In Pace Christi

Macram Max Gassis nasceu a 21 de Setembro de 1939 em Cartum, filho de Max Habib Gassis e Fahima Girgis. O pai é um católico, membro de uma família originária de Aleppo (Siria), ao passo que a mãe pertence a uma família copto-ortodoxa de Luxor (Norte do Egipto), transferida para Genetti, uma povoação do Delta do Nilo.

Macram começa a frequentar as escolas combonianas em Cartum. Muito cedo começa a dizer que quer ser padre, e o seu professor de matemática, Padre Giacomo Mosciatti, encoraja-o. Mas é o encontro com o arcebispo de Cartum, Agostino Baroni, que o convence a dar o passo.

Para a formação, em Julho de 1955, Macram é enviado para Sunningdale, no noviciado comboniano.

A 9 de Setembro de 1957, emite os primeiros votos e inicia os estudos de Teologia. Dois anos mais tarde, vai para Verona para continuar o escolasticado. Em 1960 está em Venegono Superior (Varese) para os últimos anos de Teologia. A 9 de Setembro de 1963 faz a profissão perpétua e a 28 de Junho de 1964, na paróquia “Templo Votivo”, o cardeal Krikor Bedros XV Aghagianian, prefeito de Propaganda Fide, ordena-o sacerdote, na presença dos seus pais.

No final de Julho, volta para Cartum e a 15 de Agosto celebra a sua primeira missa solene na catedral da cidade. Imediatamente depois é destinado à paróquia de Wad Medani como pároco. Dois anos depois, é chamado de novo a Cartum, para a residência episcopal, encarregado da comunidade católica de Gedaref. No dia 1 de Julho é chanceler episcopal, capelão dos estudantes universitários e director espiritual da sociedade de São Vicente e da Legião de Maria.

No início da década de Setenta, o Padre Macram visita várias vezes os Estados Unidos para recolha de fundos.

Nomeado secretário-geral da Conferência dos Bispos Católicos do Sudão (SCBC), empenha-se de imediato em encontrar um terreno em Cartum para aí construir a sede do Secretariado. O Padre Macram goza de boas relações com muitos expoentes do Governo; procura também tecer boas relações com o Islão e não hesita em empregar muçulmanos no seu Secretariado.

A 4 de Outubro de 1983, é nomeado pela Santa Sé Administrador Apostólico de El Obeid. A 12 de Março de 1988, o Papa João Paulo II nomeá-lo-á bispo de El Obeid. Naquela ocasião, o Padre Tarcisio Agostoni, superior geral, entregará ao bispo Macram a cruz peitoral de São Daniel Comboni, uma preciosa relíquia conservada pelos Combonianos em Verona, considerando apropriado que a relíquia do santo primeiro bispo do Sudão vá para o primeiro bispo norte-sundanês.

Quer como administrador apostólico, quer como bispo, D. Macram consegue reorganizar e desenvolver a diocese. Reabre as paróquias de Nyala e El-Fasher, no Darfur, a paróquia de El-Nahud, em Kordofan, e reconstrói a de Mading Achweng, em Abyei. Reabre também a paróquia de Abyei; abre uma nova paróquia nos Montes Nuba, em Heiban, e incrementa o número das capelas em toda a zona. Em 1987 constrói uma escola de língua árabe em El-Nahud – para o pessoal da igreja que não está familiarizado com esta língua e com a cultura sudanesa – e, de seguida, também inúmeros consultórios médicos e centros de saúde.

D. Macram distingue-se também pelo seu papel profético através de corajosas denúncias públicas contra as injustiças e as violações dos direitos humanos. Como único bispo de língua árabe na Conferência Episcopal, tem numerosos encontros com os representantes do Governo. Todavia, a um certo momento, o regime começa a apresentar reclamações contra D. Macram precisamente pelas suas iniciativas na defesa da população cristã do seu país, apelando ao governo de Cartum para que respeitasse os direitos humanos. Devido a estes seus empenhamentos, o bispo é distinguido com diversos prémios na Europa e América. Em 1988, está mesmo entre os candidatos propostos para o Prémio Nobel da Paz!

Em 1990, parte para uma viagem ao estrangeiro. Em 1991 um membro cristão da junta militar “informa” a Santa Sé que D. Macran Gassis «não deve regressar ao país», pois é considerado «persona não grata».

De 1992 a 1995, durante quatro anos consecutivos, é hóspede da Comissão para os Direitos Humanos das Nações Unidas em Genebra, e as suas intervenções tocam a consciência de quem está presente. Recebe outros prémios. Mas a ausência forçada da diocese de El Obeid por parte de D. Macram leva a Santa Sé a prover a diocese de administradores apostólicos. 2018 é um ano particularmente doloroso para D. Macram, que sofre de problemas de saúde. Em 2020 e 2021 submete-se também a vários exames médicos.

De 14 a 21 de Agosto de 2021, está na parte alemã da Suíça a convite da associação “Ajuda à Igreja que Sofre”, celebra missas e tem encontros em numerosas paróquias. Ainda em 2021, John Ashworth, um missionário leigo inglês que trabalhou com ele durante quase quatro décadas, publica o livro An Angry Shepherd (“Um pastor zangado”) na Paulines Publications Africa-Nairobi, no qual relata a vida de D. Macram, «um bispo sudanês que combateu a escravatura, a perseguição religiosa, a fome forçada e os homicídios em massa num país, o seu, que sofreu também durante muitos anos de guerra civil […], um pastor que conheceu todo o tipo de sofrimento e pôs em jogo a sua vida em inúmeras ocasiões por amor do seu povo».

No final de Maio de 2022, D. Macram chega a Pregnana Milanese junto da família de Sergio Rossetti, que conheceu quando era jovem padre e junto da qual desde há muitos anos passa longos períodos. Mas a sua saúde é muito crítica. Depois do Natal de 2022, o sobrinho leva-o para a sua casa, em Mechanicsburg, Pensilvânia. A 4 de Junho de 2023, rodeado do amor e dos cuidados dos familiares, D. Macram morre, aos 84 anos de idade.

Em Pregnana Milanese, El Obeid, Cartum, Juba, Rumbek, Nairobi, Washington, Nova Iorque, Milão, Roma, Florença… celebram-se missas em seu sufrágio. As exéquias têm lugar a 13 de Junho na igreja de Santa Teresa em New Cumberland, presididas por D. Ronald William Gainer, bispo emérito de Harrisburg. A urna foi deposta no cemitério local, no sector reservado aos sacerdotes. (Padre Franco Moretti, mccj)