

N.o 339 (319) - AO P.e JOAQUIM TOMBA

AMV, Cart. «Missione Africana»

V. J. M. J.

Cairo, 25 de Dezembro de 1869

Meu caríssimo P.e Joaquim,

[2013]
Não quero deixar que Bajit parta sem ter escrito uma linha para lhe desejar a si e aos institutos masculino e feminino muitas felicidades nestas festas e no ano novo. Não lhe dou notícias minhas, pois saberá tudo por Bajit. Só me encomendo às suas orações e às de todas e de todos os do instituto. Com a graça de Deus, as nove alunas do insto. de Verona, sem exceptuar nenhuma, vão bem e são verdadeiramente boas. E ainda que de quando em quando, isso sim, alguma delas sofra algum desnorte passageiro, mostram-se alegres e entusiasmadas com a missão. Distinguem-se entre as demais Zenab, Justina, Quascé, Caltume e Zarifa, mas a melhor de todas talvez seja Luísa, pela sua sensatez, e também Domitila. Nos três institutos há 42 bocas para alimentar, o que me dá quebreiras de cabeça; porém, vejo que é certo o que dizia o nosso chorado velho, isto é, que Cristo é um cavalheiro e não um trapaceiro.


[2014]
Parece-me ter a obra bem alicerçada em África, enquanto na Europa me resta ainda muito caminho para percorrer; mas chegarei. Fiz um pacto com o meu ecónomo S. José, ou melhor, dei-lhe um ultimatum: em três anos quero absolutamente cem mil táleres, a bem ou a mal. Penso que Beppo irá pensar e acabará cedendo. No primeiro ano levá-lo-ei às boas, como se faria com uma menina; no segundo ano entrarei pela política, recorrendo à via diplomática; e se, ao fim de dois anos, não me tiver dado mais de metade daquilo que lhe peço, então será forte e feio... logo veremos. Peça também a este bom velho que me ajude, pois da minha parte mais de uma vez lhe aqueci as orelhas para que o ajudasse a si.


[2015]
Devo recordar-lhe que eu sou membro da Associação de S. Carlos, e por força disso, todo o membro do Insto. Mazza que morrer tem direito a uma missa dos demais que ainda vivem. Advirto-o, pois tenho absoluto e pleno direito de pertencer a ela e de obter, à minha morte, as missas de todos os que me sobreviverem, tendo eu já celebrado missa por todos os já falecidos. Por isso, peço-lhe que, quando morrer alguém, me avise, para eu celebrar a missa, escrevendo-me para o Cairo, de onde a carta me será enviada para qualquer ponto do planeta onde eu me encontrar.

Saúde da minha parte Trenaghi, P.e Donato, P.e Fochesato, P.e Beltrame, Betta, a mamã Regina, a tia Zara e todos e todas e apresente os meus cumprimentos a P.e César Cavattoni.

Nos Sagdos. Corações de Jesus e de Maria



O seu hum. e af.mo servidor

P.e Daniel Comboni






340
Assinaturas de missas
1
Cairo
1869
N.o 340 (320) - ASSINATURAS DAS MISSAS CELEBRADAS

NA IGREJA DOS INSTITUTOS DO CAIRO

(do registo de missas)