Terça-feira, 9 de dezembro de 2025
Pela primeira vez, a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP) foi à Amazônia, um dos biomas mais importantes e ameaçados no mundo. A confluência das águas até a foz do Rio Amazonas juntou povos do mundo inteiro, com destaque para um protagonismo indígena cada vez mais consciente e organizado. (...)

A Família Comboniana que se reuniu nesta ocasião destacou: “Deu-nos esperança compartilhar a vida e os sonhos desses povos: em Belém, sentimos forte o cheiro da missão!”. Setenta mil pessoas participaram da Marcha Global pelo Clima, cobrando decisões efetivas, abandono dos combustíveis fósseis, proteção dos territórios, das florestas e da vida das comunidades, financiamentos para o Sul Global.

A Cúpula dos Povos reuniu mais de mil organizações e fortaleceu estratégias e processos populares por justiça ambiental e social. Assim mesmo, pela força do lobby das corporações e a conivência de muitos governos, os resultados da COP foram mais uma vez muito abaixo da necessidade imposta pela crise climática.

Nesse breve artigo, sem poder aprofundar os temas acima, queremos partilhar as razões da presença na COP da Família Comboniana, um grupo de cerca de 40 irmãs, seculares, leigas e leigos, irmãos e padres inspirados no carisma de São Daniel Comboni. O faremos a partir de três verbos, que talvez sirvam também para outros grupos ou pessoas.

Maritza Rodríguez Pacheco, LMC da Costa Rica

Aprender

É cada vez mais evidente que o grito dos pobres se une àquele da Terra, não tem mais como separá-los. Esse grito interpela nossa vocação de cristãos, amantes e defensores da vida plena para todos: por isso, hoje, a missão do cuidado chama-se Ecologia Integral, assim como a entende o magistério da Igreja, na encíclica Laudato Si’.

Uma Igreja que se fez presente com força, na COP30: participaram, durante vários dias, 9 cardeais, mais de 40 bispos, dos 5 continentes, e mais de 1000 representantes de pastorais sociais e comunidades católicas. A Igreja veio à COP não só com propostas, mas também com perguntas: “Qual pode ser nossa contribuição? Que aporte podemos oferecer a partir da espiritualidade e do Evangelho?”. Partilhar com pessoas e grupos tão diversos permite alcançar uma leitura da realidade mais completa, e também provoca à conversão, ao perceber que nossa religião em vários modos separou as criaturas do Criador, o fim dos tempos do tempo sagrado do cuidado de cada dia.

Nas ruas e nos debates, nas oficinas, nos cantos e nos momentos orantes, em Belém, consolidamos caminhos interreligiosos, convencidos que a ética, as espiritualidades e as culturas têm a força para transformar o mundo. Caminhamos junto aos movimentos sociais, renovando no concreto de suas causas quanto foi celebrado recentemente no Jubileu e no Encontro dos Movimentos Populares: de Roma a Belém, a celebração se fez compromisso!

Aliar-se

Num tempo de grave crise do multilateralismo e da democracia, com desafios cada vez maiores para a garantia da paz e da justiça social no mundo, todos nos sentimos pequenos e impotentes. Às vezes até divididos, ou isolados em ações autorreferenciais. Como é importante, então, manter alianças consolidadas! Em Belém celebramos 25 anos de história de Vivat International, que agrega 13 congregações religiosas -entre elas combonianas e combonianos- para tornar mais eficazes as estratégias de incidência política.

Unimo-nos à família franciscana, que celebrava os 800 anos do Cântico das Criaturas, visão revolucionária que São Francisco nos deixou como herança sagrada. Refletimos e relançamos o Documento da Igreja do Sul Global por Justiça Climática e Cuidado da Casa Comum, que teve como porta-vozes os três cardeais presidentes das conferências continentais de Ásia, África e América Latina e Caribe. Finalmente, de diversas formas, renovamos nossa aliança com os povos originários, em defesa de suas vidas e culturas, convencidos que a história do clima se muda a partir dos territórios.

Planejar

O compromisso da Família Comboniana pela Ecologia Integral está se consolidando há alguns anos em nossa reflexão sobre a missão. O Capítulo dos Missionários Combonianos em 2022 assumiu a Ecologia Integral como um eixo fundamental da missão, conectando as dimensões pastoral, litúrgica, formativa, social, econômica, política e ambiental.

O encontro de nossa Família, em Belém, avançou nessas pegadas, relançando algumas propostas: qualificar a ecologia integral como linha de formação de base e permanente, aderir com mais força às principais iniciativas que a Igreja está assumindo, renovar o Pacto Comboniano pela Casa Comum na espiritualidade e nos compromissos, consolidar a incidência política dos combonianos a partir dos territórios, fortalecendo o protagonismo das comunidades, seus sonhos e suas culturas.

São Paulo, escrevendo aos Romanos, deu voz à Criação inteira e disse que ela “geme e sofre dores de parto até agora” e “espera com impaciência a manifestação dos filhos de Deus” (Rm 8, 19.22). O clamor é tão forte que não temos mais tempo para esperar: está na hora de nos manifestar como filhos e filhas do Pai, que criou a fraternidade universal, entre todas as criaturas. Laudato Si’!

Padre Dario Bossi, mccj