Segunda-feira, 9 de Junho de 2025
«Na festa do Sagrado Coração de Jesus deste ano, queremos fazer-nos “peregrinos da esperança”: um título que resume o coração da nossa vocação comboniana. O Coração de Jesus – do qual nos orgulhamos de ser “filhos” – fala-nos de um amor que é simultaneamente dom gratuito e força dinâmica, capaz de transformar a nossa vida e as nossas comunidades.» (O Conselho Geral)

A esperança é um coração trespassado

O mundo pode mudar a partir do coração
«Só a partir do coração é que as nossas comunidades serão capazes de unir e pacificar os diferentes intelectos e vontades, para que o Espírito nos possa guiar como uma rede de irmãos, porque a pacificação é também uma tarefa do coração. O Coração de Cristo é êxtase, é saída, é dom, é encontro. N’Ele tornamo-nos capazes de nos relacionarmos uns com os outros de forma saudável e feliz, e de construir neste mundo o Reino de amor e de justiça. O nosso coração unido ao de Cristo é capaz deste milagre social.» (Dilexit nos, 28)

Estimados confrades,
Na festa do Sagrado Coração de Jesus deste ano, queremos fazer-nos “peregrinos da esperança”: um título que resume o coração da nossa vocação comboniana. O Coração de Jesus – do qual nos orgulhamos de ser “filhos” – fala-nos de um amor que é simultaneamente dom gratuito e força dinâmica, capaz de transformar a nossa vida e as nossas comunidades.

A Palavra de Deus diz-nos que o amor de Deus é derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5, 5). A esperança – que é também a mensagem central do Jubileu 2025 – nasce do amor e baseia-se no amor que brota do Coração trespassado de Jesus, na Cruz: “Se, de facto, quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela morte de seu Filho, com muito mais razão, uma vez reconciliados, havemos de ser salvos pela sua vida” (Rm 5, 10).

É este amor que nos torna missionários: não uma escolha exterior, mas uma força interior que sustenta o nosso serviço. Estamos chamados a tomar a peito o sofrimento dos outros, a partilhar o pão da esperança com os pobres, os doentes, os excluídos. Quando o mundo parece dominado pela guerra, pela injustiça, pelas alterações climáticas ou pela indiferença, o Coração de Jesus recorda-nos que a verdadeira revolução começa no coração daqueles que acreditam.

São Daniel Comboni viu no Coração trespassado de Cristo a fonte do seu empenho em África. Na “chama divina” que aquece o coração do apóstolo, encontramos o modelo do missionário: humilde em acolher a orientação do Espírito, corajoso em propor a Boa Nova, generoso em deixar cada “miserável interesse humano” para abraçar toda a humanidade e fazer “causa comum” com cada pessoa marginalizada. (Cfr. Escritos, 2742-2753)

Ser “peregrinos da esperança” não é um título de fachada, mas um caminho contínuo. A esperança que não desilude (cfr. Rm 5, 5) renova-se todos os dias no olhar de quem encontra o Senhor nos seus irmãos e irmãs. Mesmo nas grandes crises – guerras que não acabam, fome, migrações forçadas, crise ambiental – podemos semear a ternura, construir pontes, acolher o outro como um dom.

Os símbolos da água e do sangue que brotam do lado de Cristo (Jo 19, 34) recordam o Baptismo e a Eucaristia, os sacramentos que dão forma à Igreja. Deste Coração trespassado nasce uma família maior à qual estamos unidos. No mistério pascal, encontramos a força para renovar o nosso compromisso: “Quem tem sede, venha a mim… e sacie a sua sede... Hão-de correr do seu coração rios de água viva” (Jo 7, 37-39).

Como São Tomé, que, ao tocar as chagas de Cristo, exclamou: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20, 28), também nós somos chamados a ir mais além da nossa capacidade humana. A fraqueza torna-se força quando é atravessada pelo amor redentor. Esta experiência querigmática – primeira, única e fundante – é a raiz do anúncio comboniano.

Vivemos numa época marcada por divisões e medos. Crescem os nacionalismos, constroem-se muros, criminalizam-se os imigrantes. No entanto, o Coração de Jesus ensina-nos a tecer laços fraternos, a reconhecer a dignidade de cada pessoa e a cuidar da criação. Isto não é uma utopia: é a via concreta da caridade que tudo transforma.

Este Coração não é um conceito abstrato, mas uma realidade a ser vivida. Convida-nos a opções radicais em favor dos “mais pobres e abandonados”, à corresponsabilidade, a uma fraternidade que se torna sinal de uma nova humanidade. Cada gesto de acolhimento, cada projecto de desenvolvimento integral, cada oração de intercessão parte desse Coração e a ele regressa.

Deixemo-nos guiar pelas “razões da esperança” que brotam do Coração de Jesus para aceitar com confiança a tarefa de “peregrinos de esperança”, capazes de viver o futuro como uma promessa e de o realizar como uma nova fraternidade.

O grande poeta e ensaísta francês Charles Péguy escreveu: “A fé que prefiro – diz Deus – é a esperança. A esperança é desabituar-se... não cair no hábito”. Estamos chamados a manter vivo o ânimo, a não dar por garantido o caminho da fé. Animadas pelo Espírito, as nossas comunidades tornam-se lugares de renascimento, onde cada um encontra um novo sentido para a sua vida. A nossa esperança está no Coração de Jesus. Com Ele aprendemos a construir relações saudáveis e felizes e a contribuir para o nascimento de um Reino de amor e de justiça.

Caríssimos confrades, o Coração de Jesus é uma fonte inesgotável de amor e de esperança. Tornemo-nos seus guardiões, testemunhas e obreiros incansáveis. Que esta festa reavive em nós o desejo de sermos peregrinos de esperança, capazes de construir a fraternidade e a justiça, até podermos celebrar juntos o banquete do Reino.

Boa festa do Sagrado Coração de Jesus!
Unidos na oração e no serviço,

O Conselho Geral

Roma, 1 de Junho de 2025,
158° Aniversário da Fundação do Instituto