Quinta-feira, 10 de julho de 2025
João Paulo II surpreendeu o mundo quando, em 1990, publicou uma ousada e original mensagem para o Dia Mundial da Paz: “Paz com Deus Criador, Paz com toda a Criação”. O Papa Francisco, 25 anos depois, publicou a Laudato Si’, sobre o cuidado da casa comum. Para celebrar estes dois textos inspiradores, o Papa Leão XIV aprovou a nova fórmula de orações para a Missa pela Proteção da Criação. Numa conferência de imprensa, a 3 de julho, foi publicada esta notícia, acompanhada de explicações relevantes. [Foto Vatican Media/SIR]
Esta é a 50ª Missa para “diversas necessidades e ocasiões” que constam no Missal Romano. Junta-se às 20 que dizem respeito à Igreja, às 17 relativas a necessidades civis e às 12 para diversas circunstâncias. A razão mais profunda desta Missa pela proteção da Criação reside no facto de o mundo viver numa situação de grave crise ecológica e ambiental.
O Papa Leão XIV celebrou, oficialmente, a 9 de julho, a primeira missa seguindo este formulário. Simbolicamente escolheu o Borgo Laudato Si', criado nos Jardins de Castelgandolfo em 2023. Assim, estando em férias nesta vila junto ao Lago Albano, Leão XIV presidiu à missa campal (na “catedral natural”, assim chamou!) alertando para a necessidade de cuidar da Criação. Começou, num improviso, por pedir orações pela conversão de quantos, dentro e fora da Igreja, ainda não reconhecem a urgência de cuidar da casa comum. Considerou urgente esta conversão, num tempo em que muitos desastres são, em parte, causados pelos excessos do ser humano, com o seu estilo de vida.
Quis Leão XIV que esta celebração fosse um momento familiar e sereno, mas a acontecer “num mundo que arde, tanto pelo aquecimento global como pelos conflitos armados, que tornam tão atual a mensagem do Papa Francisco nas suas encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti”.
O Evangelho que apresenta Cristo a acalmar a tempestade aponta para a confiança num Deus que “domina as forças diante das quais as criaturas se sentem perdidas”. Lembrou o Papa: “A nossa missão de guardar a Criação, de levar-lhe paz e reconciliação, é a sua própria missão: a missão que o Senhor nos confiou. Ouvimos o grito da terra, ouvimos o grito dos pobres, porque este grito chegou ao coração de Deus. A nossa indignação é a sua indignação, o nosso trabalho é o seu trabalho.”
Os desafios ecológicos são enormes e os adversários são muitos, alicerçados em interesses altamente rentáveis. Mas – lembra o Papa – “a aliança indestrutível entre o Criador e as criaturas, de facto, mobiliza a nossa inteligência e os nossos esforços, para que o mal se transforme em bem, a injustiça em justiça, a ganância em comunhão”. Tal exige um olhar contemplativo. Só este “nos pode fazer sair da crise ecológica que tem como causa a rutura das relações com Deus, com o próximo e com a terra, por causa do pecado”.
Naqueles belos e simbólicos jardins do palácio papal de Castelgandolfo, o Borgo Laudato Si pretende ser um espaço de formação e conscientização sobre os temas da proteção da Casa Comum, confiado ao Centro de Ensino Superior Laudato Si', um organismo científico, educativo e de atividade social. Neste Borgo tenta-se aplicar os princípios gravados nesta encíclica social. Quando Leão XIV visitou, a 29 de maio, pela primeira vez, Castelgandolfo, quis conhecer de perto esta iniciativa e ficou muito agradado com ela. Daí ter decidido celebrar ali a primeira Missa pela Proteção da Criação.
No final da homilia, o Papa disse: “O Borgo Laudato Si', onde nos encontramos, quer ser, por intuição do Papa Francisco, um ‘laboratório’ no qual se pode viver aquela harmonia com a criação que é, para nós, cura e reconciliação, elaborando formas novas e eficazes de proteger a natureza que nos foi confiada’. E, como bom agostiniano, Leão XIV concluiu com uma frase célebre dos escritos de S. Agostinho: “Ó Senhor, as tuas obras te louvam para que te amemos, e nós te amamos para que as tuas obras te louvem!” Os votos finais são estimulantes: “Que esta seja a harmonia que espalhamos pelo mundo.”