Quarta-feira, 14 de Maio de 2025
«AlhamdulillahAlhamdulillah! Bendito seja Deus! Bendito seja Deus!», repetem vezes sem conta a professora beduína e o seu marido, enquanto olhamos para os restos carbonizados daquilo que foi a casa deles. Ela estava a cozinhar com a tia. Tinha deixado a máquina de lavar a trabalhar. O calor abrasador, as chapas de zinco sobreaquecidas... bastou um mau contacto. Em poucos minutos, o fogo tudo devorou.

A casa, no meio da aldeia beduína, ficou completamente destruída. O marido mostra-nos o motor carbonizado da máquina de lavar: é o que resta. A família, com os quatro filhos, vive agora com uma tia. O vestido usado pela professora foi-lhe emprestado pela irmã. Todos os seus pertences foram consumidos pelas chamas.

«Não conseguimos salvar nada», murmura. E, no entanto, repete com uma fé serena: “Alhamdulillah, estamos bem».

Eles já tinham tão pouco e perderam tudo.

«Graças a Deus, estávamos fora», explica a professora. 

Acena silenciosamente com a cabeça, o rosto marcado pela tristeza. 

Alguns dias antes, tínhamos-lhes oferecido sapatos novos que amigos tinham doado para famílias beduínas: um par para ela e outro para a filhita de dois anos. 

Porém, foi a filha mais velha quem sofreu mais. A mãe conta-nos que, quando ela chegou da escola, encontrou a sua casa em chamas e ficou em choque.

Felizmente, os bombeiros conseguiram chegar a tempo e evitaram que o fogo se propagasse às casas vizinhas. Esta é a aldeia mais próxima de Betânia, encravada entre dois colonatos israelitas na Cisjordânia. 

Bênção ou ameaça? Há meses que a comunidade está sob ordens de evacuação: as autoridades israelitas planeiam ligar os dois colonatos e a aldeia, como se não existisse, está no caminho.

Mesmo assim, a professora não perde a esperança. «Vamos reconstruir a casa!», diz, olhando para os restos carbonizados de madeira e chapas retorcidas, tão vulneráveis ao fogo. «Esperemos que fique melhor do que antes!»

Mostram-nos vídeos do incêndio. «Nem sequer quero vê-los», confessa. «Parte-me o coração.» 

Porém, mais uma vez, a sua voz eleva-se em resignação, gratidão e esperança: «Alhamdulillah!». 

E, em eco profundo, o marido repete: «Alhamdulillah!».

Ir. Cecília Sierra
Missionária Comboniana no Deserto da Judeia