In Pace Christi

Celadon Giulio

Celadon Giulio
Data de nascimento : 09/01/1935
Local de nascimento : Minerbe/Italia
Votos temporários : 09/09/1956
Votos perpétuos : 09/09/1959
Data de ordenação : 02/04/1960
Data da morte : 16/11/2020
Local da morte : Castel d’Azzano/Italia

O P. Giulio nasceu a 9 de Janeiro de 1935 em Minerbe, província de Verona, numa família marcada pelo trabalho e pela fé. Fez o noviciado em Florença, onde emitiu os primeiros votos a 9 de Setembro de 1956, festa de São Pedro Claver. Depois dos estudos de Teologia em Venegono Inferior, fez os votos perpétuos a 9 de Setembro de 1959 e foi ordenado sacerdote a 2 de Abril de 1960. O seu primeiro cargo foi o de formador no seminário menor de Pellegrina (província de Verona). Dia 1 de Julho de 1961 foi destinado à comunidade de Pordenone como promotor vocacional e animador missionário no Friuli-Venezia Giulia. Três anos depois abriram-se-lhe os horizontes da missão e foi destinado ao México, para São José do Cabo, como vice-pároco.

«Tinha 29 anos quando chegou à Califórnia mexicana – escreve o P. Rafael G. Ponce no seu testemunho – e não podia imaginar que haveria de passar 47 anos na América Latina (México, Equador e Colômbia) repartindo quase equitativamente o seu trabalho entre a promoção vocacional, a animação missionária e a pastoral entre a gente pobre. Durante todos estes anos nunca mudou o seu estilo de simplicidade evangélica, com o seu sorriso discreto; embora pudesse passar quase despercebido, as suas convicções de fé eram muito profundas, assim como as raízes da sua vocação sacerdotal missionária comboniana. Conheci-o quando eu era um jovem seminarista e perguntava-me como é que usava sempre a mesma roupa; depois descobri que tinha feito uma opção de pobreza radical e só tinha duas mudas de roupa da mesma cor. Este detalhe estava em sintonia com o seu modo de ser promotor vocacional: inteiramente centrado na pessoa de Cristo e pôr em prática o evangelho».

O México ocupou um grande lugar no seu coração. Rapidamente foi enviado para o seminário de São Francisco del Rincón, como promotor vocacional, onde se dedicou com todas as energias à sua tarefa até 1 de Julho de 1972, quando o chamaram para Guadalajara como formador no seminário comboniano. Em 1978, os Superiores pediram-lhe que mudasse de país e mandaram-no para o Equador, para a província de Esmeraldas, na costa do Pacífico, para servir na paróquia de Quinindé como vice-pároco. Uma zona em plena expansão social e económica dado o fenómeno da migração interna. Sendo uma terra fértil e rica em bosques, era cobiçada por colonos de várias regiões do país, especialmente provenientes das províncias de Pichincha, Manabi e Loja. Não era fácil chegar às aldeias espalhadas na selva e ao longo dos rios e às zonas colonizadas. Mas o P. Giulio, sempre sereno e feliz, generoso e disponível, desdobrava-se e o sector rural foi bem acompanhado espiritualmente.

Em 1982 a obediência pediu-lhe o serviço de pároco na maior cidade do Equador, Guayaquil, também ela meta de migrantes que da serra iam engrossar os bairros pobres da periferia. O P. Giulio foi encarregado de promover a paróquia do Coração Imaculado de Maria numa área de «invasão» por parte de tanta gente que não tinha terreno para construir uma casa. Era impressionante ver os pobres ocupar os terrenos carregando quatro estacas e estendendo uma tela de plástico por cima e pelos lados, ou canas, ou algumas velhas chapas de zinco e começavam a viver ali. Os problemas chegavam com a estação das chuvas, quando a zona se tornava um pântano. Muitos viviam na casa inundada pelas águas sobre algumas tábuas presas ao tecto ou, debaixo, caminhando por cima de tijolos ou pedras. O próprio P. Giulio, que vivia na casa comboniana de Guasmo, que também servia de igreja, todos os dias para ir à paróquia muitas vezes tinha de usar uns calções curtos por causa dos charcos. Com o seu sorriso sempre acolhedor conseguiu atrair as gentes e formar uma comunidade paroquial viva, activa e solidária. O segredo do seu «sucesso» na catequese era a insistência sobre a Palavra de Deus como luz para a vida quotidiana.

Muitas vezes, à noite, chegava tarde e para comer arranjava-se com o que encontrava, com um bom apetite, que nunca lhe faltou! Em comunidade era serviçal, fazia as compras e desempenhava também o cargo de ecónomo.

De 1988 a 1989 foi vice-pároco em Esmeraldas, na paróquia de San José Obrero e, de 1990 a 1993, vice-pároco de Quinindé. Em 1994 encontrámo-lo em Guayaquil, na sede do centro afro-equatoriano, para o ministério e animação missionária, até 1998, quando foi destinado à Colômbia, no centro de animação missionária de Cali.

Durante algum tempo foi também encarregado do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, contíguo à casa comboniana. Em Junho de 2004, os superiores enviaram-no para Aguachica, diocese de Ocaña, na região do Meta, onde os combonianos tinham aberto recentemente uma paróquia. A situação social desta vasta zona agrícola era complicada devido à presença das FARC, grupo guerrilheiro que disputava o território com grupos paramilitares, tornando a vida difícil a campesinos e criadores de animais. E às poucas indústrias. A realidade era marcada por mortes e massacres de camponeses, actos ilegais e forças militares. A obra de evangelização no meio da violência era realmente complicada e exigia nervos de aço, prudência e profecia.

Em 2005, o P. Giulio foi chamado para o postulantado de Medellín, encarregado de animar uma Igreja rica de vocações sacerdotais e religiosas, mas em geral dobrada sobre si mesma.

Em 2008 foi mandado para a sede provincial, em Bogotá, para exercer o mesmo ministério. Depois, até 2010, encontrámo-lo em Cali, empenhado na pastoral e na animação missionária.

Mas as forças começavam a fraquejar. De acordo com a opção do grupo comboniano de deixar o centro da cidade, foi para o bairro definido como «vermelho» pela pobreza e a violência, dominado por bandos de vendedores de droga e sicários. 

Todos os dias, o P. Giulio colocava-se diante da igreja, na praceta onde passavam as pessoas, ficando à disposição de quantos desejassem falar, desabafar, chorar os seus mortos. Tinha uma palavra de conforto e de fé para cada um. Um serviço precioso, de pastor com «o cheiro das ovelhas», diria o Papa Francisco. Mas o ambiente insalubre, pouco a pouco, minou os seus delicados pulmões e, depois de ter feito de tudo para se curar, teve de resignar-se a repatriar definitivamente em 2012.

Uma vez restabelecido, não se resignou à situação de reformado e, destinado à comunidade de Milão, trabalhou na animação missionária. Em 2015, a sua saúde voltou a debilitar-se e teve de aceitar retirar-se como idoso e doente, primeiro para Verona e depois para Castel d’Azzano,
onde passou o tempo na oração e na escuta da Palavra. E foi aqui que o coronavírus o apanhou e lhe provocou a morte, a 16 de Novembro de 2020.

Durante uma das minhas visitas, quando lhe perguntei qual o segredo da sua serenidade, respondeu-me: «confiar-se ao Senhor e sorrir sempre». Agora está na companhia de São Daniel Comboni e de tanta gente encontrada no seu caminho da Itália ao México, ao Equador e à Colômbia.

A paixão pela missão foi a sua força, radicada no coração de Jesus e no amor aos últimos, nos quais serviu Jesus.